Lisboa pelos olhos e pela mão de Carrilho da Graça

Categorias: Arquitetura

Pensada e nem sempre construída, a Lisboa do arquiteto português mostra-se na nova exposição da Garagem Sul, do CCB, a partir de hoje e até 14 de fevereiro.

 

Terminal dos cruzeiros. Reabilitação da praça do Campo das Cebolas. Pavilhão do Conhecimento. Edifício multiusos para a Expo 98. A nova sede do BPI. A extensão da Assembleia da República. Um plano utópico para o Campo Santana. A Escola Superior de Música e a Escola Superior de Comunicação Social. Estas e outras maquetes, de edifícios que foram construídos e outros que não passaram de intenções, podem ser vistos na Garagem Sul do Centro Cultural de Belém a partir de hoje. “É uma visão da relação que o arquiteto Carrilho da Graça estabelece com o território”, diz Marta Sequeira, curadora da exposição a meias com Susana Rato, ambas colaboradoras próximas do autor dos projetos.

 

 

Falam pouco e preferem que o protagonista dê a sua visão. É sexta-feira, antepenúltimo dia útil antes da inauguração, marcada para hoje às 19.00, e a Garagem Sul converteu-se num ateliê onde se ultimam pequenos modelos de edifícios. “Nunca vi isto tão agitado”, sorri João Luís Carrilho da Graça, 63 anos, começando a visita por entre as maquetes da exposição.

 

Carrilho da Graça: Lisboa reúne 12 projetos da autoria do arquiteto natural de Portalegre. Doze dos 27 que já fez para a cidade. Escolhidos, precisamente, por ilustrarem uma ideia da cidade, como o projeto para as casas do século XI encontradas no Castelo de São Jorge cuja proteção faz o desenho das próprias casas, “numa espécie de reconstrução a três dimensões”. Ao lado, o projeto de um auditório aproveitando o declive natural (e a vista para o rio) que está na Câmara de Lisboa e não se sabe se sairá do papel. A proposta abre caminho a que se fale no tempo da arquitetura, trabalho de décadas, às vezes.

 

 

 

“Alguns projetos ainda estão em construção, apesar de ter ganho há 10, 15 anos”, conta Carrilho da Graça. Um exemplo é o Convento de Jesus, em Setúbal. Ganhou o concurso em 1999, as obras começaram recentemente. Outro caso é o Convento de São Francisco em Coimbra, um concurso de 1993, agora em construção. Uma frustração? “Tenho imensas obras construídas, não tenho essa frustração”, diz, firme. Mesmo assim, admite que o tempo é “um bocado excessivo”. “É uma quase inevitabilidade.”

 

Conta que recentemente numa reunião em Coimbra falou sobre o facto de num projeto de anos todos irem entrando e saindo e o arquiteto ser o único que permanece. E prefere chamar à espera um exercício de “tenacidade”.

 

Entre os que não chegaram a ver a luz estão planos pensados nos anos 1980, pré-adesão à Comunidade Económica Europeia, no âmbito do projeto Valis, em que Carrilho da Graça participou. “Era um projeto utópico numa zona em que 80 a 90 por cento dos edifícios são públicos”, explica. Nunca foi pensado para sair da maquete. “Pediram-me uma ponte que atravessasse a Avenida da Liberdade e eu achei a ideia muito século XIX. Se a tivéssemos, gostávamos dela, mas achei que não fazia sentido”, conta, explicando que propôs refletir sobre esta intervenção grande na zona onde ficam o antigo Hospital Miguel Bombarda, Hospital dos Capuchos ou a antiga Faculdade de Medicina.

 

Carrilho da Graça mudou-se para Lisboa aos 17 anos para estudar arquitetura na Escola Superior de Belas-Artes vindo de Portalegre. “Já fiz projetos na cidade onde nasci. Vi a cidade desenvolver-se até de maneiras que não queria e a minha relação com Lisboa tem essa liberdade. Há quarenta e tal anos que estou aqui, sinto-a como minha mas não tenho essa prisão inicial.”

 

Mostra, em detalhe, o projeto da nova sede do BPI, que ocupa um quarteirão na Baixa, entre o Banco de Portugal e o Museu do Dinheiro e o MUDE – Museu do Design e da Moda. “Há uma grande intervenção urbana, como se o espaço público penetrasse no edifício.” “É uma ideia que gosto que esteja presente em todos os meus projetos: que se ganhou sempre alguma coisa para a cidade”. O mesmo para o terminal de cruzeiros, para o qual pensou um parque urbano verde. Ou da praça do Campo das Cebolas, “que absorve a muralha mourisca”, em que se apoiam edifícios como a Casa dos Bicos, sede da Fundação Saramago, numa versão aberta para o rio. “A ideia fundamental é que cada ponto em que vou intervir tem as suas características e força própria”.

 

“A arquitetura é comunicação”, diz Carrilho da Graça. E é dela que fala hoje, também, no CCB.

 

Informações sobre a exposição:

Garagem Sul do CCB

22 de Setembro a 14 de Fevereiro de 2016.

 

Mais informações aqui

 

Imagens

Pavilhão Do Conhecimento | João Luis Carrilho da Graça

Terminal de Cruzeiros de Lisboa | João Luis Carrilho da Graça

 

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