Abertura da 19ª Exposição Internacional da Bienal de Arquitectura de Veneza

Início em 10/05/2025 até 23/11/2025

A partir de 10 de Maio, Veneza volta a acolher arquitetura do mundo. A Bienal, mais do que um palco de apresentação de projectos, é um espaço de reflexão: nenhum outro evento reúne tantas propostas conceptuais, sob curadorias independentes, com a representação institucional de dezenas de países, nos pavilhões nacionais. A 19ª Exposição Internacional conta com mais participações, devido ao open call que foi lançado, num desafio inédito para os curadores: como integrar propostas de temas tão abrangentes, sem por em causa o impacto da bienal?

Inteligência num mundo em transformação

Neste ano, o desafio é lançado pelo arquitecto Carlo Ratti, que propõe o tema Intelligens — um convite para pensar nas formas de inteligência natural, artificial e colectiva, aplicadas na forma como projectamos, transformamos e habitamos o mundo. Esta linha curatorial surge num momento de viragem: às preocupações ambientais, juntam-se novas tensões geopolíticas, desigualdades estruturais e transformações tecnológicas que atravessam o planeta.

A diversidade das propostas confirma este cruzamento. Numa exposição onde os humanóides estão presentes, ainda há espaço para a preservação da memória. O pavilhão da Ucrânia reflecte sobre a preservação do património vernacular em tempo de guerra. Já no pavilhão de Hong Kong, a instalação Bamboo MockUp, concebida pela Architecture Land Initiative e BEAU Architects, ergue-se como um anfiteatro de bambu — uma forma de resistência aos processos de urbanização e ao esquecimento das técnicas de construção tradicionais.

Do laboratório à provocação sensorial

Nas salas da Corderie do Arsenale, a exposição central apresenta-se como um laboratório de experiências materiais e narrativas especulativas. Proxima da entrada, está a instalação The Other Side of the Hill, com a participação da designer Patricia Urquiola. Tijolos de bio-cimento desenham uma topografia que evoca o crescimento de bactérias. Mais à frente, na mesma exposição, estão instalações de arquitectos reconhecidos, de Kengo Kuma a Bjarke Ingels, onde a reflexão sobre o lugar da tecnologia está sempre presente.

Outra grande preocupação na Bienal é a circularidade dos materiais, presente em vários pavilhões. O pavilhão da Islândia propõe a incorporação de piroclastos, provenientes da actividade vulcânica, em estruturas de edifícios. A reflexão sobre circularidade, está presente em Canal Café, instalação da autoria do atelier nova-iorquino Diller Scofidio + Renfro, que propõe beber café feito com água da laguna de Veneza, recolhida e purificada.

Outra instalação que faz uso crítico da tecnologia, num sistema geotérmico que arrefece o ar interior do pavilhão, com tubagens instaladas no subsolo. Heatwave é uma instalação da representação do Bahrain, que mantém a ligação à arquitectura vernacular do país, no que diz respeito às estratégias de arrefecimento, das torres de vento aos pátios à sombra.

Das promessas tecnológicas ao olhar poético sobre o território

A resposta aos desafios do Antropoceno não se esgota na tecnologia. O pavilhão do México revisita a tradição das chinampas — ilhas agrícolas flutuantes dos astecas — e propõe uma instalação viva, Chinampa del Mondo, que navegará os canais de Veneza, tal como o icónico Teatro del Mondo de Aldo Rossi, apresentado na Bienal de 1980.

A representação portuguesa alinha-se no olhar poético sobre o território. Paraíso, hoje., concebida por Nuno Cera e pelo colectivo 18–25 Research Studio, apresenta uma instalação interactiva que reúne vídeo, inteligência artificial e pensamento territorial. A proposta convida à contemplação: como se imagina um paraíso num território marcado por desigualdades, turismo excessivo e consumo desenfreado de recursos?

 

O impacto esperado

Com 65 países participantes, a Bienal de Arquitectura de Veneza decorre até 23 de Novembro e reforça o papel da arquitectura enquanto prática crítica, interdisciplinar e transformadora. Ao convocar várias formas de inteligência, naturais e artificiais, técnicas e sensíveis, a 19.ª edição ensaia possíveis futuros. Como descreveu Carlo Ratti na abertura da Bienal, citando Buckminster Fuller, somos chamados a ser arquitectos do futuro, não vítimas dele. Em Veneza, há espaço para novos diálogos, sem esquecer antigas formas de conhecimento. Aquela que é a mais frágil das cidades, pode ajudar a salvá-las.

Texto: Tomás Reis . Arquiteto

Fotos ©Catarina Alves e Mendes

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