O direito a estar a 15 minutos de tudo – A mobilidade suave é fundamental para as cidades do século XXI, que enfrentam desafios relacionados com a saúde, meio ambiente e qualidade de vida. Deste modo, reclama-se o direito a estar a 15 minutos de tudo.
A mobilidade suave é cada vez mais reconhecida como importante para tornar as cidades saudáveis e inclusivas. No relatório das Cidades Mundiais 2022 UN-HABITAT este é um dos pontos chave para assegurar o desenvolvimento urbano sustentável, sendo que passa pelos municípios implementarem melhores práticas e instrumentos políticos de governação e gestão urbana socialmente integradas, inclusivas, acessíveis, transparentes e participativas.
O município de Lisboa tem procurado adotar políticas de mobilidade urbana sustentável através da noção de proximidade, ou seja, privilegiando a vivência de bairro. Uma dessas políticas assenta no conceito de “cidade dos 15 minutos“, que visa transformar a cidade num ecossistema mais sustentável e amigável para os seus habitantes. A ideia é que estes possam encontrar tudo o que precisam no dia a dia num raio de 15 minutos, a pé ou de bicicleta, reduzindo a dependência do automóvel e melhorando a sua qualidade de vida.
O conceito tem conquistado adeptos em todo o mundo, e sobretudo a partir de 2020, no auge da pandemia, estando já implementado em algumas metrópoleseuropeias, como Paris.
Para Mark Watts, Diretor Executivo do Grupo de Liderança Climática da C40, “a cidade dos 15 minutos” é a ferramenta ideal para obter uma sociedade ecológica. Ao promover um desenvolvimento urbano policêntrico e um estilo de vida local próspero em cada bairro, é possível reduzir as emissões e a poluição causada pelos automóveis, melhorando ao mesmo tempo a atividade física e incentivando a convivência entre os cidadãos. Isto só é possível se houver um grande investimento no espaço público para promover percursos pedonais de proximidade, e uma forte aposta na mobilidade ativa e na participação pública.
É neste contexto que surge a “Lisboa dos 15 minutos” como tema da 2ª edição dovConselho de Cidadãos, que decorreu na semana passada, com o objetivo de dar voz aos habitantes da cidade e assim influenciar as políticas públicas através de projetos piloto implantados por “Embaixadores”, em articulação com os serviços do município de Lisboa. O Conselho de Cidadãos é a ferramenta municipal utilizada para que os habitantes possam participar na tomada de decisões e contribuir para a construção de uma cidade mais humana e inclusiva.
Eis a oportunidade de transformar a cidade pensada com e pelas pessoas. Ao colocar os cidadãos no centro do processo de mudança, são estes que vão diagnosticar as dificuldades, idealizar e aprofundar soluções práticas. Em suma, valorizar a aposta na cocriação como motor de bem-estar de proximidade.
Para ajudar no processo, o cientista de dados Manuel Banza desenvolveu um mapa interativo que permite entender melhor o conceito da cidade dos 15 minutos a partir da possibilidade de inserir qualquer morada na cidade e descobrir, dentro do raio visível de deslocações a pé ou de bicicleta quais os equipamentos e serviços que se encontram no perímetro dos 10, 15 ou 20 minutos.
Assim, cada cidadão poderá ter consciência do seu bairro e contribuir para as transformações necessárias para tornar a mobilidade suave uma opção viável para viver com qualidade na cidade e no bairro. Cidades que priorizam a mobilidade suave tendem a ter um comércio local ativo, pois a circulação a pé ou de bicicleta é mais propícia a pequenos trajetos.
A mobilidade suave é fundamental para as cidades do século XXI, que enfrentam desafios relacionados com a saúde, meio ambiente e qualidade de vida. Deste modo, reclama-se o direito a estar a 15 minutos de tudo.
Artigo publicado no © Jornal Económico . Alexandra Paio, Docente do ISCTE-IUL . 07 abr 2023,