
Arquitetura e urbanismo são ferramentas cruciais para a sustentabilidade no espaço público – João Rafael Santos é investigador e professor na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, função a partir da qual tem procurado contribuir para criar cidades mais amigas dos cidadãos e do ambiente. Esta é uma das 20 personalidades portuguesas selecionadas pelo Expresso para integrar a lista daqueles que lideram a transição para um mundo mais verde.
As cidades não são, ou não devem ser, planeadas apenas com recurso ao esquadro e ao compasso, mas devem ser pensadas como organismos vivos que ligam pessoas, bairros e que asseguram um futuro melhor para a sociedade. Esta é, em parte, a filosofia que tem orientado o percurso de João Rafael Santos, professor assistente na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, onde procura contribuir, através do ensino e da investigação, para “estimular” a implementação de boas práticas ao nível do urbanismo. “Muito mais do que liderar, é consertar, encontrar pontos comuns de trabalho, de entusiasmo e é isso que tentamos fazer na universidade”, explica.
Licenciado em arquitetura, João Rafael Santos concluiu o mestrado em Regeneração Urbana e Ambiental e doutorou-se em Urbanismo porque acredita que “a sustentabilidade é uma ambição estrutural importante da sociedade que não se atinge de uma única forma”. E porque a produção de novo conhecimento e a sua partilha para reflexão na comunidade são importantes, este que é um dos 20 Líderes da Transição coordenou, nos últimos anos, um projeto para analisar o passado das intervenções no espaço público da Área Metropolitana de Lisboa (AML) desde 1998.
“Olhando para a nossa paisagem urbana ao nível do espaço público, percebe-se que, olhando para trás e também olhando para a frente, em pouco tempo se conseguem mudar coisas importantes”
A iniciativa de investigação MetroPublicNet, promovida por um grupo de especialistas da faculdade, mapeou 1100 alterações levadas a cabo nos últimos 25 anos nos 18 municípios que compõem a AML. Dessas, foram selecionadas 24 que deram origem a uma coleção de três livros gratuitos que mostram o que foi bem feito, o que se pode aprender com essas experiências e, sobretudo, o que se pode melhorar no futuro. “Estes livros procuram ser uma forma sistematizada e representativa, mas sempre limitada, deste universo de intervenções que foram feitas e que se baseiam em três pilares: a caminhabilidade e mobilidade ativa, os bairros conectados e coesos, e as infraestruturas verdes e azuis”, detalhou durante a apresentação pública, em outubro.
João Rafael Santos não tem dúvidas de que “vivemos tempos de urgência do ponto de vista climático” e social, uma realidade que convoca a sociedade a agir em conjunto, com espírito crítico, para que sejam possível cumprir os objetivos ambientais traçados para 2030. “Isto é já amanhã. Parece-me que vamos continuar a ter, até 2030, um mundo com grandes assimetrias, desigualdades e conflitos”, aponta. Apesar de tudo, acredita que o final desta década “vai ser interessante” e diz existirem “boas perspetivas” de que o espaço público se consiga desenvolver para fazer face aos desafios trazidos pela jornada da sustentabilidade.
IDEIA MICRO | LEVAR AS ESCOLAS PARA A RUA
A noção de que as cidades são um local de encontro de múltiplas realidades sociais e que é dessa comunicação que se faz o processo de “construção cívica”, o professor de arquitetura sugere que as escolas procurem envolver as crianças nesse “grande espaço de socialização” que está para lá dos portões. “Levar a escola para o exterior, encontrar um espaço público que se organiza a partir destes nós que são as escolas e que podem ser pontos de ligação para estas transições do ponto de vista social, ecológico e da inter-relação humana”, afiança.
De uma forma prática, João Rafael Santos quer ver os futuros cidadãos em formação a envolverem-se com o espaço público e a refletir sobre os “novos desafios do clima, como é que se pode ter mais sombra, como é que se pode integrar a água na gestão” das cidades.
IDEIA MACRO | TRABALHAR O ESPAÇO PÚBLICO EM REDE
O percurso académico e profissional de João Rafael Santos leva-o sempre de volta ao tema do espaço público, pelo que a nível macro recomenda que os territórios sejam cada vez mais pensados em rede. “Não é um somatório de espaços individualizados, é potencialmente um sistema muito mais alargado que é multidimensional e multifuncional”, complementa.
Este é, sublinha, “um instrumento importante para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [da ONU]” e um melhor planeamento do urbanismo permitirá, reforça, dar resposta a “grandes desafios da transição ecológica, energética, de adaptação às alterações climáticas, mas também de justiça social e de coesão”.
São académicos, empresários e ativistas com vontade de mudar o mundo para melhor, um passo de cada vez. O projeto Líderes da Transição, do Expresso com apoio da EDP, selecionou 20 personalidades portuguesas com percurso assinalável na jornada da sustentabilidade e vai partilhá-lo com os leitores até dezembro. Ao longo de 10 semanas, o Expresso publica as suas histórias, percursos e ambições para incentivar a transição para um futuro mais verde.
© Expresso . Francisco de Almeida Fernandes . Jornalista