Exposição e conferência em Milão por João Luís Carrilho da Graça

Categorias: Arquitetura

A Milano Arch Week apresenta a partir de 24 de Maio, a exposição “Carrilho da Graça: Lisboa.” Depois de passar por Portugal, Uruguai, Argentina, Brasil, Espanha e França, é agora a vez de Itália.

É uma exposição belíssima, uma narrativa da sedução que uma cidade pode produzir sobre um autor (..). Há já algum tempo que não se via em Lisboa, e sobre Lisboa, uma exposição de arquitectura tão verdadeira quanto esta.
Por Ana Vaz Milheiro
Pode uma cidade ser revelada através de um arquitecto?
Jornal Público _ 22.09.2015

Vai inaugurar em Milão, na próxima 5ª feira, 24 de Maio, e integrada na Milano Arch Week, a exposição Carrilho da Graça: Lisboa, que conta com a curadoria de Marta Sequeira, docente e investigadora da Universidade de Lisboa e Susana Rato, arquiteta e outrora colaboradora do atelier Carrilho da Graça. Trata-se de uma seleção de 13 projetos para a cidade de Lisboa, de um dos mais conhecidos arquitetos portugueses, desenhados entre o final dos anos de 1980 e 2015.

Esta não é uma exposição sobre João Luís Carrilho da Graça, nem sobre a sua obra. Não é, tão-pouco, apenas uma exposição sobre os seus projetos. Apesar do inevitável carácter antológico, esta mostra manifesta sobretudo um modo de olhar, presente desde o início da sua atividade profissional e docente, aqui ilustrado a partir da cidade sobre a qual tem trabalhado desde há mais de 30 anos: Lisboa.

Vivemos sobre a terra e construímos com tudo o que está disponível. Podemos construir o que quisermos, mas não podemos deixar de construir com sentido.
João Luís Carrilho da Graça, in “A arquitectura é perigosa”, 1994
Os conteúdos desta exposição permitem a aproximação a uma teoria do território, enunciada numa planta e numa maqueta de Lisboa, e reiterada pelas maquetas dos projetos apresentados. Trata-se de uma teoria que compreende o fato de as linhas e pontos notáveis que caracterizam a topografia estarem na base dos percursos e assentamentos humanos e, portanto, da construção da cidade e da sua arquitetura.

O propósito de que o projeto de arquitetura assenta na análise do território subjaz, de resto, a toda a obra de João Luís Carrilho da Graça, que adquiriu o que melhor se poderia denominar como vocação territorial. A seleção de obras apresentadas nesta exposição corresponde então a um verdadeiro catalogue raisonné dos trabalhos de Carrilho da Graça para a cidade de Lisboa – não se trata de uma compilação completa e definitiva, mas dos projetos mais relevantes considerados neste contexto pelo autor.

Para além de muitos edifícios existentes, estão aqui representados projetos que não chegaram a ser concretizados, bem como outras versões dos edifícios construídos – com a mesma liberdade criativa que dominou Palladio, ao rever os projetos das suas primeiras villas quando os publicou em I quattro libri dell’architettura.
Estão representados projetos profusamente publicados, desde a Escola Superior de Comunicação Social (1987-1993) ao Terminal de Cruzeiros de Lisboa (2010-2018), mas são também apresentados projetos até aqui pouco difundidos, como o plano no âmbito do Programa VALIS (1991) ou vários projetos de concursos que, apesar de terem sido classificados em primeiro lugar, não chegaram a ser construídos – como a Ampliação da Assembleia da República (1992).
Esta exposição não apresenta estes projetos com todo o detalhe, mas oferece as pistas necessárias para os observar à luz desta teoria do território, desta construção auxiliar, que, de um modo mais ou menos evidente no final, esteve sempre profundamente presente na origem de todas as intervenções. Esta exposição ocupa-se, afinal, da tradição de João Luís Carrilho da Graça, no mais puro sentido etimológico do termo: do que nos entrega, do que nos oferece como legado.
A propósito, Ana Vaz Milheiro, Crítica de Arquitetura, questiona
«Pode uma cidade ser revelada através da perspetiva pessoal de um arquiteto?
Porque em Carrilho da Graça: Lisboa, não é Lisboa que se vê, mas a cidade e o seu arquiteto, isto é, uma realidade paralela construída a partir do imaginário de um autor.»

