Alexandra Paio

‘Off-site’

‘Off-site’ – Em Portugal, arquitetos e indústria da construção têm-se mostrado relutantes em discutir pré-fabricação e sistemas modulares customizados. Importa refletir sobre o seu potencial de futuro.

Num mundo onde a população urbana mundial aumenta na ordem das 200.000 pessoas por dia e as emissões globais de carbono do sector da construção são de 40%, é fundamental uma reflexão sobre a alteração do estilo de vida humano que exige cada vez mais produtos on demand customizados que tenham em atenção o impacto direto em questões ecológicas e societais globais.

Esta perspetiva desafia os especialistas a definir novas estratégias pragmáticas para acomodar o crescimento em questão, através, cada vez mais, da otimização do tempo e dos recursos físicos. Tais exigências, nas últimas décadas, têm passado por uma maior democratização do ambiente construído e pela integração de tecnologias digitais inovadoras nos processos de construção dos edifícios e bairros.

Estas, também, são as principais lutas da construção Off-site, ou seja, a implementação de processos integrados, em que o edifício, ou parte dele, é produzido em fábrica de forma seriada e não em estaleiro de obra.

Em Portugal, a implementação de soluções Off-site é ainda um nicho de mercado, mas em crescimento. Arquitetos e indústria da construção têm-se mostrado relutantes em discutir pré-fabricação e sistemas modulares customizados. Contudo, em conjunto, podem contribuir para modernizar e aumentar a resposta aos problemas da habitação nacional nas cidades.

Para garantir o sucesso da construção Off-site, é, também, fundamental que Arquitetos e Indústria andem de mãos dadas com os benefícios da transição  digital. Só desta forma será possível reduzir os custos, mediante o aumento da produtividade e da gestão avançada de projeto. Se olharmos para as fábricas de automóveis atuais, verificamos que não são em nada semelhantes às fábricas de Henry Ford, nos EUA de início do século XX, ao passo que o estaleiro de obra praticamente não mudou.

O potencial disruptivo é enorme e serviu de mote para a exposição “The Reason Offsite“, que chega a Portugal depois de fazer parte da Tirana Architecture Week, Salt Gallery do Boston Society of Architects e Weimar na celebração do centenário da Bauhaus, em 2019.

Uma oportunidade, na Casa da Arquitetura,  para  estimular a discussão a partir de três questões: Como pode a arquitetura Off-site ser utilizada para enfrentar os desafios do presente? Quais são os benefícios da experiência? Como pode a construção  Off-site ajudar a reduzir o impacto ambiental da construção?

Com curadoria dos arquitetos do estúdio SUMMARY, o trabalho resultou da colaboração de diferentes visões dos arquitetos Pedro Ignacio Alonso & Hugo Palmarola, Jorge Christie & Martín Alvarez, Pablo Jimenez-Moreno e Yona Friedman.

Apresenta uma retrospetiva panorâmica baseada em 25 edifícios ou sistemas construtivos, percursores no contexto da evolução histórica da arquitetura modular e pré-fabricada desde o século XVII, abrangendo projetos de arquitetos mundialmente conhecidos, como Konrad Wachsmann e Walter Gropius, criadores do sistema Packaged House, Buckminster Fuller, o criador do veículo Dymaxion e do Museu do Ambiente de Montreal (Biosfera) (link), Shiberun Ban, reconhecido pelo uso de materiais reciclados em projetos de emergência, e do ateliê holandês de arquitetura MVRDV,  que se comprometem com um objetivo ideal de bem-estar global.

Uma visita para aprender com experiências do passado no sector da pré-fabricação e construção modular, que, paralelamente, permite avaliar o seu potencial de futuro para enfrentar os desafios contemporâneos de crescimento das cidades.

Artigo publicado no © Jornal Económico . Artigo de Opinião de 

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