
Em entrevista à revista “Materiais de Construção” Ana Raquel Fernandes, Sustainability Specialist na Leca Internacional, explica o quanto é importante para a empresa as questões ligadas com a eficiência e a sustentabilidade. Além disso, e entre outros temas, dá-nos a conhecer algumas das novidades da Leca.
A Leca® é uma marca registada de argila expandida desde 1970 no mercado português, presente em praticamente todos os sectores ligados ao habitat: edifícios, infraestruturas e gestão das águas pluviais.
AS PREOCUPAÇÕES COM A EFICIÊNCIA E A SUSTENTABILIDADE ESTÃO DE ALGUMA FORMA A INFLUENCIAR OS PRODUTOS E A CONDUTA DA EMPRESA?
Em termos de produto, a argila expandida Leca® tem atributos sustentáveis, basta olharmos para o seu ciclo de vida. Trata-se de um produto natural com caraterísticas únicas que permitem a sua extensa aplicação e durabilidade. Após a sua utilização primária, pode ser reutilizado ou reciclado em outras utilizações.
É claro que as preocupações com a eficiência e sustentabilidade são questões já bastante enraizadas na cultura da empresa, com a procura de soluções mais amigas do ambiente. Um dos exemplos são as nossas soluções de enchimento que permitem um menor consumo de recursos – água e cimento. Destaco a solução com Leca® Uno, para o enchimento e regularização de pavimentos e pendentes em coberturas com aplicação em camada única; e a solução Leca® solta que, ao utilizar o agregado leve solto, permite fazer um enchimento de piso sem recurso a água e cimento, e por isso bastante mais amigo do ambiente.
Cientes de que a eficiência e a sustentabilidade também são um desafio para outros sectores, temos trabalhado no desenvolvimento de ferramentas de apoio ao projetista, nomeadamente para alavancar a transformação digital do sector AEC – Arquitetura, Engenharia e Construção. Atualmente, disponibilizamos ferramentas como calculadoras de águas pluviais e coberturas planas. Além de já estar disponível no website leca.pt a biblioteca BIM dos seus produtos.
QUAIS AS NOVIDADES EM QUE A EMPRESA ESTÁ A APOSTAR NESTE MOMENTO?
Dada a preocupação com a sustentabilidade das construções e a necessidade de conferir aos edifícios um impacto mais positivo no ambiente urbano, a construção de coberturas verdes nos edifícios é cada vez mais uma opção. Pelo que, a Leca Portugal SA estabeleceu uma parceria com a Nutrofertil, empresa produtora de substratos, e ambas propuseram ao ITECONS a emissão da primeira ETA – European Technical Assessment para uma cobertura ajardina- da em Portugal: a Leca® Nutrofertil Green Roof D.
É possível verificar uma crescente certifi- cação de edifícios através de sistemas reconhecidos como o BREEAM, LEED, LíderA, etc, pelo que estamos a trabalhar uma vez mais no apoio ao projetista para que a informação necessária à certifica- ção esteja disponível digitalmente de uma forma simples e eficaz.
Depois há vários projetos de inovação a serem trabalhados internacionalmente, como é o caso da Argila Calcinada, que pode ser utilizada em diversos produtos de base cimentícia, melhorando não só a sua performance como contribuindo para um produto com menor emissão de CO2.
A SUSTENTABILIDADE É UMA TEMÁTICA QUE JÁ SE TRABALHA HÁ MAIS TEMPO NOS MERCADOS NÓRDICOS. SENDO A LECA UMA EMPRESA INTERNACIONAL, COM PRESENÇA NESSES MERCADOS, QUE AÇÕES DESTACA NESSES PAÍSES?
Efetivamente, nos mercados nórdicos a temática da sustentabilidade já começou a ser desenvolvida e trabalhada há mais tempo e para os quais já foi e continua a ser necessário dar resposta. Nomeadamente, através da transição energética dos processos produtivos. Por exemplo, na Leca Finlândia está a ser implementado um projeto que permitirá suprimir as necessidades energéticas do processo através do uso de biomassa.
Como referi anteriormente, o agregado leve Leca® pode ser reutilizado ou reciclado: na Suécia é possível encontrar a Leca® Tur & Retur. Quando uma construção chega ao seu fim-de-vida, o agregado leve Leca® que foi utilizado inicialmente, é recolhido, testado e aplicado numa nova construção.
Posso ainda partilhar que este ano ocorreu a Segunda Edição do Scandinavian Business Award, onde foi atribuído o prémio de “Produto de Construção Multiusos Mais Inovador” à LECA. Mas não é preciso ir aos mercados nórdicos, há também projetos inovadores e também sustentáveis em países mais a sul na Europa: é o caso do projeto Offshore Windmill em Espanha, o projeto
DemoSATH desenvolvido pelas empresas Saitec Offshore Technologies e RWE, onde fomos desafiados a desenvolver um betão leve para os elementos flutuantes do protótipo em escala 1:1 de um aerogerador flutuante de 2 MW, que atualmente já se encontra no seu local de instalação, a área de testes BiMEP em Bizkaia (Armintza). Este projeto foi distinguido nos primeiros prémios de desenvolvimento sustentável, na categoria de inovação, promovidos pela Federación de Áridos de España.
QUE OUTRA AÇÕES GOSTARIA DE DESTACAR?
Não nos podemos esquecer que a sustentabilidade não é apenas ambiente. A Leca Portugal tem participado ativamente num projeto de sustentabilidade social, o projeto Nós e (A)vós, desde o seu começo em 2019.
Temos também promovido algumas ações internas, para mostrar que a sustentabilidade é uma responsabilidade de todos, e que todas as ações contam. Foi o caso do evento interno LECA Sustainability Film Festival. Uma iniciativa que envolveu todos os países, permitindo a troca de experiências e ações que são feitas em cada país.
NA SUA OPINIÃO, QUAIS OS PRINCIPAIS DESAFIOS PARA A CONSTRUÇÃO, PARA OS PRÓXIMOS ANOS, NO QUE TOCA À SUSTENTABILIDADE?
Atualmente, a construção é responsável pelo maior consumo de energia e de matérias-primas. Para que se atinja os objetivos de desenvolvimento sustentável é necessário alterar de forma significativa como a construção é colocada em prática. Para isso, é necessário que não só as matérias-primas disponíveis sofram alterações como as práticas da construção. A melhoria será a aliada da sustentabilidade, sendo que esta será uma caminhada conjunta entre parceiros.
Enquanto Grupo LECA, trabalhamos diariamente para garantir os nossos compromissos na redução das emissões de dióxido de carbono. O nosso compromisso é reduzir em 30% as emissões de CO2 até 2025 e em 50% até 2030. Em 2050 pretendemos atingir a neutralidade carbónica. Ao trilhar este caminho, iremos ajudar a dar resposta a estes desafios.
Não será apenas na prática que a construção irá ter de superar desafios, a sustentabilidade é efetivamente a palavra do momento fazendo com que também a regulamentação e a certificação sofram alterações. Também estas ações irão penalizar as ações de green washing o que será também um desafio para o sector da construção.