Casa Giudice

Encomendado por um casal com filhos adolescentes, o projeto da Casa Giudice, localizada em um bairro bastante arborizado na zona oeste da cidade de São Paulo, surge a partir de uma história particular: pensar o novo a partir da preexistência.

Indo na contramão do tradicional processo de construção integral de uma casa e levando em consideração os métodos de menor impacto ambiental, os clientes tinham como objetivo a aquisição de um imóvel para reforma. A partir dali foram aproximadamente quatro anos de pesquisa e visitas até encontrarem um tesouro urbano de características únicas, cujo caráter motivava intervenções em potencial.

A habitação foi originalmente construída seguindo os princípios do estilo arquitetônico alemão, caracterizada por telhado com estrutura de madeira com inclinação íngreme em duas águas, pairando sobre paredes recobertas por pedras e o forro em réguas de madeira. A estética cativou o casal pela atmosfera acolhedora e memória que remonta a um tradicional chalé germânico.

Intervir de maneira respeitosa na construção de valor arquitetônico, preservando suas características principais, mas adaptando para receber o programa de necessidades dos novos moradores com traço contemporâneo, se estabeleceu como a premissa inicial do projeto. Em contrapartida, desejavam espaços que priorizassem a vivência integrada e o conforto ambiental.

A edificação, ocupando quase toda a extensão do lote exíguo e com planta bastante fragmentada, impunha certa escassez de iluminação e ventilação natural. O projeto de reforma buscou integrar os principais ambientes, ao mesmo tempo em que maximizava as aberturas. Para isso, a laje que anteriormente acomodava o sótão foi removida e o pé-direito da sala de estar foi duplicado, agora com mais de 06 metros de altura e exibindo a beleza das tesouras de madeira restauradas. Além disso, as paredes limítrofes que seccionavam a ala social, a cozinha e a circulação foram removidas, dando origem à generosa área de estar e lazer.

Para amplificar a entrada de luz natural foram estabelecidas diferentes estratégias arquitetônicas durante a reforma, incluindo a instalação de novas esquadrias de vidro na fachada principal, assim como a utilização de materiais de tons claros no embasamento para a reflexão lumínica. Essa abordagem também promove a permeabilidade visual entre o interior e o jardim de entrada. No exterior, a seção arquetípica da casa se estende linearmente a partir de um pórtico de estrutura metálica, semelhante a um pergolado, que protege a entrada e filtra a luz.

Na fachada oposta, a nova varanda gourmet surge conectada à cozinha e defronte à piscina, apresentando a estrutura destacada pela pintura em tonalidade terracota, enquanto azulejos esmaltados de mesma tonalidade recobrem a parede principal.

Para alcançar a comunicação visual a partir de todos os ambientes, o novo arranjo possibilita a leitura integral de toda a ala social. Desde a entrada, o pergolado indica o acesso ao living, de onde é possível avistar o home theater, a cozinha, a varanda gourmet, a piscina ao fundo, e o escritório no pavimento superior, ampliando a sensação de convívio integrado. Quando abertos, os generosos caixilhos deslizantes possibilitam a ventilação cruzada, contribuindo para a agradável qualidade térmica do interior.

Cercada por outras casas e inexistência de vistas privilegiadas ao horizonte, os pátios frontal e traseiro assumem papel fundamental na conformação de visuais. As árvores do entorno adicionam uma camada de proteção à morada.

Materialmente, projeto foi concebido com o objetivo de realçar a amplitude e sensação de conforto. Para isso, diferentes texturas naturais e nuances foram aplicadas: o piso foi revestido com placas de porcelanato, enquanto as superfícies das paredes, do forro rebaixado e das tesouras de madeira foram pintadas de branco; a lareira foi revestida com pedras – em referência aos traços originais da residência –; e o forro da cobertura foi recoberto com réguas de madeira Tauari, que aquece esteticamente e equilibra as proporções. No exterior, todas as fachadas foram pintadas em cor escura, em contraste à pureza do interior.

Na proposta de interiores, o tradicional estilo de chalé é reimaginado através de uma seleção cuidadosa dos mobiliários, rompendo com o formalismo de uma casa urbana e evocando a simplicidade de um autêntico refúgio campestre: móveis existentes da família se juntam às novas peças de designers brasileiros, outras garimpadas, e feitas de madeira maciça.

A escada em chapa metálica é engastada na empena de concreto e conecta a dupla de níveis. No mezanino se encontra o escritório da família, aberto e integrado, enquanto as três suítes foram distribuídas nas duas fachadas laterais, de modo que a inclinação pré-existente da cobertura possibilita um generoso pé direito à cada um dos dormitórios, providos de varanda privativa. Claraboias fendem a cobertura e trazem luz natural à galeria de circulação.

Como resultado, observa-se uma fusão harmoniosa entre os elementos acolhedores que evocam o chalé germânico da construção original e os novos elementos de traço contemporâneo. Isso não apenas preserva a essência estética da edificação, mas também atende às necessidades do estilo de vida familiar, destacando a importância do receber e os momentos compartilhados.

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FICHA TÉCNICA

Projeto

Casa Giudice

Localização

Alto de Pinheiros, São Paulo (SP).

Arquitetura

ARKITITO Arquitetura

Arquitetos Líderes

Chantal Ficarelli, Tito ficarelli, Stefano Fernandes

Equipe de Arquitetos

Claudia Piaia

Fotografias

Ricardo Faiani

Texto

Matheus Pereira

Fornecedores

Gerdau Aço, Coral Tintas, Telhas IKO, Cerâmica Portinari, Cerâmica Atlas, Arkos Brasil, VanMar Esquadrias, Divinal Vidros, Construtora Domenge

Área do terreno

597m²

Área construída

415m²

Ano do projeto

2021

Ano de conclusão

2022

Galeria
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