
Portugal está já presente no C guide, com uma seleção de obras merecedoras da mais alta classificação “CCC” – projetos cuja visita justificaria, por si só, a deslocação – atribuída por um comité científico de profissionais de renome na área da Arquitetura e da História da Arte, com o objetivo de oferecer uma visão representativa da excelente produção arquitetónica do país nas últimas décadas.
A Fundación Arquitectura Contemporánea, graças ao apoio da Cosentino, lança uma nova expansão deste guia digital de arquitetura contemporânea e vocação global, desta vez dedicado à arquitetura portuguesa construída de 1975 até à atualidade. A seleção inclui habitações unifamiliares, espaços culturais, centros educativos, infraestruturas públicas, intervenções paisagísticas e edifícios institucionais, refletindo a riqueza tipológica e territorial da arquitetura portuguesa contemporânea.
‘Portugal CCC’ inicia-se cronologicamente com a obra do mestre Fernando Távora, representada com intervenções como a remodelação do Convento de Guimarães. O seu legado inaugura uma sensibilidade arquitetónica que alia o respeito pelos valores da tradição a uma vocação moderna em linguagens e programas. A partir daí, o conjunto de edifícios selecionados traça uma narrativa diversificada e coesa, que permite identificar algumas das chaves fundamentais da arquitetura portuguesa recente.
As 78 obras selecionadas distribuem-se por todo o país, desde as principais áreas metropolitanas às regiões rurais e insulares, demonstrando a extensão territorial desta arquitetura empenhada. Figuras de referência como Álvaro Siza Vieira, Aires Mateus, Eduardo Souto de Moura, Carrilho da Graça ou Gonçalo Byrne convivem nesta seleção com ateliers jovens e emergentes como Bruno Dias Arquitetura, Guilherme Machado Vaz, Studio Nicholas Burns ou Spaceworkers, num equilíbrio geracional que reflete a vitalidade do panorama português e que estará patente nos eventos de apresentação a realizar nos dias 14 e 15 de maio, no Porto e em Lisboa, com colóquios em que participarão os autores de algumas das obras destacadas. É o caso de Carlos Castanheira, Branco del Rio, João Mendes Ribeiro, Hugo Pereira ou SAMI arquitetos, que, em conjunto, debaterão o presente e o futuro da arquitetura portuguesa. Ambos os eventos serão de entrada livre, mediante inscrição prévia através dos formulários disponibilizados para o Porto e Lisboa.
Todas as obras podem agora ser exploradas no site e na aplicação do c.guide, onde estão geolocalizadas e documentadas com imagens, ligações e descrições, consolidando a plataforma como uma ferramenta de referência internacional para a divulgação da arquitetura contemporânea.
Reabilitação e sustentabilidade
Uma parte significativa das obras selecionadas consiste em intervenções em edifícios existentes, que apostam na continuidade com o passado de um ponto de vista contemporâneo. Estes projetos, enquanto preservam e transformam, registam-se numa sensibilidade sustentável que valoriza os recursos disponíveis, as raízes culturais e a memória do lugar. Destacam-se a reabilitação do Convento das Bernardas por Eduardo Souto de Moura, o Colégio da Trindade por Aires Mateus ou o Centro de Arte Contemporânea Arquipélago na Ribeira Grande.
Arquitetura e paisagem
O diálogo com a paisagem – rural ou urbana – é outra constante da paisagem portuguesa, que se manifesta tanto no respeito pelo contexto como na integração serena da arquitetura na sua envolvente. O Centro de Alto Rendimento do Pocinho, de Álvaro Fernandes Andrade, o Largo do Piódão, de Branco del Rio, ou a renovação do Chiado, em Lisboa, de Álvaro Siza Vieira, são testemunhos dessa preocupação com a escala, a topografia e o tecido histórico.
Compromisso social
A arquitetura portuguesa tem também sabido responder às necessidades sociais contemporâneas com projetos que vão desde a habitação social aos equipamentos de apoio à comunidade. O lar de idosos de Alcabideche, da Guedes Cruz Arquitetos, a habitação social da Bouça, de Álvaro Siza, e o centro cívico de Grândola, de Aires Mateus, são exemplos que aliam qualidade arquitetónica, funcionalidade e sensibilidade ao ambiente humano.
Turismo, património e bem-estar
A relação entre arquitetura, natureza e hospitalidade tem dado origem a obras que exploram novas formas de habitar e experienciar a paisagem. Intervenções como o Hotel Ecork de José Carlos Cruz, as termas de Pedras Salgadas ou o Mosteiro de São Lourenço do Barrocal, reabilitado por Souto de Moura, revelam como o turismo pode ser também uma oportunidade de revalorização do património e do território.
Casas unifamiliares: tradição e inovação
A habitação unifamiliar, um dos géneros mais cultivados na arquitetura portuguesa, surge na seleção como um espaço de continuidade dos valores tradicionais – escala, relação com o terreno, sobriedade material – e também como um campo de experimentação. Obras como a Casa Cz de SAMI Arquitectos, a Casa dos Sobreiros de Hugo Pereira Arquitetos e a Casa Âmago de Bruno Dias Arquitetura confirmam-no.