Para o nosso trabalho de fim de curso propusemos à escola trabalhar em grupo na reabilitação de uma fábrica abandonada no bairro da Fontinha, centro do Porto. A fábrica pertencia ao escultor José Rodrigues, que ocupava um dos pavilhões com o seu ateliê. Propusemos um “contracto” ao escultor – ele cedia-nos um espaço para o nosso ateliê e em troca ajudávamo-lo a reabilitar a fábrica. A nossa primeira intervenção foi recuperar o antigo nome desta fábrica de chapéus do séc. XIX. Nasceu assim a Fábrica Social. Para quatro estudantes de arquitectura, “viver” numa fábrica abandonada representou uma oportunidade para fazer várias experiências de carácter prático e permitiu também um contacto mais directo com a comunidade. Este processo, que designamos de “obra aberta”, compreendeu um grande número de actividades, como limpezas, construção de protótipos, balões solares, sessões de cinema, teatro, workshops, publicação de livros, festas, e reuniões de bairro. Toda esta dinâmica veio ao encontro de um antigo sonho do escultor José Rodrigues de criar um espaço na cidade dedicado à criatividade, onde pudesse trabalhar, expor o seu trabalho e oferecer espaços de trabalho para jovens artistas. Para o nosso projecto académico propusemos, assim, a criação de um Campus da Criatividade, através da reabilitação da fábrica, do antigo bairro operário e dos jardins envolventes. A Fábrica seria reservada à Fundação José Rodrigues, com todas as suas valências: salas de exposição, auditório, bar, secretaria, ateliê de escultura, ateliê de pintura, ateliê de desenho, etc. Para os restantes espaços do campus propusemos quatro novos programas, cada um desenvolvido por cada aluno:– uma residência para artistas, através da reabilitação de casas do bairro, adaptando uma tipologia tradicional a novas formas de habitar, e promovendo também uma maior diversidade cultural. – um parque de estacionamento, resolvendo o problema da circulação automóvel e libertando as ruas envolventes, e novos ateliês de trabalho, de carácter mais flexível e adaptável. – um laboratório de fabricação pessoal, que permite o desenvolvimento de tecnologias apropriáveis e conviviais, ocupando uma das unidades da Fábrica. – um centro de estudos do meio ambiente, no jardim, tendo como objectivos a regeneração da mancha verde e a pesquisa e desenvolvimento de novas práticas ecológicas. Como forma de estruturar estes elementos propusemos o que chamamos de “aqueduto”, uma rua no céu que promove novas formas de circulação dentro da fábrica e no quarteirão, e que funciona como referência visual deste novo campus, numa zona elevada da cidade. Este campus da criatividade pretende servir, assim, como motor de reabilitação desta zona da cidade, principalmente através do envolvimento e participação activa dos seus residentes. Cria-se um projecto em que o caminho é em si um fim.
Ana Ruivo
Pedro Carvalho
Samuel Carvalho
Samuel Rodrigues
Este projecto foi distinguido com o Prémio de Integração Social no “Vizzion- European Competition for Architecture with a High Environmental Value 2009”.