Apartamento Simão Álvares

 

Na contramão das demolições em massa que vêm ocorrendo nos últimos anos no bairro de Pinheiros, em São Paulo, o cliente, já encantado pela região, buscava um edifício para sua nova morada e que, por sua vez, preservasse a memória local, mantendo a atmosfera dos prédios antigos, com espaços amplos, janelas generosas e pés-direitos confortáveis.

Diante disso, um antigo apartamento em um dos pequenos prédios erguidos na segunda metade do século XX, no terreno da antiga Sociedade Hípica Paulista – considerado um cartão-postal do bairro – foi escolhido. O conjunto compreende edifícios de três pavimentos, erguidos em uma área bastante arborizada e tranquila até os dias de hoje, e tombados pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp). O imóvel fica a poucos minutos, em uma curta distância caminhável, das melhores opções de transporte público do bairro, além de instituições culturais e centros comerciais.

O apartamento nunca havia sido reformado e, como em muitos prédios da época, os ambientes eram em sua maioria escuros e compartimentados. Dessa forma, o projeto visou ampliar a entrada de luz natural entre as fachadas frontal e traseira, onde existiam grandes aberturas, integrando os ambientes da varanda, sala e cozinha em um eixo contínuo.

A intervenção mantém a delicadeza dos acabamentos originais, respeitando a memória do edifício, enquanto cria um plano de fundo neutro para a recepção dos móveis e peças decorativas de valor afetivo para o morador. O piso de madeira foi preservado em todos os ambientes sociais, enquanto os pisos das áreas molhadas (cozinha, lavanderia, banheiro e varanda) precisaram ser substituídos devido à reorganização do layout.

A proposta privilegia poucos revestimentos em tons neutros, optando por pastilhas hexagonais bege para a cozinha e banheiro, e pastilhas quadradas em marrom avermelhado para o lavabo. A parede de entrada da sala foi descascada, revelando os tijolos maciços da construção original, enquanto as demais superfícies receberam pintura off-white, favorecendo a reflexão da luz natural que penetra os generosos caixilhos.

Na varanda, pilares e vigas de concreto foram descobertos, preservando a beleza estrutural. A nova marcenaria envolve esses elementos arquitetônicos com uma estante e floreira, que funcionam como divisão entre a sala de jantar e a varanda, sem bloquear a conexão visual nem a passagem da luz natural.

Neste projeto, a sala de jantar foi concebida como o ambiente principal, destacando uma generosa mesa que acomoda até dez assentos – rodeada por conjunto de cadeiras Clip, de autoria do designer brasileiro Fernando Jaeger, com estofados em diferentes cores –, um buffet e um par de arandelas, desenhadas pelo pai do morador e herdadas. O conceito visava enfatizar o espaço para encontros entre amigos e familiares, valorizando refeições integradas e momentos de conversa.

A nova sala de estar foi posicionada na varanda, proporcionando um ambiente mais intimista com vista para a copa das árvores que abraçam a residência. O piso é recoberto pela mesma partilha das áreas de serviço, e o nivelamento e tonalidade terrosa reforça a integração, como um tapete. Enquanto isso, a sala de TV pode ser integrada aos demais ambientes através da abertura de uma porta dupla em marcenaria. Destaca-se nesse ambiente a estante em serralheria, com design assinado pelo BM Estúdio.

Na cozinha, os armários possuem acabamento em lâmina branca e são interrompidos no limite da altura da viga, não tocando o teto. Uma abertura estrategicamente posicionada comporta uma pequena bancada de apoio para refeições rápidas no dia a dia do morador.

Pastilhas marrom recobrem o piso e meia altura da parede do banheiro, se desenvolvendo como um embasamento que destaca as louças brancas.

O apartamento possui três quartos, sendo um deles com varanda, que se tornou o quarto principal, outro convertido em sala de TV e um terceiro em escritório e sala de música, que recebeu novos caixilhos e tratamento acústico.