Conversa “Círculo de Belas Artes”

Juan Miguel Hernández León, arquiteto espanhol e presidente do Círculo de Bellas Artes, atribuiu a Medalha de Ouro a Álvaro Siza e a Eduardo Souto de Moura, em 1998 e 2023, ambos alumni da Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP).

A afinidade entre Siza e Souto de Moura, quase vinte anos mais novo, define-se não na escola mas através dela, graças às iniciativas pós-revolucionárias do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL). Eduardo Souto de Moura colaboraria no escritório de Álvaro Siza entre 1974 e 1979, tendo desde então desenvolvido o seu próprio corpo de obra, reconhecido com o Prémio Pritzker em 2011, quase vinte anos após o de Siza.

O não realizado Centro Cultural de La Defensa (1988-90) foi o primeiro grande museu siziano. Deve-o em parte a Hernández León, então Diretor Geral de Belas Artes do Ministério da Cultura, com quem viria a desenvolver o Plano Especial para Madrid (2002-19) como uma espécie de átrio urbano para os museus do Prado, Thyssen-Bornemisza e Reina Sofía. Esta ideia de extensão ou inter-relação museológica está também patente nas co-autorias que Siza tem elaborado com Souto de Moura, do concurso para o Museu de Arte Contemporânea de Helsínquia (1992-93) até ao Museu Internacional de Escultura Contemporânea (2010-15), em Santo Tirso.

Esta conversa insere-se no ciclo Arquitetura a Nu, que decorre na Ala Álvaro Siza, até à abertura da exposição dedicada à Coleção de Arte Contemporânea de Serralves e ao arquivo Álvaro Siza depositado em Serralves, em fevereiro de 2024. O Ciclo propõe uma reflexão sobre a força da arquitetura nua, vazia, enquanto celebra a obra de Siza e a sua mais recente contribuição para a coleção de arquitetura Siza da Fundação de Serralves.

Organizado pela Fundação de Serralves, com curadoria de António Choupina, o Ciclo de Conversas e Visitas Arquitetura a Nu / Naked Architecture, desenvolve-se em várias sessões, ocupando diferentes galerias da Ala Álvaro Siza, numa iniciativa que pretende dar a conhecer este novo espaço a públicos muito diversos.

Notas biográficas:

Juan Miguel Hernández León (1945) é presidente do Círculo de Bellas Artes de Madrid. Foi o primeiro Diretor Geral de Cultura de Madrid, posteriormente Diretor Geral de Belas Artes e Arquivos do Ministério da Cultura do Reino de Espanha, período durante o qual o foi criado o Thyssen-Bornemisza e o Museu Nacional de Arte Contemporânea Reina Sofía – sendo ainda vogal no Patronato deste último.

Foi membro do conselho da Casa Árabe e do Instituto Internacional de Estudos Árabes e do Mundo Muçulmano, diretor do grupo “Paisagem Cultural” da Universidade Politécnica de Madrid, coordenador do Cluster do Património Cultural do Campus de Excelência Internacional de Moncloa, membro do Conselho Nacional de Turismo, patrono da Fundação “Arquitectura y Sociedad”, do Campus de Excelência da Universidade Carlos III (Madrid), e director da Escola Técnica Superior de Arquitetura de Madrid (ETSAM), onde se havia licenciado em 1974 e doutorado em 1982.

Como arquiteto realizou diversos projetos vencedores de concursos e prémios, entre os quais o plano para o eixo Prado-Recoletos (Madrid), com Álvaro Siza; o restauro das Fortificações de Ceuta, finalista do Prémio Nacional de Arquitectura; o restauro da Antiga Doca do Estaleiro Puerto Real, vencedor do prémio Water Fronts (EUA); a reconstrução do Pavilhão da República Espanhola para a Exposição Internacional de Paris de 1937 (Barcelona); o Centro Internacional de Tecnologias Avançadas de Peñaranda de Bracamonte (Salamanca); ou do Centro de Arte Contemporânea de Vélez-Málaga.

