
O atelier português blaanc, em parceria com o arquitecto João Caeiro, venceu o concurso internacional Open Source House, promovido pela Enviu, innovators in sustainability (Holanda), promotora internacional de empreendedorismo sustentável, pelo projecto desenvolvido para a criação de uma habitação modelo, sustentável, flexível e de baixo custo, na Cape Coast do Gana.
O projecto irá ser construído ainda em 2010 e permitir assim a Portugal dar mais um passo no contributo para a melhoria de vida global.
O atelier português blaanc borderless architecture, constituído por quatro jovens arquitectas – Ana Morgado, Lara Camilla Pinho, Carmo Sousa Macedo Caldeira e Maria da Paz Sequeira Braga – em parceria com o Arquitecto João Caeiro, ganhou o concurso internacional de arquitectura Open Source House, cujo objectivo era projectar uma habitação sustentável, flexível e de baixo custo, que servisse de modelo para países em desenvolvimento.
O concurso foi promovido pela Enviu, innovators in sustainability, uma organização sedeada na Holanda, promotora internacional de empreendedorismo sustentável e que, em colaboração com o arquitecto Vincent van der Meulen, fundou a OS-House, uma organização sem fins lucrativos que procura promover melhores e mais sustentáveis condições de habitação em países em desenvolvimento.
O projecto português vencedor, apreciado pelo júri devido ao seu forte conceito, sólida fundamentação e apresentação sofisticada, competiu com mais de 3100 arquitectos de 45 países. O projecto “Emerging Ghana” será construído como casa-piloto nos arredores de Accra, tendo como objectivo contribuir para a melhoria das condições de vida e habitação de mais de 100.000 famílias até ao ano 2020.
O prémio foi recebido pelos arquitectos portugueses (no passado dia 21 de Junho) na Universidade de Delft, na Holanda, na presença de Aanaa N. Enin, Embaixadora do Gana e anunciado por Cameron Sinclair, co-fundador da Architecture for Humanity, uma das entidades responsáveis pela reconstrução do Haiti, o qual pronunciou um discurso verdadeiramente inspirador. Mais de 300 pessoas estiveram presentes na cerimónia e cerca de 170 pessoas por todo o mundo, desde a Rússia ao Peru, assistiram ao vivo através da Internet.
SOBRE OS PREMIADOS:
A blaanc foi fundada há cerca de 2 anos e meio e tem vindo a desenvolver projectos em Portugal e no Brasil. Esta equipa preconiza novas estratégias para soluções standard e problemas urbanos desvalorizados. Um dos principais objectivos da blaanc é trabalhar em arquitectura sustentável, com uma especial preocupação em contribuir para a melhoria das condições de habitação, associada preferêncialmente a uma vertente ecológica.
João Caeiro vive actualmente em Oaxaca, no México e juntamente com o arquitecto italiano Fulvio Capurso, dedica-se especialmente ao trabalho e formação junto das comunidades rurais, tendo vindo a desenvolver projectos sustentáveis e pesquisa direccionada para a construção com materiais locais, especializando-se em terra e em bambu. Organizam Workshops de Projecto e Construção semestrais na Faculdade de Arquitectura da Universidade Autónoma Benito Juarez de Oaxaca. Na mesma universidade é docente das disciplinas de Desenho
Artístico e Geometria na Faculdade de Belas Artes.
PROBLEMAS E OBJECTIVOS
Mais de 1 bilião de pessoas em todo o mundo são forçadas a viver em bairros de lata, e este número continua a crescer rapidamente. No entanto, muitos dos habitantes destes bairros são, ao contrário do que costumamos pensar, pessoas empregadas e com um ordenado regular. Apesar disso, enfrentam grandes dificuldades no que diz respeito a obter uma habitação decente.
A rápida urbanização, o desperdício de recursos, a utilização de métodos de construção ineficazes e a falta de informação, são apenas alguns dos problemas que agravam ainda mais as más condições de habitação. Tudo isto resulta em falta de escolha, preços inflacionados e casas pouco sustentáveis.
Embora os meios e conhecimentos técnicos para combater estes problemas já existam, a dificuldade está em ter acesso a esse conhecimento e criatividade, precisamente onde eles seriam mais necessários.
É preciso então possibilitar novas escolhas!
Neste desafio concretamente, o objectivo era projectar uma habitação para a classe média emergente da Cape Coast, no Gana, utilizando elementos sustentáveis, flexíveis e de baixocusto.
Para isso, todos os projectos deveriam respeitar 8 princípios definidos pela Open Source House:
PRINCÍPIOS OS-HOUSE
Inserção no contexto local – quer nos aspectos culturais, sociais e económicos
Ciclo de vida da construção – projectar prevendo a possibilidade de desmontagem e reutilização de materiais
Clima – projectar tirando o máximo partido do clima de modo a minimizar o consumo energético
Dimensionamento – respeitar as dimensões standards locais e prever que os materiais possam ser facilmente transportados e reutilizados
Estrutura – deve ser independente dos elementos não-estruturais e revestimentos
Ligações (entre materiais) – devem ser feitas por elementos que permitam fácil desmontagem, evitando a utilização de cimentos e colas
Programa – as diferentes áreas da casa devem promover uma vivência sustentável e devem ser seguras, flexíveis e adaptadas à ecologia local.
Open Source Share- todos os projectos deverão ser partilhados e estar disponíveis em www.os-house.org , para que outros os possam utilizar, adaptar ou até melhorar.
