O júri do Prémio Gulbenkian Património – Maria Tereza e Vasco Vilalva deliberou, por unanimidade, atribuir o prémio à Reabilitação do Chalet Ficalho, em Cascais, proposta a concurso pelo Arquiteto Raúl Vieira (responsável técnico da intervenção) e Maria de Jesus da Câmara Chaves (dona da obra), por cinco ordens de razões:
1. Constitui um exemplo particularmente representativo da arquitetura de luxo de veraneio que se instala em Cascais a partir do último quarto do século XIX, tendo sido implantado num pequeno parque com espécies arbóreas exóticas;
2. O projeto incidiu sobre um edifício que, apesar de classificado, se encontrava já em acentuado grau de degradação e visava, por outro lado, a reconversão do imóvel num equipamento hoteleiro, o que implicava igualmente a incorporação de infraestruturas modernas de apoio a essa redefinição funcional;
3. Conseguiu obedecer a um profundo respeito pela traça original do edifício, o que implicou, em alguns casos, o recurso exemplar a técnicas e saberes artesanais tradicionais no trabalho das madeiras e da pedra, bem como no restauro de telas e sedas de revestimento. Foram encontradas soluções discretas e eficazes, com um mínimo de perturbação do equilíbrio arquitetónico;
4. A recuperação do jardim, feita em colaboração com o Jardim Botânico de Lisboa, feita com grande preocupação de fidelidade ao projeto paisagístico inicial, sendo a principal alteração ao mesmo, decorrente da instalação de uma piscina, efetuada de modo a minimizar o seu impacto no ângulo de visão a partir da casa;
5. A importância patrimonial do edifício, enquanto expoente de um estilo arquitetónico em grande parte já hoje destruído na maioria das zonas balneares do País, pelo caráter modelar do respeito pelas técnicas e materiais originais no projeto de recuperação e pelo equilíbrio exemplar entre a preservação do conjunto e a sua adequação à sua nova função.
O Júri, composto por António Lamas (presidente), Gonçalo Byrne, Raquel Henriques da Silva, Rui Vieira Nery e Santiago Macias, decidiu atribuir ainda, nesta 15ª edição, duas menções honrosas:
– À reabilitação e revisão dos espaços comuns e áreas de uso coletivo do Edifício das Águas Livres, em Lisboa (proposta pelo Condomínio das Águas Livres e pelo Arquiteto Rui Mendes, que trabalhou de perto com o arquiteto coautor Bartolomeu Costa Cabral), por ter conseguido “propor, em diferente contexto tecnológico, ambiental e regulamentar, o prolongamento do ciclo de vida do edifício, revertendo a natural erosão de elementos e materiais construtivos.” O Júri destacou também que, além do trabalho de “proteção e restauro” já executado, estão ainda em curso “processos de reabilitação e revisão de 5 novas frentes de trabalho necessário à manutenção do edifício e, por consequência, ao prolongamento da qualidade de vida dos seus moradores.”
– Às Casas Nobres de João Pereira e Sousa, também em Lisboa (uma candidatura conjunta de Arquitetura e Azulejaria, proposta pelos ateliers Appleton e Domingos, Arquitectos, e Can Ran Arquitectura). A distinção deve-se ao “restauro do mobiliário de uma antiga mercearia”, “o restauro e valorização dos tetos de masseira ainda existentes, das portadas dos vãos e dos tabuões de alguns dos soalhos que assumem a passagem da história sobre eles, a eficácia das opções de «construção nova»” e “as soluções encontradas para valorizar os elementos azulejares existentes, incluindo a criação de painéis novos”.
Prémio Gulbenkian Património – Maria Tereza e Vasco Vilalva
Criado em 2007 em homenagem a Vasco Vilalva, o Prémio tem tido por objetivo assinalar intervenções exemplares em bens móveis e imóveis de valor cultural que estimulem a preservação e a recuperação do Património.
O Prémio Gulbenkian Património – Maria Teresa e Vasco Vilalva tem o valor de 50 mil euros.
Fotos: Chalet Ficalho © DR