Início em 08/05/2021 até 10/10/2021

“Radar Veneza: Arquitetos Portugueses na Bienal 1975-2021″
, com curadoria de Joaquim Moreno e Alexandra Areia, é a próxima grande exposição da Casa da Arquitectura (CA), que abre portas na Nave Central a 8 de maio ficando patente até 10 de outubro. A mostra propõe uma viagem reflexiva sobre a participação portuguesa ao longo dos 46 anos representação nacional em Veneza, desde 1975 até aos nossos dias.
Recorde-se que a Direção-Geral das Artes depositou na CA o acervo das representações portuguesas na Bienal de Arquitetura de Veneza e é sobre esse espólio que a exposição é trabalhada, reunindo projetos de alguns dos nomes mais considerados na arquitetura portuguesa.
A exposição “Radar Veneza” contará com um programa paralelo no âmbito do qual será também lançado o catálogo homónimo, com ensaios de Joaquim Moreno, Alexandra Areia e Léa-Catherine Szacka (arquiteta, crítica e especialista na Bienal de Veneza).
Trata-se de um volume de 336 páginas com 31 entrevistas transcritas aos protagonistas das participações portuguesas na Bienal entre 1975 e 2021, 24 desenhos dos 24 objetos/grandes modelos apresentados na exposição e uma linha temporal – espaço para uma visão panorâmica das transformações, capaz de comunicar ideias e contextos gerais de cada Bienal e as circunstâncias específicas de cada representação nacional.
O catálogo “Radar Veneza: Arquitetos Portugueses na Bienal 1975-2021″ é uma edição Colophon, coeditada e produzida pela Casa da Arquitectura e coeditada pela Direção-Geral das Artes.
Texto curatorial
Radar Veneza: Arquitetos Portugueses na Bienal 1975-2021
O radar é uma arma invisível que torna as coisas visíveis porque converte objectos ou inimigos que não querem ser vistos ou sequer medidos em transmissores involuntários e compulsivos.
Friedrich Kittler (1999).
Radar Veneza
O radar obriga os objetos que estavam invisíveis a transmitir a sua posição. Capta em eco as posições relativas de atores que talvez preferissem permanecer em silêncio. Esta imagem tão nítida de uma máquina de tornar visível todo um campo de batalha é um eco da reflexão de Paul Virilio sobre Guerra e Cinema (1983). Segundo ele, a conversão do sinal de radar em imagem de radar desdobra a perspetiva do guerreiro em duas imagens sobrepostas do campo de batalha: a ocular e a eletrónica: a visão da proximidade e a visão para lá do visível, a tele-visão. Dizer “Radar Veneza” é deslocar esta maneira de imaginar, de tornar imagem, para outro campo e para outras batalhas e também a possibilidade de escutar outros ecos. Acrescentar uma janela temporal 1975-2021, é a oportunidade de sobrepor ao ciclo alargado da presença autónoma da arquitetura na Bienal de Veneza a representação cultural da arquitetura de um Portugal democrático. A difícil contradição deste mecanismo é a sua dificuldade de memorização, porque cada novo eco, por mais longínquo que seja, apaga o anterior; porque os combates importantes são sempre os do presente e as urgências do agora estão continuamente a ser atualizadas, ou, em linguagem de imagens eletrónicas, refrescadas. Dizer “Radar Veneza 1975-2021” permite imaginar e investigar novas perspetivas e reflexos desconhecidos, produzir imagens-memória destes campos de reverberações e colocá-las lado a lado numa acumulação de presentes sucessivos, num bairro Veneza que encena uma paisagem através de todos estes presentes.
