Alexandra Paio

O laboratório 3D para o futuro

Categorias: Arquitetura

O laboratório 3D para o futuro – A visão de uma sociedade moderna, diversa e inclusiva é “sedutora e persuasiva, mas enquanto continuar a ser apenas uma imagem, é uma miragem”. Com estas duras palavras, a arquiteta ganesa-escocesa e curadora da 18.ª Exposição Internacional de Arquitetura, Lesley Lokko, alerta para o longo caminho a fazer para passar das palavras aos atos. Significa que é preciso uma nova abordagem às questões globais. Um desafio complexo para os arquitetos, mas possível, pois as ferramentas de que dispõem permitem proporcionar uma perspetiva abrangente para desenhar futuros cenários.

Em 2023, no âmbito da Bienal de Arquitetura de Veneza, os arquitetos são instigados a demonstrar como o podem fazer através de um laboratório 3D: Descolonização, Descarbonização e Diversidade. Um momento e lugar para questões provocatórias em busca de respostas diferentes e ações que devem ser tomadas para obter resultados distintos e, assim, pensar a relevância da disciplina para sociedade atual e para o seu futuro.

A primeira ação consiste em descolonizar a visão, o poder, tanto social como cultural e político. Como salienta Lesley Lokko, “na Europa, falamos de minorias e diversidade, mas o nosso padrão é que as minorias do Ocidente são a diversidade da maioria global”. Se descolonizarmos o olhar sobre África, será possível encontrar neste um laboratório de experimentação e propostas para todo o mundo contemporâneo. Uma ação concreta para ultrapassar o processo de modernidade baseado na perspetiva de conhecimento centrado no Ocidente. É a oportunidade de ver ao perto e ao longe em simultâneo, “uma forma de dupla consciência”, como aquele que o sociólogo e ativista afro-americano W. E. B. Du Bois nos obriga a ter.

A segunda ação é descarbonizar, ou seja, compreender que “em toda a conversa sobre descarbonização, é fácil esquecer que a equidade e a justiça climática são duas faces da mesma moeda”.

Neste sentido, o Pavilhão de Portugal na Bienal, com curadoria da arquiteta Andreia Garcia, foca-se na pertinência do contributo da Arquitetura no redesenho e cooperação não hierarquizada entre múltiplas disciplinas, diferentes gerações e várias espécies, para refletir sobre “a escassez da água doce a partir do território nacional”. Os futuros férteis apostam numa discussão em torno de sete hidrogeografias portuguesas e como propor reservatórios do futuro.

A última ação remete para diversidade. Qualquer conversa sobre o futuro em comunidade global, hoje, passa por desconstruir as barreiras da desigualdade e exclusão. Recorrendo novamente às palavras da curadora geral da bienal, é preciso não esquecer as lutas travadas pelas gerações que nos antecederam “por uma sociedade mais justa, inclusiva e equitativa”.  Esta reflexão permite ter consciência de como as histórias passadas podem projetar outros futuros possíveis com equidade social. Os arquitetos são chamados a desenhar e agir tendo em atenção o potencial do valor social como um instrumento de mudança no ambiente construído.

A partir de 20 de maio, a Bienal de Arquitetura de Veneza oferece uma oportunidade única de apreciar as ideias ambiciosas e criativas que nos ajudam a imaginar um futuro 3D em comum.

Jornal Económico

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