
Raul Lino Hoje | Ana Carolina Helena . Arquitecta
Sobre a Avenida 9 de Julho, no nº100, esconde-se uma moradia particular. Aparentemente simples, em dois pisos, decorada apenas com umas floreiras que pendem das janelas, a Casa Olival, na Venda do Pinheiro, é um dos muitos exemplares da obra de um arquitecto português maior, Raul Lino (1879-1974), já mencionado no primeiro artigo desta coluna.
Num século deslumbrado pelos novos materiais de construção industriais e pelos novos estilos de construir para a sociedade dita moderna, Lino pautou-se sempre pela moderação, por inquirir sobre a real e benéfica aplicabilidade destas ideias à habitação e ao que dela primariamente se exige: proteger-nos do meio exterior, oferecer-nos um abrigo confortável. Coleccionou em “Casas Portuguesas”, possivelmente o seu livro mais conhecido, ideias para projectos nas várias regiões do país, com o intuito de nortear os interessados em construir casa própria ou não fosse o subtítulo: “Alguns Apontamentos Sobre o Arquitectar das Casas Simples”.
Perante a tentação de o acharmos datado, vejamos como Lino é ainda hoje um manual vivo (só no nosso concelho parece haver duas obras suas, a da Venda do Pinheiro e outra na povoação da Carvoeira, segundo o Arquivo Municipal), um mestre a construir casas económicas, cómodas e harmoniosas na paisagem, usando-se dos materiais e técnicas tradicionais, que aprendeu nas suas muitas viagens com as populações locais.
Voltemos à Casa Olival: as paredes brancas reflectem a luz, evitando o sobreaquecimento interior nos dias estivais dos arrabaldes da capital mais ensolarada da Europa – e poupando euros em ar condicionado! O alpendre garante um espaço coberto, protegendo as entradas e as saídas nos dias chuvosos de Inverno. Poderia continuar, os exemplos são muitos, o ponto, contudo, fica feito: não se trata necessariamente de copiar o passado, mas às vezes as soluções mais eficazes são também as mais simples. Olhemos ao nosso redor.
Artigo de Opinião © Ana Carolina Helena . Arquitecta . Venda do Pinheiro
(Texto escrito de acordo com a antiga ortografia, originalmente publicado na coluna “Arquitectura, Paisagem e Mafra” do jornal local “O Carrilhão” )
Imagem – (Projecto de Casa para os Arredores de Lisboa, Raul Lino in “A Nossa Casa”, 1918)
(Texto escrito de acordo com a antiga ortografia)