São 18 obras que expõem a afinidade entre a Álvaro Siza e a “Ideia de Barroco” e, a partir de 12 de setembro, revelam-se em “Siza, Câmara Barroca”, uma mostra que ficará patente até final do ano, no Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR), lado a lado com as coleções do Museu e a exposição temporária na extensão projetada por Fernando Távora.
A exposição resulta do projeto “Siza Barroco” – classificado em primeiro lugar no concurso lançado em 2021 pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, para projetos de IC&DT no âmbito da Arquitetura de Álvaro Siza – e encerra a investigação desenvolvida ao longo dos últimos três anos no Centro de Estudos de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (CEAU/FAUP).
“Siza, Câmara Barroca” é uma exposição que reúne 18 obras de Álvaro Siza, atravessando diferentes períodos do seu trabalho, estudado por uma equipa de investigadores coordenada por José Miguel Rodrigues (Investigador Responsável do projeto “Siza Barroco” e atual diretor do CEAU/FAUP) e Joana Couceiro (Investigadora integrada e corresponsável pelo projeto), ambos curadores da exposição, juntamente com Constança Pupo Cardoso (designer e curadora adjunta da exposição).
As obras de Álvaro Siza selecionadas para a exposição expõem então a afinidade que, desde cedo, as composições do autor estabelecem com a “Ideia de Barroco”, incidindo em trabalhos iniciados nas décadas de 70 e 80, segundo os investigadores, as mais barrocas ideologicamente.
“O reconhecimento das nuances da vida humana na expressão artística e na construção arquitetónica de um território coletivo – onde há lugar para a repetição, o anonimato, o dia-a-dia comum, mas também para os lugares de exceção, únicos e irrepetíveis -, caracteriza a cidade Barroca que Siza perseguiu e que esta exposição dá a ver fora da esfera académica”, assinalam ainda.
Em conexão com essa premissa “o Museu Nacional Soares dos Reis permite um enquadramento ao visitante, levando-o a percorrer as coleções do museu antes de entrar na câmara de ecos barrocos” dizem, destacando que a exposição “para além de desvelar alguns dos meandros da investigação a um público diverso, propõe uma interpretação retroativa da obra de Siza a partir de focos escolhidos”.
A exposição pode ser visitada até 31 de dezembro de 2024, no horário do Museu Nacional Soares dos Reis.
Arquitetura, pensamento e música cruzam-se no MNSR e na Igreja dos Clérigos
O programa paralelo à exposição, outra proposta do projeto, tem decorrido desde abril com conferências de Eduardo Souto de Moura, Angél Garcia-Posada, Juan José Lahuerta e Maria Filomena Molder, estando ainda agendado mais um ciclo de conferências e um colóquio com todos os investigadores.
Este segundo ato de conferências (com José Miguel Rodrigues e Joana Couceiro – “Siza e o Barroco”; Ana Tostões – “Siza e o Moderno”; e Jorge Figueira – “Siza e o Pós-moderno”) decorre no dia 28 de setembro, no Museu Nacional Soares dos Reis, terminando com um debate com todos os convidados, moderado por Sílvia Ramos, investigadora do projeto.
O colóquio “Betão, Branco, Dourado” será no dia 7 de dezembro e integra comunicações dos investigadores do projeto: Sílvia Ramos, Miguel Araújo, Mariana Sá, Ricardo Leitão, Inês Sanz Pinto, Mafalda Lucas, Graça Correia, Hélder Casal Ribeiro, João Pedro Serôdio, Luís Urbano, Marco Ginoulhiac, Nuno Brandão Costa, e dos convidados João Pedro Xavier e Susana Ventura.
O momento de encerramento vai ser assinalado no dia 14 de dezembro, com um concerto na Igreja dos Clérigos, em que o grupo vocal Olisipo interpretará Magnificat em talha dourada, uma composição de Eurico Carrapatoso, nosso contemporâneo (como Siza), e que (como Siza em relação à arquitetura) assume valorizar mais a tradição do que a originalidade na medida em que está, palavras do próprio, “mais preocupado em escrever música do que em escrever História”.
Para os curadores, trata-se de “um compositor do nosso tempo que trabalha a partir da música de outro tempo, como se os limites impostos pela cronologia Histórica perdessem rigidez”, assinalando que “como em Siza, a originalidade e a cronologia tornam-se valores frágeis”.
Esta posição em relação ao ofício, partilhada por ambos os autores, estende-se aos mestres e à própria obra: “o Magnificat é uma obra tonal em Sol Maior, que é a tonalidade que sinto nas talhas douradas”, constitui “uma homenagem ao Barroco” e, “como é natural, o espírito de Bach ecoa, pairando sobre a obra”.
Ecos que os curadores consideram que se estendem à arquitetura e a Siza, que chega a afirmar que “Todos temos uma componente barroca nas nossas mentes que não desaparece como as restantes.”
No último trimestre de 2024, é possível colocar à prova os lugares comuns associados ao barroco, nomeadamente o cronológico, e (é essa a convicção dos investigadores), compreendendo como estes não passam de pontos de partida de uma mundividência muito mais ampla que (como afirmava Siza), não desaparece.
A entrada é livre em todos os eventos, ainda que sujeita à lotação dos espaços.
Sobre o projeto Siza Barroco
“Siza Barroco” é um projeto de investigação financiado no contexto do concurso para projetos no âmbito da Arquitetura de Álvaro Siza, lançado pela Fundação Para a Ciência e Tecnologia (SIZA/CPT/0021/2019), e pelo então Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Ministério da Cultura, e CEAU-FAUP.
O projeto tem o apoio do Museu Nacional Soares dos Reis, da Fundação de Serralves, da Fundação Calouste Gulbenkian, do CCA – Canadian Centre for Architecture, da Drawing Matter, da Casa da Arquitectura, da Irmandade dos Clérigos e do Conservatório de Música do Porto.
Para além dos Investigadores Responsáveis José Miguel Rodrigues e Joana Couceiro, e da equipa de investigadores do CEAU-FAUP, o projeto conta com a participação de Ana Tostões (Professora Catedrática no IST) e Jorge Figueira (Professor Associado no Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra) e tem como consultores científicos: Maria Filomena Molder (Professora Catedrática da FCSH da Universidade Nova de Lisboa e Investigadora do IfILNOVA), Juan José Lahuerta (Professor titular da ETSAB-UPC e director de la Càtedra Gaudí na mesma Universidade) e Juan Luis Trillo (antigo Professor Catedrático da ETSA de Sevilla).
Foto 1: © DR
Foto 2: Malagueira, 1996. © Giovanni Chiaramonte. CCA, Álvaro Siza fonds/Canadian Centre for Architecture