
Edifício Central do Parque Tecnológico de Óbidos do arquiteto Jorge Mealha recebeu o Prémio Iconic Awards 2015.
O ponto de partida do projecto, do concurso que lhe dá origem, assume o propósito da construção do Edifício Central e Praça Central do Parque Tecnológico de Óbidos.
Como desenhar uma Praça Central sem uma cidade, sem os seus nexos conviviais, económicos e tecido urbano a montante? Se nos focarmos unicamente na sua dimensão cenográfica, corremos o risco de nos cingirmos apenas a um desenho apelativo descurando a sua razão de ser – o seu sentido cívico e urbano – que lhe permita sobreviver aos usos e ás modas. Ou seja, a manutenção de uma vocação convivial ao longo do tempo.
Uma resposta possível pode alicerçar-se numa perspectiva contemporânea sobre a memória deste território, exaltando as razões do ser e do fazer de alguns lugares da região, procurando resquícios de tradições ou espaços que proponham nexos indutores ao seu desenho.
Neste território que não é urbano, as marcas da sua identidade e memória estão ainda presentes com um sentido predominante, em diálogo com o desenho de estruturas contemporâneas. Na região fixamos ainda extensos apontamentos de floresta e mata, pontuados por pequenos aglomerados e construção dispersa, rasgados por vias de transportes que em conjunto desenham um sentido ou, se quisermos, uma identidade para este território.
Esta região, ainda predominantemente verde, é pontuada por estruturas construídas com bastante interesse, nomeadamente alguns conventos e seus claustros, igrejas, casas senhoriais, alguns pequenos núcleos de habitação e estruturas agrícolas que pelo seu desenho, normalmente muito claro do ponto de vista da sua geometria, se adossam ao território.
É esta identidade de grande espaço verde, por vezes de floresta densa, pontuado por construções de desenho muito claro e singelo e que ao longo do tempo lhe têm conferido um sentido, que o projecto procura utilizar como mote para o desenho que controla e integra o programa proposto.
Em termos gerais é proposta a criação de um lugar central, um terreiro se quisermos, que procura reforçar o sentido de recuperação das estruturas cívicas da região e que está subjacente ao projecto do Parque Tecnológico.
O desenho do “terreiro” resulta da relação dada pelas fachadas dos edifícios no piso térreo – parcialmente enterrados – e pelo morro criado a noroeste que resulta do movimento de terras necessário à implantação dos edifícios. O “terreiro”, é desenhado enquanto sugestão do resultado de um processo de erosão do solo. A sua delimitação é clarificada pelas fachadas dos dois corpos semi-enterrados e pelo corpo quadrado suspenso. A acentuação da delimitação deste lugar é enfatizada pelo desenho do corpo do piso 1, um enorme quadrado vazado que paira sobre o terreno. Este corpo procura evocar para o exterior a clareza e simplicidade de algumas construções existentes na região, singelamente adossadas ao território, sugerindo mais uma marca na construção da identidade desta paisagem.
Procura ainda atenuar a escala do programa, sugerindo de certo modo que o núcleo central convivial e cívico do Parque Tecnológico se constrói de um modo simples através da delimitação da zona pavimentada que é envolvida pela estrutura verde – delimitada pelas fachadas e muros – e pelo quadrado vazado que sobre ela paira.
Este anel procura que a sua leitura do exterior seja tão simples quanto possível, quase como se tratatasse de um longo muro texturado. Tal efeito é conseguido por se justapor ás paredes e janelas uma fina membrana de sombreamento em chapa quinada perfurada e pintada de branco.
Todo o programa do piso 1 é adossado ao lado exterior do anel. O lado interior, pelo contrário, é tão aberto quanto possível e faz uso do ritmo da geometria da sua estrutura – uma treliça estrutural – que evoca o desenho de um claustro. Ao concentrar todas as circulações do piso no seu interior, preenchendo apenas com grandes vãos envidraçados os intervalos entre os elementos estruturais, acentua-se o seu sentido de deambulatório. Procura sugerir e filtrar as relações espaciais de e para a praça, para a envolvente próxima e para a paisagem circundante que se recorta no horizonte sobre e sob este corpo.
Evitando desenhos figurativos e/ou feéricos, o projecto procura sugerir um diálogo com a memória deste território, aludindo às suas estruturas verdes, à marcação pontuada dos muros e construções rasteiras na paisagem, dos claustros e dos terreiros das feiras. O desenho do núcleo central do Parque Tecnológico de Óbidos procura a sua razão de ser na memória continua de uma paisagem que se reinventa.