A Casa em Baião insere-se num cenário bucólico, onde predomina o verde da vegetação e as construções de pequena escala dispersas pelo território. Os montes serpenteiam e delimitam a paisagem, tanto a Norte como a Sul. A casa foi construída sobre uma ruína e ao contrário dessa ruína tenta elevar-se para ver a paisagem, que se apresenta ainda em estado natural, sem grandes vestígios de alteração por parte do homem.
O terreno apresentava várias plataformas a diferentes níveis. A nova construção (destinada a casa de férias) para além de tirar partido da paisagem, teria que ficar integrada na morfologia do terreno e permitir preservar parte da memória da preexistência. A resposta a estes três pressupostos esteve na génese da proposta. A solução encontrada proporciona uma ocupação que estabelece o equilíbrio desejável entre o espaço construído e o espaço não construído e que se insere no local de forma diferenciadora, mas circunscrita e atenta.
O projecto procurou desde o primeiro momento a utilização de um material natural, sensorialmente confortável e tradicional. A constatação da existência de inúmeros espigueiros nas redondezasonde sobressaía a utilização da madeira de forma simples e despojada, talvez tenha sido decisiva e acabou por inspirar fortemente a materialidade deste projeto. E assim, com naturalidade, a madeira foi utilizada como material estrutural e de revestimento, tanto no interior como no exterior. O uso da madeira não remeteu para uma linguagem ou uma utilização mais convencional ou tradicional mas, pelo contrário, tentou-se inovar no desenho e trabalhareste material de forma mais expressiva e sensorial.
No piso inferior a sala e a cozinha abrem generosamente para o jardim onde se recuperou o espigueiro cuja materialidade foi transposta para o volume superior da habitação onde se localizam os quartos. Este volume, todo construído em madeira, foi pré-montado na carpintaria em módulos, que depois de reajustados foram desmontados, transportados e montados de forma definitiva em tempo recorde, como se de peças de legos se tratasse.
No exterior a delicadeza da madeira no piso superior contrasta fortemente com o aspeto rude dos muros de betão no rés-do-chão. No interior domina a madeira metricamente estudada, onde nenhuma junta foi deixada ao acaso e onde os seus nós expressivos e anárquicos são responsáveis por quebrar essa rigidez métrica e criar uma tensão, uma sensação de desordem controlada. Nos tetos a estrutura de madeira transmite um estranho sentimento de conforto, ordem e serenidade. No final, apesar do design claramente contemporâneo, a casa responde plenamente ao imaginário do cliente, tornando-se o refúgio de madeira com que sempre sonhou.
Projeto
Casa em Baião
Localização
Ovil, Baião, Porto, Portugal
Arquitetura
Traço Alternativo Arquitectos Associados
Arquiteto Responsável
Nuno Campos
Fabricantes
AutoDesk, CIN, Cortizo, IberFibran, Sanitana, Secil
Fotografias
Fernando Guerra | FG+SG
Área
243 m²
Ano
2021