
Mais de 673 mil pessoas morrem anualmente por doenças provocadas pela falta de acesso a água potável, saneamento e higiene. Mais de 962 milhões de pessoas não têm acesso a espaços de banho que garantam a respetiva segurança e 570 milhões têm de se deslocar das suas casas para os utilizarem.. A ausência destes espaços leva a que mais de 418 milhões ainda defequem em ruas, fossas ou entre arbustos.. A Fundação We Are Water trabalha para combater esta situação e já ajudou mais de um milhão de pessoas em todo o mundo.
A procura de água doce não para de aumentar. A ONU assegura que, por cada aumento de 1º C da temperatura, ocorre uma diminuição em 20% dos recursos hídricos. E o volume de água utilizado continua a aumentar: a nível mundial, tem aumentado 1% por ano ao longo das últimas quatro décadas e prevê-se que mantenha este ritmo até 2050. Tendo em conta este ritmo, estima-se que a procura de água doce exceda a oferta em 40% em 2030.
No último relatório da UNESCO[1], especifica-se que este aumento centra-se, em específico, nos países de baixo e médio rendimento, sobretudo nas economias emergentes. Explica-se o que já se sabe há algum tempo: aumenta a escassez hídrica e diminui a qualidade da água devido à contaminação. De acordo com a organização, existem dois contextos cujas diferenças requerem abordagens diferentes: o escoamento agrícola constitui o problema mais grave nos países com níveis de vida mais elevados; ao passo que, nos países de rendimentos baixos, a má qualidade da água está geralmente associada a um tratamento insuficiente das águas residuais.
Devido a este tratamento insuficiente, mais de 1500 milhões de pessoas não dispõem de acesso a instalações sanitárias ou sanitas seguras ou próximas da respetiva habitação, havendo mais de 418 milhões que ainda se vêm obrigados a defecar ao ar livre. Segundo a OMS, a falta de água potável e de higiene provoca a morte de 1,4 milhões de pessoas, mais de metade por doenças diarreicas devido à contaminação fecal.
O preço elevado da falta de ação
No que respeita à água, de acordo com o Banco Mundial, faltam 85.600 milhões de dólares anuais para cumprir os objetivos dos ODS 6, em 2030. A falta de ação é dispendiosa: perdem-se anualmente até 260.000 milhões de dólares por falta de acesso a água e saneamento. Os cálculos asseguram que cada dólar investido geraria um retorno de quatro dólares. Se acrescentarmos os desastres naturais provocados pelo clima (secas e inundações), os cálculos do Banco Mundial asseguram que o retorno poderia chegar a ser de 15 dólares[2].
Não atuar é dispendioso. Ainda assim, o panorama mundial não parece favorecer a mobilização financeira para estes fins. Podemos observá-lo na dificuldade de concretizar os acordos sobre perdas e danos elaborados na passada COP 27: é difícil estabelecer um cálculo e um sistema de financiamento justos para os países mais prejudicados, que são os que menos contribuíram para o aquecimento.
Como financiar a água e o saneamento
Todos os especialistas salientam que é fundamental atrair investimentos privados para promover a respetiva associação com os públicos. Existe um leque amplo e bem definido de necessidades: a construção e a operação de infraestruturas, a gestão eficiente da água e a implementação de tecnologias inovadoras nos setores da reutilização, dessalinização e aproveitamento dos resíduos do tratamento.
Mas o capital não será suficiente sem a construção de alianças eficientes que impulsionem a cooperação internacional de uma forma sólida, além das declarações de intenções, como ocorreu com os 689 acordos não vinculativos da recente Conferência das Nações Unidas sobre a Água. Deve gerar-se confiança com base em colaborações estáveis com doadores bilaterais e multilaterais, como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e outras instituições financeiras internacionais.
Contudo, o investimento, por si só, não garante a equidade. No último relatório da Unesco, está evidente quem devem ser os beneficiários preferenciais: os 2000 milhões de pessoas que carecem de acesso a serviços de água potável geridos de forma segura e os 3600 milhões que não têm serviços de saneamento que garantam a respetiva saúde. É urgente acontecer uma mudança a favor da cooperação e das alianças, com base jurídica aprovada a nível internacional, para que isto seja possível.
Um desafio global
O financiamento adequado para o cumprimento dos ODS é um desafio que querer um esforço conjunto dos governos, das organizações internacionais, das empresas e da sociedade civil. As crises de fornecimento podem ser muito desestabilizadoras, expor a fragilidade dos estados, provocar um aumento dos conflitos violentos e multiplicar as deslocações forçadas.
A promoção da sensibilização e da vontade política também são fundamentais para mobilizar os recursos necessários. Existe água e existe dinheiro, o que falta é perspetiva, tanto económica quanto humana, e trabalho conjunto de todos os competentes.