OHL – Open Hearts Lisboa

AB+AC Architects projetou OHL – Open Hearts Lisboa  um centro cultural dedicado a promover inovação e self-healing através das artes: um espaço de luz e materiais naturais onde a cidade de Lisboa é convidada a desligar-se do caos urbano da vida quotidiana e, sobretudo, a construir novas conexões mais significativas, através de uma variedade de atividades que vão desde o movimento e co-criação artística, até experiências de imersão com artistas locais e internacionais.

Durante a segunda onda de Covid-19, o atelier AB+AC Architects é convidado pela ONG americana, Open Hearts, a projetar o seu primeiro centro experiencial dedicado a encontros culturais, aprendizagem holística e co-criação. A zona de intervenção do projeto localiza-se no rés-do-chão de um edifício do século XIX, numa viela estreita do bairro histórico do Bairro Alto, trazendo consigo o desafio de transformar uma unidade comercial escura e devoluta num espaço de luz capaz de evocar tranquilidade e positividade aos seus convidados.

O projecto foi inspirado no conceito sagrado de shala – uma palavra que, em sânscrito significa casa – onde as pessoas costumam reunir-se para praticar yoga, aprender e crescer. Aqui, o shala expande-se além do propósito inicial, ao ser reinterpretado como uma casa comunitária, com uma residência para a artista interna. O seu layout é pensado como uma sequência de quartos que procedem de uma experiência pública próxima à rua, desde o salão principal polivalente, seguido por uma zona de convívio onde a cozinha aberta se estende pelas escadas, até um pátio íntimo, habitado por plantas tropicais e pavimentado com seixos de pedra vulcânica. Entre as áreas públicas e privadas está o lounge, um espaço longo e estreito com um sistema de iluminação difusa que se estende por oito metros e oferece um ambiente ideal para pequenos eventos de arte e exposições individuais.

Para acentuar o plano aberto e a circulação contínua dum espaço para o outro, dedicou-se especial atenção ao desenho dos elementos das soleiras; aqui, o arco existente em calcário do edifício histórico dialoga com um portal mais contemporâneo e geométrico, revestido com painéis de madeira de bétula. Disfarçado entre esses painéis, está o acesso a uma residência de um quarto com uma casa de banho privada, onde a Open Hearts pode acomodar qualquer artista que deseje produzir e compartilhar o seu trabalho com a comunidade local.

Em geral, a organização dos espaços está focada na necessidade de flexibilidade e adaptabilidade do centro ao longo do dia. Portanto, tais soluções de projecção como ter compartimentos de armazenamento escondidos atrás de paredes de espelho de bronze, ou cortinas contínuas em couro vegan que envolvem o salão principal, permitem que o espaço se transforme em diferentes configurações adequadas a uma vasta gama de atividades como danças antigas, yoga e práticas de meditação, cursos de respiração, experiências de arte culinária, workshops de escritura criativa, exibições de filmes, exposições de arte multimédia, sessões terapêuticas individuais.

Concebido como uma resposta a um mundo acelerado onde incríveis descobertas tecnológicas coexistem com graves crises de saúde, climáticas e ambientais, o projeto do centro cultural Open Hearts quer convidar a discussão sobre formas mais conscientes de construir os espaços que habitamos. Como parte de uma pesquisa contínua do AB+AC Architects, optou-se pelo uso de materiais naturais como madeira, pedra e tintas orgânicas, unidos através da escolha de uma paleta de cores quentes, mas ao mesmo tempo minimalista. Longe do conceito ligado ao existenzminimum da Alemanha do séc. XX, os arquitetos pretendem usar a arquitetura como ferramenta para estimular uma forma organizada e equilibrada de viver, através de smart solutions de projeção que convidam o utilizador a refletir sobre o que é verdadeiramente essencial para o nosso bem-estar.

Menção Honrosa – Loop Design Awards 2021