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Imaginar a Evidência na arquitetura de Álvaro Siza | Ana Moreira Virtudes . Urbanista
Nesta obra de Siza [“Imaginar a Evidência” (*1)] as temáticas vão surgindo, ilustradas pelos seus projetos. No ponto inicial “Repetir nunca é repetir”, Siza refere a relação entre natureza e construção como decisiva na arquitetura.
No projeto do restaurante Boa Nova (Leça da Palmeira), num promontório rochoso que se eleva e avança sobre o mar, predestinado à memória, refere que construir num local muito belo, equivale a destruí-lo.
Na piscina de Leça da Palmeira o objetivo foi otimizar as condições criadas pela natureza, situando-a onde os rochedos se fechavam num pequeno lago, numa ligação estreita entre natural e construído.
Para Siza a arquitetura trabalha com as pré-existências, vai do objeto ao espaço e à relação entre espaços, até ao encontro com a natureza, numa ideia de continuidade rica em dissonâncias, sem deixar de existir.
É o resultado das referências do seu autor, num ato de criação irrepetível, manipulando a memória.
No item Uma casa, advoga que projetar uma habitação exige estudar os hábitos, necessidades e aspirações da família que a irá habitar.
Em A igreja (Marco de Canaveses) inserida num conjunto religioso (auditório, casa do pároco e escola de catequese), a unidade é conferida ao projeto pelos percursos que terminam no ponto de partida, circularmente, transmitindo a sensação de lugar fechado, bem delimitado.
Em Dois museus destaca o desenho dos espaços verdes como epílogo do projeto (Museu de Santiago de Compostela), onde a definição da forma e a articulação dos grandes espaços, encontram na relação com o jardim uma referência decisiva, sendo os percursos do jardim o garante da continuidade entre os edifícios (Museu de Arte Contemporânea em Serralves).
No ponto Navegando através do híbrido das cidades destaca a relação com a paisagem e com o tecido urbano antigo, como aspetos chave, num diálogo entre novo e antigo (plano de extensão de Macau).
Em “Évora: Malagueira” diz que a habitação é uma presença constante na cidade e é sempre social. Opõe-se à ideia resignada de que as casas baratas devem ser péssimas, sem qualidade, incluindo no projeto de arquitetura.
À crítica de que o bairro parece um projeto inacabado, contrapõe que a cidade não nasce já acabada, sendo a passagem do tempo que permite a densidade e a beleza da urbe antiga. A tipologia habitacional adotada da casa pátio, para além de razões históricas, justifica-se na condição de criar uma zona de microclima, na transição exterior-interior.
No item final, Essencialmente, defende que pensar a cidade, o edifício e o móvel são atividades que dependem umas das outras.
Todo o objeto tem uma história e a necessidade de originalidade e diferença conduz, quase sempre, ao abandono da sua essência, sendo nas ligeiras diferenças que se esconde o seu verdadeiro significado no tempo.
Relembra que as grandes peças de mobiliário da história possuem uma grande contenção e uma espécie de banalidade, cujo significado ambíguo não equivale a sem interesse ou sem qualidade, mas ao sentido da disponibilidade na continuidade.
Conclui advogando que o exercício de observar (aprender a ver) é prioritário no arquiteto, pois nada do que faça é absolutamente novo.
(*), Ana Moreira-Virtudes é Licenciada em Planeamento Regional e Urbano pela Universidade de Aveiro (UA) e Professora Auxiliar na Universidade da Beira Interior (UBI) e Plataformista
(*1), Imaginar a evidência; de Álvaro Siza | ISBN: 9789724413907; Edições 70
Texto da responsabilidade de (*) Ana Moreira-Virtudes da PLATAFORMAcidades; grupo de reflexão cívica.
NOTA: Veja outros textos desta série no Blogue Plataforma Cidades
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