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O coliving é a nova tendência imobiliária a instalar-se em Portugal. Há projetos para a criação de mais 500 novas camas a surgir no espaço de dois anos mas o potencial de oportunidade vai até às 18 mil em Lisboa e no Porto, contas feitas pela consultora JLL
Os millennials estão a mudar a mundo em todas as frentes e claro, também no imobiliário. Com uma atitude totalmente diferente da geração anterior, estes jovens profissionais destacam-se pela facilidade com que se movimentam pelo globo e pela apetência por novas experiências, que já lhes conferiu o estatuto de nómadas digitais. Esta movimentação que lhes é característica está já a ter consequências diretas no imobiliário e no urbanismo dos locais que lhes são atrativos, multiplicando-se a abertura de projetos feitos à sua medida.
Portugal que nos últimos três anos tem assistido à multiplicação de novos espaços de coworking e de residências universitárias, está agora também a ser atentamente seguido por investidores que querem apostar em edifícios coliving, um modelo de habitação transitório onde as pessoas ficam por uma fase da sua vida, onde os apartamentos são de pequena dimensão e onde se privilegiam as áreas comuns como ginásio, lavandaria ou salão de festas, ou seja, pontos de encontro que promovam a partilha dos residentes do prédio.
Por cá, existem atualmente apenas 50 camas de Coliving em operação e uma carteira de outras 570 em desenvolvimento para os próximos dois anos. Mas um estudo hoje apresentado pela consultora JLL (em parceria com a Joyn) – o “Portugal Coliving- Follow the Trend” – mostra que a procura potencial para este tipo de habitação partilhada possa atingir entre 16.000 a 18.000 camas em Lisboa e no Porto, ou seja, mais de 25 vezes o atual pipeline.
Este “pipeline” inclui o projeto Smart Studios, com 114 camas em Santa Apolónia, previsto para dar resposta aos profissionais do Hub Criativo do Beato, junto ao qual nascerá outro projeto de Coliving com aproximadamente 120 camas. Para o centro de Lisboa está previsto o maior dos projetos, com 300 camas e vários espaços de Coworking. Para o Porto está projetado um Coliving com 40 camas, a ser operado pela B-Hive Living.
“O nosso país é um mercado de grande potencial para o Coliving. É cada vez mais um destino global, procurado para trabalhar, estudar, investir e viver, e, por isso, o fluxo de pessoas com apetência para a experiência do Coliving vai aumentar cada vez mais, à medida que este tipo de habitação também se vai impondo por toda a Europa como um estilo de vida e uma das opções mais pretendidas para viver nas cidades. Por outro lado, e apesar dos investidores e operadores nacionais e internacionais terem já investimentos em Portugal que aumentam em dez vezes o atual stock de camas, a oferta continuará a ser muito reduzida e está longe de dar resposta a esta procura latente. Com estes ingredientes não há dúvida de que vamos assistir a um crescimento forte do investimento no Coliving nos próximos em Portugal, com Lisboa e Porto a serem vistas como cidades de grande oportunidade”, sublinhou Maria Empis, diretora do departamento de consultoria.
Nabase desta procura estão os nómadas digitais que ficam nas cidades por períodos de tempo mais curtos, os expatriados atraídos pelas recentes multinacionais que se estabelecem em Portugal, os empreendedores internacionais que se mudaram para Lisboa, onde querem viver e interagir, requerendo serviços que permitam uma instalação suave nas suas novas cidades. Mas também os jovens trabalhadores entre os 20 e 35 anos que têm pelo menos uma licenciatura, ganham mais de 1.200 euros líquidos por mês e vivem sozinhos ou com um cônjuge, sem filhos. Normalmente procuram flexibilidade e não pretendem formar família nos próximos anos. Os estudantes internacionais e os nacionais deslocalizados, bem como os jovens empreendedores também integram a procura potencial de Coliving em Portugal.
“Os investidores procuram hoje oportunidades em segmentos onde a procura é muito maior do que a oferta em busca de retornos mais elevados e diversificação de ativos e, em especial, estão atentos aos segmentos alternativos, onde os drivers da procura são gerados em mudanças demográficas e geracionais. O Coliving assume uma atratividade especial neste contexto, dando resposta à geração dos millennials naqueles que são alguns dos seus gostos e necessidades mais marcantes: a partilha, a mobilidade, a flexibilidade e a experiência pessoal”, acrescentou a responsável, lembrando que “Portugal responde de forma muito atrativa a todos estes requisitos, com a mais valia de ter um dos pipelines mais diminutos na Europa”.
O estudo identificou 40 cidades na Europa como destinos apetecíveis para o estabelecimento de projetos de Coliving, distinguindo-as entre mercados-chave, de crescimento, de oportunidade e de oportunidade de longo-prazo, considerando o momento da procura de Coliving, a escala e atividade do mercado, bem como o seu potencial de crescimento a longo-prazo.
De acordo com o estudo, o mercado europeu de Coliving contabiliza atualmente 23.500 camas entre projetos já construídos ou em desenvolvimento, sendo que 60% dos projetos em funcionamento ficou operacional nos últimos dois anos, o que comprova o rápido crescimento deste segmento e a sua atratividade para o investimento. Londres e Amesterdão são os dois principais destinos deste tipo de imobiliário, concentrando entre si 40% deste stock o que não surpreende devido aos seus estatutos de cidade global, populações jovens e mercados imobiliários dinâmicos.
Lisboa, na 27ª posição, e o Porto, na 39ª, são respetivamente encarados como mercados de oportunidade a longo-prazo. Lisboa classifica-se no mesmo grupo de Barcelona, Madrid, Milão ou Liverpool, e Porto alinha com Roma, Sevilha, Valência ou Marselha.
Texto © Visão
Imagem © Edifício de Co-Living Santa Apolónia Smart Studios