Os Arquitetos Portugueses e a Bienal
Como o ciclo histórico da democracia portuguesa que observa, também este mecanismo promove a transparência das posições e dos vetores de movimento dos arquitetos portugueses, registando-os de forma autónoma através dos seus ecos involuntários. A tele-visão para lá do horizonte português deste radar, o contra-campo do olhar da Bienal para os arquitetos portugueses, complementa o campo das representações nacionais que constitui o núcleo documental original que a DGArtes depositou na Casa da Arquitectura. Constrói-se assim um duplo eco: por um lado o eco das transformações da Bienal de Veneza e da atenção que está dá aos arquitetos portugueses e por outros o eco dos mecanismos de representação que Portugal ativa para se fazer representar, que começaram para uns em 2002 e para outros em 2004, e de toda a complexa narrativa do que aconteceu antes e ao redor destas representações.
A investigação organiza-se em três planos: a cronologia — o registo de todas as cintilações do radar —, a história oral — o dar a palavra aos protagonistas dos eventos — e o bairro Veneza — campo de desenhos levantados das arquiteturas que se sucederam em Veneza. A cronologia colaborativa é o horizonte de todo o trabalho, o registo estruturante e aberto de uma história que começa a ser significante e pode informar os desafios do incerto futuro que imaginamos a partir deste presente confuso. O gesto da escuta, a atenção às vozes que testemunharam e protagonizaram esta história e as surpresas que surgem do diálogo e da rememoração, acumulam-se na história oral entretanto depositada na Casa da Arquitectura e da qual se dá apenas uma amostra editada. Para memória futura, as representações portuguesas e as instalações que os arquitetos portugueses foram convidados a construir na Bienal foram levantadas e desenhadas à mesma escala, num sistema de planos rebatidos que permite levantar e armar as suas superfícies e as suas formas. Desenhos levantados que articulam as perspetivas e as vizinhanças que o tempo proibiu e que depois se planificam outra vez para morar todos juntos no arquivo de todos estes presentes. Joaquim Moreno e Alexandra Areia
Biografias
Joaquim Moreno
(Luanda, 1973) é licenciado em Arquitetura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (1998); Mestrado (pré-Bolonha) em Arquitetura e Cultura Urbana, Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona, Universidade Politécnica da Catalunha (2001); Doutoramento em Arquitetura, Escola de Arquitetura, Universidade de Princeton (2011). Curador independente desde 2002, num trabalho continuado que inclui a exposição “Desenho Projecto de Desenho” (2002), em co-curadoria com Alberto Carneiro, dedicada ao desenho de arquitetura no século XX Português, a representação portuguesa à Bienal de Arquitetura de Veneza em 2008, com o filosofo José Gil, a exposição “Guido Guidi/ Carlo Scarpa: Tomba Brion” no Centro Cultural de Belém (Lisboa, 2014-15) com Paula Pinto e ainda a exposição “The University is Now on Air”, no Centro Canadiano de Arquitetura em Montreal, dedicada ao ensino da Arquitetura Moderna através da Rádio e da Televisão que a Universidade Aberta Inglesa propunha nos anos 70.
É Professor Auxiliar da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.
Alexandra Areia, arquiteta, investigadora integrada do DINÂMIA-CET, ISCTE-IUL, atualmente a trabalhar no projeto de investigação Middle Class Mass Housing (MCMH). Doutorada pelo ISCTE-IUL em 2019, com uma tese sobre a comunicação da arquitetura através de suportes fílmicos (analisando o caso específico de Manuel Graça Dias e o seu programa de televisão da RTP nos anos 1990); Mestre pelo programa Metropolis da Universitat Politècnica de Catalunya (UPC) e Centre de Cultura Contemporània de Barcelona (CCCB) em 2007; Estudou na École Nationale Superieure d’Architecture Paris Val-de-Seine (ENSAPVS) em 2002-03; Licenciada em arquitetura pela Universidade do Minho (UM) em 2004. Membro do coletivo Friendly Fire desde 2010, Programadora do Arquiteturas Film Festival em 2014-16, Redatora no Jornal Arquitectos (J-A) em 2016-18. Em 2019, escreveu para Porto Brutalista (Circo de Ideias) e coeditou Um Mapa de Lisboa no Cinema (Dafne Editora e Arquivo Municipal de Lisboa – Videoteca).
- Exposição: Radar Veneza
- Tema: Arquitetos Portugueses na Bienal 1975-2021