Atelier Menos é Mais e Carlos Bunga vencem Prémios AICA 2023

Categorias: Arquitetura

Os arquitetos Cristina Guedes e Francisco Vieira de Campos, do Atelier Menos é Mais e o artista plástico Carlos Bunga foram distinguidos com os prémios da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), para artes visuais e arquitetura em 2023, anunciou esta entidade.

Atribuídos numa parceria da secção portuguesa da AICA com o Ministério da Cultura, através da Direção-Geral das Artes, e a Fundação Millennium bcp, o Prémio AICA/MC/Millennium bcp 2023, no valor de 10.000 euros para cada modalidade, foi atribuído por unanimidade na sequência da apreciação de um júri independente, nomeado pela associação.De acordo com a Secção Portuguesa da AICA, em comunicado, o Prémio AICA de Artes Visuais foi atribuído a Carlos Bunga, “reconhecendo a importância das exposições” realizadas em 2023 no Bombas Gens Centre d`Art de Valencia, Espanha, no Sarasota Art Museum da Florida, nos Estados Unidos, e a participação na 35.ª Bienal de São Paulo, no Brasil.Quanto ao Prémio AICA de Arquitetura foi para a dupla Cristina Guedes e Francisco Vieira de Campos — Menos é Mais Arquitetos — pela obra de reabilitação do edifício da Companhia de Seguros “A Nacional”, na Avenida dos Aliados, no Porto, “inserida num percurso de referência na cultura arquitetónica portuguesa”, segundo um comunicado da organização.

O júri foi composto por Ana Tostões, que presidiu, Ana Anacleto, Lígia Afonso, João Belo Rodeia e Susana Ventura, e reuniu a 18 de abril para atribuição dos prémios.

De acordo com a ata da reunião do júri, a atribuição do prémio ao artista Carlos Bunga reconheceu a “singularidade das suas obras, orientadas para o processo, criadas no cruzamento dos campos disciplinares e formatos da escultura, pintura, desenho, performance e vídeo, resultando muitas vezes em instalações `in-situ` de forte componente arquitetónica”.

“Utiliza recursos simples e despretensiosos, tais como papel, cartão de embalagem, fita adesiva e tinta industrial, com os quais ensaia gestos simples e monumentais, delicados e robustos, intuitivos e ascéticos, em ações de fazer e desfazer, sobrepor e acumular, que valorizam o tempo, a cor e a poética dos materiais”, descreve o júri sobre o trabalho de Bunga.

O júri fundamentou a escolha referindo o trabalho apresentado em 2023 sobretudo no contexto internacional, em que se destacaram as exposições individuais realizadas na sequência das mostras recentes no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madrid, e no Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, bem como da exposição realizada na abertura do Museu Helga de Alvear, em Cáceres, todas as cidades de Espanha.

Na ata da reunião, a opção da atribuição do prémio de arquitetura a Cristina Guedes e Francisco Vieira de Campos — Menos é Mais foi justificada a partir da obra de reabilitação do edifício da Companhia de Seguros “A Nacional” – da inicial autoria do arquiteto portuense José Marques da Silva -, “pela subtileza das intervenções no edificado original, que poderão designar-se de cirúrgicas”.

A intervenção “possibilitou uma delicada adaptação de uso sem criação de dissonâncias, com especial atenção à invisibilidade das infraestruturas. Constitui, assim, um contributo exemplar no âmbito dos atuais debates em torno da reabilitação e reutilização do património arquitetónico e da sua integração na cidade”, sublinha ainda o júri.

“Não obstante a singularidade desta obra, este prémio procura destacar, igualmente, o consistente trajeto disciplinar de grande rigor dos autores, inseparável de um conhecimento minucioso sobre a arte da construção”, salientam na ata.

Carlos Bunga, nascido no Porto, em 1976, e a viver atualmente em Barcelona, desenvolve uma obra de intervenções em lugares escolhidos previamente, que modifica através de materiais do quotidiano como papelão, tinta e fita adesiva.

