O Júri do Prémio MARGRES Arquitectura 2013 atribuiu o prémio ao arquitecto Miguel Borges da Costa e uma menção honrosa ao arquitecto Gonçalo Byrne.
MIGUEL BORGES DA COSTA
O edifício insere-se numa quinta privada rodeado de carvalhos, pinheiros, e castanheiros.
O local de implantação é caracterizado pela construção tradicional de muros de suporte em granito, utilizados outrora para a definição de campos de cultivo.
Na paisagem o a construção ocupa o seu lugar, evidenciando-se pela continuidade e uso tectónico dos seus materiais, criando volumes e profundidades, espaços de sombra e de luz, de texturas e reflexos diferenciados.
O projecto baseou-se na arquitectura do local, “genius loci”, numa estreita relação com os muros de suporte existentes e com a arquitectura vernacular da região Minho e Douro, na relação de escala na envolvente, no acesso reservado ao interior da construção através de uma escada e de uma visita contemporânea ao tradicional beirado.
A ideia base da proposta é a fragmentação e transformação de um muro para construir e encaixar a habitação, transmitindo uma imagem de contemporaneidade no respeito pela preexistência, onde os muros e o tipo de aparelho em granito têm um papel fundamental na escala e leitura de todo o edificado.
A casa é composta por um volume, cujas funções, sociais e de convívio (salas e cozinha) e as funções privativas (quartos, quartos de banho e lavandaria) promovem a sua fragmentação e diferente material de revestimento, a primeira em granito, em continuidade com a construção local, a segunda em betão aparente texturado com recurso a pico fino. A evolução temporal destes dois materiais resultará numa fusão de cor, textura e apropriação vegetal.
No interior os espaços de estar e de cozinhar ocupam um papel de destaque. Numa relação directa com a arquitectura vernacular, estes espaços são o “coração” da casa, na relação franca que mantêm com o exterior bem como na relação de continuidade e de correlação que mantêm entre si. A lareira e o posicionamento longitudinal do “fogo aprisionado” resulta no mote da composição dos espaços.
Todo o edifício procura, no interior, diversas e diferenciadas relações com a paisagem. A relação visual e de acesso entre interior e exterior vai-se alterando de acordo com o tipo de uso do espaço interior, numa busca incessante de enfiamento ou passagem, opacidade e transparência, percurso e paragem.
Na utilização de materiais de revestimento interior procurou-se a simplicidade do gesto, madeira nos pavimentos, pintura sobre gesso projectado e lacado nos painéis.
A opção pelo Kerlite, na sua maior dimensão, deu escala aos espaços, a cor e a textura do Kerlite, com brilho e impressão natural, promoveu uma leitura unificadora dos diferentes usos em cada espaço, tornando claro a coerência visual do imaterial.
GONÇALO BYRNE
O quarteirão dos antigos CTT mostrava sinais visíveis das contradições não resolvidas entre a cidade histórica e a cidade moderna de Braga. O rompimento da Avenida da Liberdade levou à sua fragmentação arquitectónica e volumétrica, gerando espaços residuais interiores e periféricos.
Com este projecto procurou-se restituir a unidade possível do quarteirão, tanto na sua leitura exterior das ruas periféricas como no uso proposto para o seu interior.
Para o restabelecimento desta unidade afigurou-se importante não só a continuidade horizontal da nova construção, mas também o seu alinhamento superior por uma cércea contínua comum.
PROPOSTA
Na definição planimétrica deste contínuo edificado teve-se particular atenção ao sistema barroco da Rua do Raio estabelecido a partir da axialidade simétrica da fachada deste magnífico palácio, recuando a nova construção de modo a marcar a “porta” definida pelas esquinas dos quarteirões adjacentes da Avenida da Liberdade (o existente e o proposto).
Na intervenção manteve-se a fachada do antigo edifício dos CTT e a fachada do palacete com frente para a Rua do Raio, que se recuperaram e ampliaram, bem como todas as construções da Portugal Telecom que possuem equipamentos de interesse crucial para a cidade de Braga, com infraestruturas de passagem em galerias técnicas.
O novo quarteirão tem uma utilização mista e abrange áreas funcionais de complementaridade (estacionamento publico, comércio, serviços e habitação) que representam uma importante infraestrutura de apoio e reforço da centralidade do núcleo histórico da cidade de Braga.
PROGRAMA E OCUPAÇÃO
Os edifícios com frente para a Av. da Liberdade e Rua Gonçalo Sampaio apresentam características de comércio nos três pisos inferiores e serviços no último piso, constituindo um conjunto comercial de lojas na sua quase totalidade com acesso pela rua.
Assim verifica-se uma ocupação em altura na sua maioria de quatro pisos, sendo três pisos de comércio e um recuado de escritórios, sendo de cinco pisos na parte destinada a habitação.
ARQUEOLOGIA
No decorrer da obra foram identificados, para além de inúmeros objectos com interesse histórico, dois núcleos de interesse arqueológico que foram mantidos, integrados na construção e tornados visitáveis, com o objectivo de serem integrados nas rotas de interesse da cidade de Braga.
MATERIAIS
Foram utilizados diversos materiais nos revestimentos da edificação. Nomeadamente, no exterior, vidro e alumínio em caixilharias e grelha nas fachadas ventiladas do interior do quarteirão.
No interior e em áreas públicas, foi utilizado um pavimento extenso MARGRES que conferiu ao espaço as qualidades pretendidas de conforto, quer no aspecto da limpeza, quer na imagem, que assumindo a sua presença, enquadra e dá continuidade a toda a actividade logista.
Localização : Braga
ABL : 12.600 m²
ABC : 34.878 m²
Investimento global : 40.000.000,00 €