
As casas projetadas por Rafael Freitas e Renato Fernandes são desenhadas em 3D (três dimensões), as peças em aço leve produzidas em 24 horas, trazem manual de instruções e a montagem, numa semana, é feita com parafusos.
O arquiteto, de 30 anos, e o empresário da construção, de 32, decidiram criar uma empresa de construção de “casas que se montam como legos e podem ajudar a salvar o planeta”.
O protótipo da casa de montagem “rápida e 100% ecológica” começou este mês na freguesia de Lavradas, em Ponte da Barca, e vai estar pronta até ao verão.
“Não se usa cimento nem tijolos, gruas e água. No final, é uma construção tão segura como as casas tradicionais, com a grande vantagem de ser ecológica e é esse o futuro”, explicou Renato Fernandes.
Rafael Freitas faz “o desenho da estrutura em 3D, peça a peça, e entrega o projeto a uma fábrica que, através de uma máquina perfiladora de aço, que o vai cortar à medida, com os furos certos para os parafusos”.
“Basicamente é chegar com uma ‘pen’ à fábrica, meter a ‘pen’ na máquina que faz a impressão das peças. No final, as peças são automaticamente embaladas, há um manual de instruções associado a cada componente do edifício e um manual geral”, especificou Rafael Freitas.
Além de fornecer a “solução”, a empresa quer prestar o serviço de montagem.
“Se as pessoas sentirem que são capazes de montar a estrutura por elas próprias, tudo bem, embora o projeto tenha sempre de ser acompanhado por uma empresa de construção certificada. No entanto, a empresa pretende prestar também o serviço de montagem, porque apesar de ser fácil, não é como por exemplo montar um móvel”, adiantou.
A empresa D’Aço que os dois jovens empreendedores decidiram criar em tempo de pandemia ainda não está “formalmente constituída”, mas o sistema construtivo que propõem ao conceito ‘Passive House’ – norma para a eficiência energética dos edifícios, reduzindo a sua pegada ecológica – “tem tido um bom ‘feedback’”.
“Já recebemos 13 pedidos de orçamento, um deles de Viseu”, apontou Rafael Freitas.
“Nós não estamos a inventar nada. A inovação construtiva não é da nossa empresa. Em Portugal, o aço leve LSF (Light Steel Framming) já é aplicado há vários anos na construção prefabricada de baixo custo. A nossa ideia foi repensar a construção que se faz em Portugal e associar o aço leve a uma resposta de habitação de luxo”, realçou o arquiteto.
A solução aposta no “conforto térmico para responder ao regulamento Nearly Zero Energy Building (NZEB), que vai obrigar os edifícios a terem um consumo energético praticamente igual a zero, por causa das alterações climáticas”.
“Além de ser uma obra muito mais rigorosa em termos de custos, porque o aço leve é vendido ao quilograma, é montada em tempo recorde, com uma pegada ecológica muito inferior ao sistema tradicional, tendo em conta que a estrutura é 100% reciclável”, adiantou o arquiteto.
No final do tempo de vida “o edifício pode ser desmontado e reciclado, componente a componente, com separação total porque, em vez de colas e argamassas, usam-se parafusos”.
“Com este tipo de construção reduzimos significativamente as emissões de carbono inerentes a um processo construtivo tradicional, além de ser uma estrutura desmontável e reciclável que pode ganhar nova vida”, argumentou o arquiteto.
Renato Fernandes tem uma empresa de revestimentos e percebeu que no distrito de Viana do Castelo o novo modelo construtivo “podia ser uma oportunidade de negócio a explorar”.
A ideia foi tema de “conversa no café”, em 2020, “no pico” da pandemia de covid-19, motivada “pela grande dificuldade em encontrar mão-de-obra qualificada” no setor da construção civil.
A “brincadeira” transformou-se num “assunto sério” que o primeiro confinamento geral ajudou a amadurecer e transformou-se num negócio que já começou a ganhar forma a partir de setembro.
“Pelo meio houve pesquisa, estudos de mercado, investimento em formação na área, e agora estamos a fazer a casa zero, onde vamos pôr em prática o ‘know-how’ (conhecimento) que adquirimos. Aprender e corrigir os erros que venhamos a cometer para, a partir do verão, estarmos preparados para a produção das casas dos orçamentos que nos têm pedido”, explicou Renato.
A criação de uma página nas redes sociais e de um sítio na Internet têm ajudado a dar dimensão à D’Aço, que começou por ser “um desafio de um amigo a outro e que, rapidamente, virou um caso sério”.
© O Minho
Imagens: D’ACO