O seu trabalho é reconhecido pelas instalações de grandes dimensões, elaboradas como estruturas arquitetónicas que muitas vezes destrói em performances, ou até mesmo antes da abertura da própria exposição.

O trabalho de Bunga tem sido exposto em museus e centros de arte internacionais como o Museu de Serralves, no Porto (2012), o Museu Universitário de Arte Contemporânea, na Cidade do México (2013), o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa (2019), a Whitechapel Gallery, em Londres (2020), e o Museu Nacional Rainha Sofia (2022), entre outros.

Carlos Bunga formou-se na Escola Superior de Artes e Design (ESAD), nas Caldas da Rainha, estudou também em Nova Iorque, e venceu o prémio EDP Novos Artistas em 2003.

Por seu turno, Cristina Guedes, de Macau, e Francisco Vieira de Campos, do Porto, fundaram o ateliê MéM – Menos é Mais Arquitectos, em 1994, e as suas obras “são uma resposta pragmática a contextos específicos”, exemplificados em projetos como a Adega Gravítica da Quinta do Vallado, no Douro, as estações do Teleférico de Gaia, e no Arquipélago Centro de Artes Contemporâneas (com JMR), na ilha de São Miguel, nos Açores, estes últimos expostos na Bienal de Veneza de 2016, “Reporting from the front”, e de 2018, “Public Without Rhetoric”.

Ambos os arquitetos combinam a prática com o ensino: Cristina Guedes é professora convidada em diversas universidades nacionais e internacionais, nomeadamente na Universidade da Suíça Italiana – Accademia di Architettura di Mendrisio (2018-2022), na Universidade de Arquitetura de Lisboa e na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.

Francisco Vieira de Campos é professor convidado na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto e na Escola de Arquitetura da Universidade de Navarra, em Pamplona, Espanha.

Mais recentemente, ganharam o Prémio Secil de Arquitetura em 2020 (Lisboa), o Prémio AIT em 2020 (Frankfurt), o Prémio Nacional de Arquitetura em Madeira em 2020 (Alcobaça), o Prémio Internacional de Restauro em Arquitetura BIGMAT`17 (Luxemburgo), o Prémio FAD em 2016 (Barcelona) e o Prémio BIAU de Arquitetura em 2016 (São Paulo), 2012 (Cádiz) e 2006 (Montevideo).

A Menos é Mais foi também nomeada para o Prémio Mies van der Rohe em 2019, 2015, 2013 e 2009 (Barcelona).

Os Prémios AICA têm reconhecido, desde 1981, artistas e arquitetos portugueses que, pelo seu trabalho e percurso pessoal, realizem uma contribuição de excelência para a cultura e a arte.

No primeiro ano de atribuição destes prémios, foram distinguidos o pintor Costa Pinheiro e o arquiteto Álvaro Siza.

Luísa Cunha, Joaquim Rodrigo, António Dacosta, Júlio Resende, Alberto Carneiro, António Sena, Álvaro Lapa, Jorge Martins, Malangatana, Nikias Skapinakis, Ana Vieira, Júlio Pomar, Cruz-Filipe, Paula Rego, René Bertholo, Helena Almeida, Daniel Blaufuks e Rui Chafes são alguns dos artistas distinguidos, na área de Artes Visuais, desde 1981.

Entre os arquitetos premiados, destacam-se Raul Hestnes Ferreira, Alcino Soutinho, Nuno Teotónio Pereira, Victor de Figueiredo, Manuel Vicente, Gonçalo Byrne, Pedro Ramalho, Manuel Tainha, Carrilho da Graça, Frederico George, Fernando Távora, Eduardo Souto de Moura, Pancho (Anâncio) Guedes, Manuel Graça Dias e Egas José Vieira, Daciano da Costa, Ruy d`Athouguia, Paulo David, José Neves e Nuno Brandão Costa.

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