E afirma
«Carrilho da Graça é um olisipógrafo da novíssima geração, que trabalha sobre Lisboa com a dedicação de um poeta.»
Carrilho da Graça: Lisboa foi apresentada pela primeira vez em Setembro de 2015, em Lisboa, no Centro Cultural de Belém/Garagem Sul Exposições de Arquitetura. Tem desde então passado por várias cidades entre as quais Bogotá (Museu de Arquitectura Leopoldo Rother), São Paulo (Museu da Casa Brasileira), Barcelona (Museu Marítim), Tomar (Convento de Cristo), Montevideo (Centro de Exposiciones Subte e Facultad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo de la Universidad de la República), Buenos Aires (Usina del Arte no âmbito da XVI Bienal Internacional de Arquitectura de Buenos Aires), Madrid (Colégio Oficial de Arquitectos de Madrid e integrado na 15a Mostra de Cultura Portuguesa de Madrid) e Paris (École Nationale Supérieure d’Architecture Paris-Val de Seine e École Nationale Supérieure d’Architecture Paris-Belleville e integrado no Festival Lusoscopie).
Até ao momento foi vista por mais de 125 mil visitantes.
O catálogo desta exposição, editado em português e inglês por André Tavares e Dafne editora e em espanhol pela editora C2C, recebeu a menção honrosa Julius Posener Exhibition Catalogue Award 2017 atribuída pelo Comité Internacional de Críticos de Arquitectura (CICA), prémio dedicado a catálogos de arquitetura.
Conta com o Alto Patrocínio do Presidente da República Portuguesa, o apoio da Direção Geral das Artes e do Instituto Camões e foi considerada pelo Ministério da Cultura Português de Manifesto Interesse Cultural.
No dia 24 de Maio, Carrilho da Graça dará uma conferência sobre os conteúdos expositivos da mostra.

Comissariado _ Marta Sequeira e Susana Rato • Projeto expositivo _ João Luís Carrilho da Graça, Marta Sequeira, João Cruz, Beatrice Muzi • Produção _ Rita Faustino Salgado • Documentário _ Manuel Graça Dias (autoria), José Edgar Feldman (realização e montagem), Paulo Abreu (imágem), Miguel Mares, Miguel Rafael (operação de imagem), Nuno Carvalho (sonoplastia), Paulo Curado (mistura de som), Nápoles Produções (produção), Paulo Guerra (director de produção), Ana Teresa Hagatong, Francisco Freire, Paulo Barreto, Victor Beiramar Diniz (produção JLCG), Sérgio Figueiredo (transcrição e tradução para inglês), Maria Guerreiro (tradução para espanhol) • Vídeo _ Tiago Casanova (realização e edição), Miguel Rafael (operação de imagem), com a colaboração de ARCHC_3D / CIAUD / FA-ULISBOA • Maquetas _ Paulo Barreto (coordenação), Filipe Louraço, Margarida Belo, Cristina Reis, Vincenzo Buongiorno, João Centeno, João Aragão, Pedro Quendera, Antonio Carrilho da Graça, João Cruz, Diana Ledo, Teresa Hagatong, Mariana Bacelar, Mariana Salvador, María Pathe, Teresa Buryova, Caroline Escanda • Desenhos _ Nuno Pinto, João Cruz, Filipe Louraço, Fábio Azevedo, Beatrice Muzi • Design gráfico _ P-06 atelier
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Exposição “Carrilho da Graça: Lisboa”
Inauguração: 24 de Maio, 15:30
Datas: 24 de Maio a 29 de Junho, segunda a sexta, das 9:00 às 19:30
Local: Scuola di Architettura Urbanistica Ingegneria delle Costruzioni _ Politecnico di Milano _ _ Gamma Hall
Morada: Via Andrea Maria Ampère, 2, 20133 Milano

Conferência com João Luís Carrilho da Graça
Datas: 24 de Maio, 16:00
Local: Scuola di Architettura Urbanistica Ingegneria delle Costruzioni _ Politecnico di Milano _ Patio
Morada: Via Andrea Maria Ampère, 2, 20133 Milano
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João Luís Carrilho da Graça
N. Portalegre, 1952. Arquiteto, licenciado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1977, ano em que iniciou a sua atividade profissional.
Ao conjunto da sua obra foram atribuídos diversos prémios, nomeadamente: “Royal Institute of British Architects 2015 International Fellowship”, medalha da “Académie d’Architecture”, frança, em 2012, título de “Chevalier des Arts et des Lettres” pela República Francesa em 2010, “Prémio Pessoa” em 2008, Ordem de Mérito da República Portuguesa em 1999 e prémio “AICA – Associação Internacional dos Críticos de arte” em 1992.
Foi nomeado para o prémio da união europeia para a arquitectura contemporânea — prémio “Mies Van der Rohe” em diversas ocasiões, e foi distinguido, entre outros, com o “AIT Award” 2012, o prémio internacional de arquitectura sacra “Frate-sole” 2012, o “Piranesi Prix de Rome” 2010, o prémio “FAD” 1999 e o “Prémio Secil de Arquitectura” 1994. Participou na exposição central da 15a Bienal de Arquitectura de Veneza, e na representação oficial de Portugal às 12a e 13a Bienais.
Assistente na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa de 1977 a 1992 e catedrático convidado na mesma escola desde 2014. Professor na Universidade Autónoma de Lisboa de 2001 a 2010 e na Universidade de Évora entre 2005 e 2013, onde dirigiu o Doutoramento em Arquitectura.
Professor visitante da Escuela Técnica superior de Arquitectura de la Universidad de Navarra em 2005, 2007, 2010, 2014 e 2015 e do College of Architecture, Art, and Planning da Cornell University, New York, em 2015.
Em 2013 recebeu o grau de Doutor ‘Honoris Causa’ pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Em 2015 foi tornado membro honorário da Ordem dos Arquitectos Portugueses.
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