Encontro de Geometrias Irene Buarque 2002|2022 e Nuno Teotónio Pereira estudos de 1973|1974

Início em 17/10/2022 até 17/10/2022

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Inaugura no próximo dia 17 de outubro, das 18h às 21h, na Galeria Ratton Cerâmicas, o Encontro de Geometrias Irene Buarque, evento que está integrado no Centenário de Nuno Teotónio Pereira.

Com textos de Irene Buarque e João Afonso e com curadoria de Ana Maria Viegas e Tiago Montepegado, este desafio pretende celebrar o centenário de Nuno Teotónio Pereira, vinte anos depois da primeira exposição em azulejo que serviu como preparação de um trabalho que foi feito na estação da Ameixoeira, no Metropolitano de Lisboa, em 2003.

Para apresentar a iniciativa em a sua dimensão, publicamos um texto do arquiteto João Afonso:

No centenário de Nuno Teotónio Pereira

Celebrar o centenário de Nuno Teotónio Pereira é valorizar a obra de que foi autor e assumir o seu legado de cidadania.

Nuno Teotónio Pereira é um dos mais importantes arquitetos portugueses da segunda metade do século XX, quer pelas obras do Atelier da Rua da Alegria, a outra “Escola de Arquitetura” de Lisboa, que são um património vivo que temos de valorizar e proteger – Igreja de Águas, Bloco de Águas Livres, Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Torres dos Olivais, Casa Dr. Barata dos Santos, “Franjinhas”, Urbanização do Restelo, Estação Intermodal do Cais do Sodré, entre outras – quer pelo legado de compromisso social cujo traço mais marcante foi a luta pela habitação, iniciada na Federação das Caixas Portuguesas, estando tantos anos mais tarde na origem da política nacional de habitação, quer ainda pelo entendimento da importância da integração das artes na arquitetura, trabalhando com artistas como Frederico George, Almada Negreiros, Jorge Vieira, José Escada, Pedro Chorão e Irene Buarque.

Nuno Teotónio Pereira é um exemplo de cidadania, pela sua luta contra o regime fascista, contribuindo para a queda do Estado Novo e a implementação da democracia no 25 de Abril de 1974. Assume a sua intervenção politica no âmbito do movimento católico progressista, protagoniza o debate sobre a habitação a partir de 1948, apoia Humberto Delgado em 1958, está desde o inicio na luta contra a guerra colonial e pela independência das colónias, é candidato pela oposição nas eleições de 1969, participa ativamente em várias organizações – como o Sindicato de Arquitetos, o Centro Nacional de Cultura e a Cooperativa Pragma. A 26 de abril de 1974 é um dos presos políticos libertados de Caxias, sendo um dos oradores da grande manifestação do 1º de maio de 1974, funda e extingue o Movimento de Esquerda Socialista. Em 1978 será o primeiro presidente eleito da Associação dos Arquitectos Portugueses.

Irene e Nuno

Em 1973, Irene Buarque veio para Portugal, como Bolseira de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, fugindo da ditadura militar que oprimia o Brasil. Nuno Teotónio Pereira é preso pela terceira vez pela PIDE, sendo violentamente torturado.

O 25 de abril de 1974 trouxe a Liberdade e a libertação de Nuno Teotónio Pereira. Irene conhece Nuno e descreve esse encontro de forma simples e bela:

“No verão de 1974 estive pela primeira vez com o Nuno. Lembro a sensação de simplicidade, foi como estar com um franciscano.

Ficámos amigos, descobrimos o gosto pelas artes, música, livros, natureza e viagens.”

A partir dessa data iniciaram uma colaboração profícua e diversificada, que em determinada altura se consolida no seu casamento de 40 anos. Um trabalho conjunto que se iniciou no cavalete “invisível” desenhado por Nuno para a exposição de Irene “As Muralhas de Lisboa” na Fundação Calouste Gulbenkian (1975); em investigações/ levantamentos como o estudo “Evolução das Formas de Habitação Plurifamiliar na Cidade de Lisboa”(1978-1979); obras de arquitetura como a intervenção no piso 3 dos Paços do Concelho de Lisboa (1997); obras de arte pública como as “Portas da Cidade do Montijo”(2000) e desenho de espaço público como a Praça do Município da Covilhã (2001).

Estas janelas são, simultaneamente, uma celebração desse encontro e a continuidade dessa parceria.
Das janelas delineadas por Irene vimos as janelas que Nuno desenhou dentro da prisão; se por magia estivéssemos do outro lado, dentro daquele edifício sonhado por Nuno, contemplaríamos as janelas de Irene.

Irene Buarque propõe-nos olhar para Nuno Teotónio Pereira a partir dos desenhos que este trouxe de Caxias; gosto de imaginar que terão sido os mesmos que teria sobre a sua mesa quando se conheceram.
Cruzam-se os olhares.

João Afonso

ESPECIFICAÇÕES
  • Tema: Encontro de Geometrias Irene Buarque 2002|2022 e Nuno Teotónio Pereira estudos de 1973|1974
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