
Mudar o futuro coletivo – Os professores devem assumir um papel ativo nas novas abordagens pedagógicas. Só desta forma será possível responder às questões de fundo do século XXI.
O início de mais um ano letivo exige aos professores um esforço de preparação de matérias que respondam aos objetivos gerais, mais abrangentes, de cada grau de ensino, mas também a uma sociedade cada vez mais digital e ecológica.
E como podemos ensinar os nativos digitais a enfrentar o futuro coletivo? Os estudantes de hoje não são os mesmos para os quais o sistema educacional português foi criado. Eles querem ter agora a possibilidade de imaginar, desenhar, testar e construir as suas próprias ideias em espaço escolar. No entanto, para o matemático visionário da tecnologia educativa Seymour Papert, se um professor do século XVI viajasse no tempo até ao presente, este não teria qualquer problema para ensinar numa das nossas escolas.
Para alterar este cenário, que a maioria dos pais identifica, é necessário que as instituições escolares valorizem de forma prioritária a capacitação dos professores para uma intervenção fundamentada e adequada a contextos diversificados e em permanente mudança.
Analisando os dados sobre o perfil de docente do ensino não superior publicados recentemente pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, é evidente a desvalorização da formação orientada para o seu desenvolvimento profissional. Apesar de obrigatórios desde 2007, os mestrados em ensino para o exercício da função docente, a percentagem de titulares com doutoramento ou mestrado é muito reduzida. Porquê? Segundo Isabel Flores, “um professor que tenha o grau de doutor não tem qualquer vantagem de progressão, remuneração ou reconhecimento na escola onde leciona”.
Regressar à formação académica é essencial para os professores poderem implementar metodologias alternativas de ensino-aprendizagem, através das quais os alunos se tornam atores e impulsionadores da sua aprendizagem, e, assim, são preparados para ser cidadãos críticos e ativos numa sociedade democrática.
Centrar o ensino-aprendizagem nos próprios alunos, tornando-os parte integrada e integrante da sua aprendizagem através de projetos sobre a realidade social envolvente, com o suporte transdisciplinar do conhecimento, é mudar as lógicas construtivas dos modelos vigentes que imortalizam a memorização.
A autonomia, o pensamento crítico e a criatividade são essenciais para os futuros profissionais do século XXI. É importante começar por implementar o uso de tecnologias digitais, que está a revolucionar a sociedade, e sobretudo os conhecimentos, para além do uso do computador pelos alunos e quadros interativos nas salas de aula.
Os professores devem assumir um papel ativo nas novas abordagens pedagógicas. Só desta forma será possível responder às questões de fundo do século XXI como, por exemplo, a Indústria 4.0 com a automatização de processos através da Inteligência Artificial, a robotização, a Internet of Things, a nanotecnologia e a manufatura inteligente que combinam máquinas com processos digitais muito avançados, promovendo cada vez mais a personalização de serviços e produtos.
Concretizar a transformação da escola num verdadeiro espaço de futuro coletivo está nas mãos dos professores. Só assim poderemos pôr em prática as palavras de Nelson Mandela: “A educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”.
Artigo publicado no © Jornal Económico . Artigo de Opinião de Alexandra Paio, Docente do ISCTE-IUL