Na periferia da vila mais antiga de Portugal, Ponte de Lima, fomos encontrar um terreno, adossado à estrada nacional para a cidade de Braga, que se revelou uma surpresa. A forte relação com o tráfego automóvel acabou por se ver contrastada com o sossego de um terreno de áreas generosas e com um ligeiro pendente, repleto de uma massa arbórea autóctone, que culmina ao fundo num ribeiro que formaliza a fronteira tardoz da propriedade. Fez-nos sentir numa outra dimensão, tensionada entre a paz do campo com o burburinho da água a correr e o frenesim de um eixo com uma vida movimentada.
Aqui, o nosso primeiro pensamento foi a resolução da habitação por forma a tocar o mínimo possível na naturalidade do existente, removendo única e simplesmente as árvores necessárias para a edificação e mantendo a morfologia original, permitindo projetar a vista social do lar em direção ao ribeiro e a uma continuidade campestre onde não é possível construir.
Contudo, existia sempre a problemática a resolver, dentro dos possíveis, da acústica gerada pela estrada movimentada. Numa tentativa de atenuar esse incómodo, descolocou-se o volume habitacional o mais possível para o fundo do terreno e envolveu-se a habitação com uma cintura dinâmica de réguado rústico de madeira, que acompanha o ângulo da pendente do terreno e que entra em tensão, contudo de forma elegante e envolvente, com o volume térreo disposto em duas cotas diferentes, solucionado com fachadas de betão aparente, que se conotam com a poética do granito local.
Essa cintura dinâmica de madeira ganha momentos de projeção para além do corpo da habitação, e que dá mote à resolução da acústica na sua fachada frontal. Aqui colocou-se, estrategicamente, a suite e que se vê abraçada por um balanço do paramento de madeira, que permite também oferecer um pátio privado e ajardinado ao casal.
Esta pele de madeira natural aplicada no edifício, controla, tanto o percurso e momento da entrada principal da habitação, como a zona privada, potenciando também a interligação do volume principal ao do anexo adjacente. Desta forma, a habitação acaba por ser protegida por um invólucro de madeira.
O interior da habitação reservou a gestão da dinâmica da geometria solar que, em simultâneo, permitiu organizar e desenvolver a zona privada da habitação na cota térrea superior, composta pela suite e quartos, e a zona social na cota inferior, onde se encontra um generoso open space composto por salas e cozinha, intimamente relacionado com a paisagem ao fundo. Encaixado entre ambos os volumes, surge um vazio coberto para espaço de refeições, privado do trânsito ou olhares indesejados.
Tenta-se que esta peça que surja como identidade do meio onde se insere, tanto pela sua descrição volumétrica como pela linguagem da sua materialidade expressa, potenciando de forma controlada a direção das relações e momentos familiares com o exterior, conferindo a melhor qualidade habitacional ao conjunto.
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Projeto “Casa do Ribeiro” _ Ponte de Lima