É Catedrático Emérito da Universidade Politécnica de Madrid desde 2015, tendo sido professor convidado na Universidade de Sevilha, Universidade de Granada, Universidade de Navarra, Universidade Politécnica de Valência, ETSAB de Barcelona, ​​​​Universidade Menéndez Pelayo, Universidade Carlos III, Universidade Complutense, Universidade de Málaga, Universidade de Paris-La Villete, Universidade de Lima, Universidade de Santiago do Chile, Universidade Saint-Joseph de Beirute, Universidade de Damasco, Instituto Politécnico de Amã, Universidade de Guadalajara, Universidade Autónoma do México, Universidade de Valparaíso, Universidade de Matera, Universidade de Veneza, Universidade Politécnica de Turim, Universidade Rice de Houston, etc.

Foi diretor fundador da revista “Pasajes de Arquitectura y Crítica”, diretor de “Iluminaciones. Revista de Arquitectura y Pensamiento” e diretor científico das coleções “Textos de Arquitectura” (Editorial AKAL) e “Historia del Arte y de la Arquitectura” (Editorial ABADA), tendo escrito também para revistas especializadas como: International Architect, Lotus, Casabella, Domus, Revista de Occidente, Arquitectura Viva, AV, RA e Arquitectura.

É autor de vários livros, entre os quais “Eduardo Souto de Moura. Temi di progetti”, “Arquitectura Española Contemporánea: La otra modernidad”, “Conjugar los vacíos”, “La casa de un solo muro”, “Autenticidad y Monumento. Del mito de Lázaro al de Pigmalión”, “Ser-paisaje”, “Una conversación” e “Ser-Arquitectura”, bem como co-autor de “Le Corbusier y la síntesis de las artes”, “Activating Landscapes. Obra construída de RCR”, “¿Habitar la escultura?”, “Arquitecturas del límite”, “Doblando el ángulo recto”, “Arquitectura y ciudad. A tradición moderna entre la continuidad y la ruptura”, “Le Corbusier und das gedicht vom rechten winkel” e “Espanha. Architektur im 20. Jahrhundert”.

Eduardo Souto de Moura (1952) é arquiteto, licenciado pela Escola Superior de Belas Artes do Porto em 1980, ano em que iniciou a sua atividade profissional. Enquanto estudante, colaborou nos ateliês de Noé Dinis, Álvaro Siza e Fernandes de Sá, entre 1974 e 1979, tornando-se Professor Assistente na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto em 1981, e Professor Catedrático em 2010.

Foi professor convidado na Faculdade de Arquitetura de Paris-Belleville, na Universidade de Harvard, na Universidade de Dublin, no ETH de Zurique, na Escola Politécnica Federal de Lausanne, na na Academia de Mendrisio e no Pólo de Mântua do Politécnico de Milão.

Entre outros projetos, destacam-se: o Centro Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, no Porto, pelo qual venceria o Prémio SECIL, em 1992; o Estádio Municipal de Braga pelo qual venceria o Prémio SECIL, em 2004; a Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, pelo qual venceria o Prémio SECIL, em 2011, bem como o Prémio Internacional de Arquitetura atribuído pelo Chicago Athenaeum: Museum of Architecture and Design + European Centre for Architecture, Art, Design and Urban Studies.

Dignas de nota são também as intervenções patrimoniais no Convento de Santa Maria do Bouro, em Amares, nos atuais Museu dos Transportes e Comunicações e Centro Português de Fotografia, no Porto, tal como as intervenções territoriais na marginal de Matosinhos, no sistema de metro do Porto e de Nápoles.

Entre vários galardões, recebeu o Prémio da Associação Internacional de Críticos de Arte (1996), o Prémio Pessoa (1998), o Prémio Heinrich-Tessenow (2001), a Medalha da Academia de Arquitetura de França (2010), o Prémio Pritzker (2011), o Prémio Wolf (2013), o Prémio de Arquitetura Ibero-Americana (2016), o Prémio Piranesi (2017), o Leão de Ouro da Bienal de Veneza (2018), o Prémio Arnold W. Brunner (2019) e a Medalha de Ouro do Círculo de Bellas Artes (2023).

Foi igualmente condecorado com a Medalha de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (1995), de Grande-Oficial da Ordem do Mérito (1999), de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’lago da Espada (2012), e a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública (2019).