O edifício compacto, esguio e modular é uma Linha que une realidades opostas. A proposta do escritório de arquitetura MASSLAB é uma das premiadas e destacada pelo júri pela sua qualidade, sobriedade e coerência arquitetónica, no concurso de habitação acessível para 60 fogos para o município de Freamunde, em Paços de Ferreira.
Localizado numa zona de transição entre o urbano e o rural, entre edifícios de habitação unifamiliar de baixa densidade e habitação coletiva de maior densidade, entre uma escola e uma zona expectante, a proposta integra-se na envolvente, capaz de articular o diálogo entre estas realidades opostas.
Com uma área de intervenção longitudinal e uma topografia pendente ao longo da frente de rua, o edifício aglutina-se à paisagem enquanto uma barra contínua e articulada, desenhada sobre uma linha vincada que lhe dá nome, e onde através de uma aparente rigidez, quer no desenho da volumetria do edificado, quer na métrica ritmada da fachada, a proposta sugere diferentes momentos de contenção e compressão, deixando em aberto a restante implantação, permitindo interações variadas dos usuários com o edifício, e proporcionando uma franca relação com as valências urbanas na sua envolvente, potenciando-as.
Desenhado sob plataformas horizontais demarcadas e com uma composição disposta a partir de elementos modulares que ditam o ritmo de ambas as fachadas, o conjunto imprime uma identidade singular em que o júri destacou ”a qualidade da proposta em termos arquitetónicos, a sobriedade e a coerência do projeto”.
A estrutura modular pré-fabricada recorre ao uso de uma unidade mínima volumétrica que se replica nos planos verticais e horizontais, e se desdobra de maneira a conformar espaço e multiplicar usos. O vazio que resulta deste ritmo estrutural, definindo o módulo básico do habitar, é transversal à totalidade dos 60 fogos propostos. O uso da pré-fabricação permite, mais do que uma economia de meios, uma racionalização de montagem e uma relação estruturada entre cada elemento que compõe o espaço interior. Com tanta diversidade daquilo que somos, da constituição das famílias e dos modos de habitar, conceber o espaço habitável não é criar uma máquina de habitar, mas sim criar espaços flexíveis habitáveis que permitam acomodar a diversidade e heterogeneidade dos modos de vida contemporâneos, onde a casa se adapta ao utilizador, e não o contrário.
Dado que os espaços públicos são os grandes responsáveis pela convivência e colaboração entre as pessoas, e os edifícios não existem sem elas, de forma a garantir a longevidade do edificado, deve-se garantir de alguma forma o sentido de posse e pertença por parte daqueles que o usam, onde espaços partilhados são de todos, para todos.
Assim sendo, na longitudinalidade compacta do volume, abrem-se dois grandes vãos que marcam a possibilidade de tornar cada entrada num ponto de encontro dos habitantes, enfatizando a relação entre os demais moradores e a franca relação entre as dimensões do espaço construído e o espaço natural a tardoz.
Se por um lado as grandes aberturas no embasamento aliviam a tensão criada que marcam a frente de rua pelo desenho contínuo do edifício, através das grandes aberturas no embasamento, o logradouro desenha-se como uma compreensão racional do declive original do terreno, desenhando plateaus, desafogados para a paisagem, e de relação clara e fluída entre si. A variedade e flexibilidade destes espaços públicos intencionalmente criados procuram propor diferentes programas nos plateaus cobertos e descobertos, adaptar-se às condições do local e dar resposta às necessidades dos residentes e da comunidade vizinha.