
A cidade cognitiva pode ser uma aliada no processo de transformação das cidades em lugares mais inclusivos e resilientes. Para tal, é preciso contar com a participação ativa de todos.
A cidade cognitiva é uma realidade que se torna cada vez mais presente na vida urbana. Os avanços da inteligência artificial e sensorização, aliados à necessidade de solucionar problemas urbanos complexos, têm levado os municípios a adotarem soluções holísticas digitais que visam melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos.
Para a cientista computacional Edy Portmann, as abordagens inovadoras da governação urbana terão de envolver o “fator humano”, a cognição e a criatividade, em simultâneo com a capacidade de aprendizagem, de modo a poderem lidar com as constantes mudanças. Trata-se de idealizar a cidade personalizada, hiperconectada, que minimiza o consumo de recursos, numa interação contínua entre cidadãos e tecnologia.
Assim, para que essas soluções sejam efetivas, é preciso contar com a participação ativa de todos os cidadãos, incluindo aqueles que vivem em territórios marginalizados. Ou seja, espaços que foram sendo esquecidos pelos poderes públicos, que apresentam uma série de desafios que precisam ser enfrentados por meio de políticas públicas, que contemplem suas necessidades específicas – e o digital também é para eles.
Assim, é fundamental usar a evolução tecnológica para estimular as economias locais, através de um amplo processo cognitivo coletivo que possibilite a capacidade endógena de desenvolvimento.
A cidade cognitiva surge como importante aliada, desde que seja adotada uma abordagem inclusiva, que permita a todos beneficiar das soluções digitais. Tal significa que as tecnologias avançadas precisam ser acessíveis, de fácil utilização e capazes de contemplar a diversidade de realidades existentes nas cidades.
É ainda preciso garantir que os dados coligidos e tratados de forma transparente envolvem a participação ativa da população no processo de tomada de decisão. O que pode ser feito por meio de consultas públicas, audiências e outras formas de participação digital. Na última década, no âmbito da Educação Digital Inclusiva, vários estudos “consideram que a tecnologia pode contribuir para o acesso e a participação equitativa em vários domínios da vida”.
O último estudo, publicado pela Comissão Europeia, sobre Educação Digital Inclusiva, permite-nos compreender que, “embora tenham sido dados passos rápidos e abrangentes para a digitalização da educação, o acesso à aprendizagem digital, especialmente para alunos vulneráveis, continua a ser um desafio”.
Um exemplo de como a cidade cognitiva pode contribuir para melhorar a vida em territórios marginalizados é a adoção de soluções de mobilidade mais eficiente. Em muitas áreas marginalizadas, o transporte público é precário e a infraestrutura viária é inadequada. Com a adoção de soluções de mobilidade integrada, em que os transportes públicos funcionem em articulação com os modos ativos e os serviços partilhados, garantindo articulação entre o espaço público e as infraestruturas de transportes, é possível oferecer opções de transporte eficientes e acessíveis, que contribuem para melhorar a mobilidade urbana e reduzir a exclusão social.
Em suma, a cidade cognitiva pode ser uma aliada no processo de transformação das cidades em lugares mais inclusivos e resilientes. Para tal, é preciso contar com a participação ativa de todos, garantindo soluções inclusivas e acessíveis, bem como transparência no tratamento dos dados e participação ativa no processo de tomada de decisão. Somente assim será possível construir um sistema cognitivo, que atenda às necessidades de todos os cidadãos.
Artigo publicado no © Jornal Económico . Alexandra Paio, Docente do ISCTE-IUL . 06 mai 2023,