
O projeto de execução, a cargo da Orange-Arquitetura e Gestão de Projeto, vencedora do concurso publico internacional lançado pela Câmara de Lisboa, vai privilegiar a sustentabilidade ambiental.
A zona de alvenaria do Bairro da Boavista, em estado considerado inabitável pela vereadora Helena Roseta, vai ser alvo de uma reabilitação profunda, criando “melhores condições sociais e não apenas de habitabilidade”.
Considerado “Bairro de Intervenção Prioritária de Lisboa”, o local será alvo de uma intervenção em quatro fases, abrangendo 500 habitações que “eram já provisórias em 1950”, lembrou a vereadora da Habitação da Câmara de Lisboa, considerando que este é apenas o começo de um processo de substituição (demolição e construção) dos fogos, mas também da criação de melhores condições sociais para os cerca de 5000 mil habitantes. Um trabalho que contou, salientou a vereadora, com a colaboração permanente dos moradores do bairro.
Reabilitação social e ambiental do Bairro da Boavista from Câmara Municipal de Lisboa on Vimeo.
O projeto de execução, a cargo da Orange-Arquitetura e Gestão de Projeto, vencedora do concurso publico internacional lançado pela Câmara de Lisboa, vai privilegiar a sustentabilidade ambiental na zona, numa solução que passa pela criação de oito hortas urbanas ao nível de acesso das habitações, recuperando um conceito “faz parte da história do bairro”, como salientou o responsável pelo projeto vencedor.
Livia Tirone, presidente do júri do concurso que integrou também representantes da ordem dos arquitetos e da associação local de moradores, afirmou após a celebração do contrato, dia 10 de setembro, entre a CML e a Orange, que “esta é uma solução que vai beneficiar a vida de muitas pessoas” e teve em conta as “necessidades do dia-a-dia da população local”.
Integrado no programa Eco-Bairro Boavista Ambiente+, com aprovação e finaciamento do FEDER, a autarquia pretende assim substituir os edifícios de alvenaria, realojando no mesmo local a atual população residente, de forma a manter a matriz urbana do bairro, a estrutura viária, a densidade populacional e a relação com o Monsanto, sem esquecer os modelos de habitação social “pós-PER”, para uma resposta eficaz a questões como a acessibilidade a residentes com mobilidade reduzida, relações de vizinhança e convivência, e a integração social e cultural.
Projecto
Concurso de Concepção da Solução Arquitectónica para a “Zona de Alvenaria” do Eco Bairro da Boavista em Lisboa
Primeiro Classificado,
ORANGEarquitectura, projecto da autoria de Alexandre Dias, Luís Spranger e Bruno Silvestre
O projecto para a “Zona de Alvenaria” do Bairro da Boavista prevê a construção de 460 fogos, de tipologias T1, T2, T3 e T4. Cada lote acomodará um edifício-tipo de 10 fogos que será repetido na totalidade dos 46 lotes previstos no plano de loteamento elaborado pela Câmara Municipal de Lisboa.
O projecto aposta fortemente na reorganização do tecido construído da encosta, quer através da fragmentação volumétrica proposta para os edifícios, quer através da disposição das pequenas pracetas que acomodarão as hortas urbanas individuais – o solo produtivo destas pequenas pracetas, ao promover a sustentabilidade ecológica da vida urbana funcionará também como factor de sociabilidade entre os residentes da zona da Alvenaria.
A solução urbana consiste na consolidação da rua e da praceta como espaços urbanos estruturantes, que serão interligados por uma malha de percursos pedonais. Assim, entre os volumes edificados, cada lote será rasgado por um percurso pedonal amarrando as ruas ao longo da encosta. Estas ligações evocam a imagem familiar das escadinhas de Lisboa, onde a experiência do espaço urbano é fortemente caracterizada pela topografia acidentada da cidade.
Deste modo, a permeabilidade garantida pela malha pedonal integrará a encosta da “Alvenaria” num contexto urbano mais alargado, ligando o seu sopé ao Parque Florestal de Monsanto. A configuração volumétrica proposta quebra a monotonia do padrão urbano resultante da repetição do lote. Ao nível da rua, a variedade de cérceas e o posicionamento relativo de cada volume formarão uma silhueta complexa que produzirá uma configuração de sombras variada evocando a complexidade das topografias urbanas das grandes cidades.
A solução arquitectónica, ao fragmentar a massa construída num conjunto de elementos, gera variedade e diferenciação na autonomia condicional de cada volume. Na fragmentação volumétrica encontra-se uma escala urbana intermédia entre o colectivo e o individual. Ao quebrar a escala dos grandes edifícios de habitação colectiva, os volumes evocam a individualidade da moradia unifamiliar. O equilíbrio entre individual e colectivo é um aspecto social importante na evolução da “Zona de Alvenaria”, tendo em conta a natureza do casario existente (casas individuais) que os seus moradores têm habitado durante décadas e que a proposta irá substituir.
Desta mediação de escala resulta a possibilidade de evitar o alçado repetitivo típico das grandes periferias urbanas. Assim, cada edifício expressa simultaneamente a sua singularidade (na expressão da sua verticalidade, na composição do alçado, na implantação) e a sua similaridade com o edifício vizinho (na materialidade, na linguagem da arquitectura e no diálogo estabelecido pela partilha do espaço público).