Alexandra Paio

Compreender a arquitetura e as suas possibilidades

Categorias: Arquitetura

Compreender a arquitetura e as suas possibilidades – O arquiteto David Chipperfield, prémio Pritzker 2023, considera que “a maioria dos arquitetos que trabalha nos ateliês está largamente divorciado da academia, como se ideias, críticas e investigação histórica fossem irrelevantes”.

Nas últimas semanas, um conjunto de atividades na área da arquitetura têm marcado a agenda mediática em Portugal. Uma oportunidade de reflexão que extravasa a prática profissional do arquiteto no dia a dia, e que pode ter um impacto importante na resposta às problemáticas relevantes levantadas pela sociedade.

A isto acresce o facto de a expansão das práticas disciplinares ser cada vez mais moldada pelo contexto global e local, pelo que é fundamental encontrar um equilíbrio entre estes dois aspetos para realçar o papel significativo e relevante do arquiteto na sociedade.

Hoje, é essencial compreender este impacto para colocar em perspetiva o momento que a arquitetura atravessa no nosso país e no mundo. Na ordem do dia estão as complexas transformações territoriais, arquitetónicas e paisagísticas, que todos os dias ouvimos falar e que nos levam a questionar: Qual o futuro da água em Portugal? Qual o papel da cidadania, qualidade de vida e participação nas políticas públicas municipais?

As respostas são complexas e exigem que as fronteiras disciplinares sejam redefinidas num processo de transformação sobre qual o papel do arquiteto nas políticas públicas e nos processos de tomada de decisão. Para o arquiteto David Chipperfield, vencedor do prémio Pritzker 2023, significa que é preciso olhar com atenção para “a maioria dos arquitetos que trabalha nos ateliês está largamente divorciado da academia, como se ideias, críticas e investigação histórica fossem irrelevantes”.

A arquiteta Andreia Garcia, curadora da representação portuguesa na 18ª Exposição Internacional de Arquitectura La Biennale di Venezia 2O23Fertile Futures’ , sublinha que “temos de colocar a arquitetura ao serviço” da discussãona procura de respostas.

O presidente da Trienal, o arquiteto José Mateus, propõe um olhar cruzado da arquitetura com arte e ciência, no âmbito da 7.ª Trienal de Arquitectura de Lisboa, tendo como principal “intenção criar um ambiente propício a discussões que apontem para um entendimento de como a arquitectura, as cidades, a tecnologia e a biosfera podem interagir”.

A Agência Territorial, baseada na investigação dos arquitetos Ann-Sofi Rönnskog e John Palmesino, desafia-nos a uma busca urgente de novas formas de pensar e agir, inovadoras e interdisciplinares, em resposta à emergência de novas formas de territorialidade e o impacto das mudanças rápidas e imprevisíveis no ambiente devido à atividade humana.

Segundo Summary, curador da exposição “Em processo” no MAM’23, mês da arquitetura na cidade da Maia, é preciso espaço para apelar “à importância do tempo e ao carácter multidisciplinar da intervenção no território, em particular na prática de arquitetura”. Entre instalações, projetos e ensaios, os vários atores são chamados a expor as suas leituras sobre as transformações territoriais do , convidando à participação cidadã para fazer parte do processo.

Um aspeto comum a todos estes atores é quererem abrir um espaço alargado de reflexão crítica sobre as várias interseções disciplinares e práticas que a arquitetura deve considerar no seu processo de agenciamento, projeto e coabitação, incluindo aspetos sociais, económicos, culturais, ambientais e tecnológicos.

No fundo, defendem a ação para intervir nos territórios, com o objetivo de ampliar a compreensão sobre a arquitetura e suas possibilidades, considerando as complexidades do mundo contemporâneo, assim como para investigar soluções que promovam a qualidade de vida e bem-estar dos cidadãos. Ou seja, é tempo de alargar estas práticas e começar a delinear uma nova configuração, onde todos partilhamos responsabilidades.

Artigo publicado no © Jornal Económico . Alexandra Paio, Docente do ISCTE-IUL  . 25 mar 2023, 

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