O PROJECTO:
Acima de tudo, o projecto pretende ser facilmente reconhecível no contexto do Gana, e por isso aposta numa configuração espacial que seja familiar àqueles que nele vão habitar.
Deste modo o pátio – frequentemente utilizado nos climas tropicais e mais concretamente pela arquitectura dos Ashanti (grupo étnico do Gana) – surge assim como o coração da casa, como o elemento unificador e ordenador do espaço. Ali se passam muitas das actividades diárias de cada família, como cozinhar, lavar ou brincar.
O projecto baseia-se em 3 princípios fundamentais: inserção no contexto local, quer em termos de configuração arquitectónica, quer em termos do uso dos materiais da região; sistema modular, que facilita a montagem, o transporte e a reutilização e eficiência energética, através do uso de ventilação natural, aproveitamento solar, aproveitamento de águas, tratamento de resíduos e materiais sustentáveis.
A casa pode ser construída por etapas, prevendo-se que possa crescer ao longo do tempo, ajustando-se às necessidades e às possibilidades de cada família.
Esta flexibilidade é conseguida essencialmente através da utilização de módulos que se repetem e da união entre os materiais se fazer com “conexões secas”. De facto, existe uma simbiose entre os painéis leves e modulares de bambu e madeira e as paredes pesadas de terra, sendo aplicados segundo quatro variantes. Estes elementos criam também uma relação agradável entre o interior e o exterior, proporcionando espaços de qualidade.
Por sua vez, ao separar a estrutura dos revestimentos através do uso de “conexões secas”,facilita-se a possibilidade de se substituir, reparar ou aumentar a casa, tornando-a flexível.
MATERIAIS LOCAIS DE CONSTRUÇÃO
Paredes de Terra Pisada
Utilizando apenas trabalho manual, a terra pode ser compactada de modo a formar fortes paredes estruturais.
As paredes de terra têm um excelente comportamento térmico, mantendo uma temperatura constante e amena independentemente da temperatura exterior.
A terra tem a vantagem de estar sempre disponível, respeitar o ambiente e ser totalmente reciclável.
Solo Laterítico – È um tipo de terra extraordinário e muito abundante no Gana, ocupando cerca de 70% da superfície do país. Contem óxidos de ferro e de alumínio, o que lhe confere um tom avermelhado.
Madeira Dahoma
Existe em abundância no Gana. Tem um elevado nível de resistência à água e ao clima.
Raramente é atacada por insectos e fungos e apresenta uma alta resistência a ácidos, aos alcalinos e ao fogo.
Bambu
O bambu cresce localmente, o que permite poupar dinheiro e energia. Está facilmente disponível em muitas regiões do Gana e requer muito pouca tecnologia para ser utilizado na construção. Entre as suas muitas qualidades, destaca-se o facto de ser resistente aos sismos, económico e sustentável.
Contraplacado
Material robusto relativamente às cargas a que é submetido, é facilmente fixado junto dos limites de cada peça.
Apresenta uma boa resistência ao impacto e um alto grau de força geral.
Permite cobrir grandes áreas de forma rápida e económica.
Aplicado sobre vigas de madeira, reduz as vibrações e permite um acabamento confortável.
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
A eficiência energética ao longo de todo o ciclo de vida de um edifício é o objectivo mais importante da arquitectura sustentável. Os materiais, a composição arquitectónica e os elementos modulares, permitem uma ventilação natural que percorre o edifício, a par da frescura que as paredes de terra proporcionam no interior. Aposta-se assim em soluções low-tech que, em conjunto com a utilização de materiais locais, se adequam ao clima da região da Cape Coast.
Solar
A luz natural é conseguida através de vãos generosos, protegidos com sistemas de ensombramento flexíveis, que se podem adaptar ao longo do dia e do ano.
Também se prevê que a energia solar seja utilizada no aquecimento de águas.
Ventilação Natural
O projecto está orientado de modo a tirar partido dos ventos de sudoeste predominantes, utilizando a ventilação cruzada e a ventilação superior, desencorajando qualquer uso de ar condicionado.
Águas
Sistemas de aproveitamento das águas das chuvas estão incorporados no projecto, de modo a permitir um fácil armazenamento e consequente utilização para lavagens, rega, banhos, etc.
Está prevista uma fossa céptica que funciona como um sistema de tratamento de águas em pequena escala. A água purificada pode ser utilizada para rega do jardim.
Compostagem
Processo simples e orgânico que ajuda a reduzir os resíduos domésticos até 30%. Uma compostagem consciente resulta na diminuição de despesas na recolha do lixo, na quantidade de lixo que vai para os aterros e possibilita ainda a produção de fertilizantes a serem utilizados nas hortas.
“Emerging Ghana” pretende assim ser o primeiro de muitos projectos no âmbito desta iniciativa da OS-House, procurando incentivar outros arquitectos a contribuir com a sua imaginação e criatividade para melhorar as condições de vida de mais de 1 bilião de pessoas.
Acima de tudo, o objectivo final, a par com a sua implementação, é promover o envolvimento e dinamização da comunidade local, de modo a que possam ser os próprios moradores a construir a sua casa, o que contribuirá para promover união, status, segurança e felicidade.
Um passo a caminho para “Emerging Ghana”.
Para ver o filme de introdução: http://www.youtube.com/watch?v=QgyoU6tK_Ek&feature=player_embedded
Para ver o filme do vencedor feito pelo A2STUDIO: http://www.youtube.com/watch?v=Lww-G-Et2dQ&feature=player_embedded
imagens do projecto
Para informações à imprensa:
blaanc borderless architecture
Carmo Caldeira
+351 963 543 568