Casa Mortuária de Barrancos

Localizada no interior sul de Portugal, na vila raiana de Barrancos, a obra CASA MORTUÁRIA DE BARRANCOS resulta do Concurso Público promovido em 2019 pelo Município de Barrancos, com assessoria técnica da Ordem dos Arquitectos. A proposta vencedora – Construir com a Paisagem – da autoria MESA Atelier foi desenhada à semelhança das construções vernaculares locais, com referência aos muros tradicionais de pedra sobreposta de “xisto de Barrancos” com junta seca, às estruturas interiores de cobertura em madeira e aos revestimentos das paredes a cal que, no conjunto, são a base do repositório de técnicas construtivas e, em geral, da memória coletiva que se relaciona diretamente com a arquitetura tradicional específica de Barrancos.

A intervenção inicia-se junto ao adro do Cemitério Público, localizado à cota alta da área de intervenção e desenvolve-se até à cota baixa, onde se situa o olival centenário existente (que se preservou integralmente). O edifício encaixa-se no desnível e, pelo exterior, promovem-se intervenções pontuais, que pretendem valorizar a área de intervenção: com a implementação de estacionamento, acessos viários/pedonais e construção de pavimentos, muros de suporte e nova arborização que encaminham ou retêm as águas pluviais e contrariam o efeito de “ilha de calor”, num dos pontos mais expostos à exposição solar da vila.

No nível intermédio propôs-se uma Praça Pública, que estimula o encontro, a contemplação da paisagem envolvente e prepara o acesso ao edifício. Neste ponto, destacam-se apenas os volumes brancos que anunciam o “poço de luz” (que ilumina o átrio no piso inferior) e as coberturas das capelas funerárias – nascente e poente.

No embasamento o edifício é revestido a pedra de xisto local, como forma de aumentar a resistência ao impacto e garantir maior estanquidade no contacto com o solo.

Pelo interior os espaços passam a encaixar-se no desnível do terreno, encerrando-se à envolvente, entre ambientes e espaços que convidam ao silêncio e introspeção, assim como potenciam a dicotomia interior/exterior.

Central na organização espacial – o átrio/sala de espera – funciona como espaço de estar, mas também como distribuição entre o programa público (instalações sanitárias, copa e capelas) e o programa de serviço (arrumos, áreas técnicas e área dedicada ao responsável do culto). Nas capelas, a luz percorre o espaço de forma diferenciada ao longo do dia, todos os dias do ano. A ausência total de símbolos e o mobiliário individual proposto contribuem para o acesso universal ao espaço, independentemente do culto, género ou nacional o que amplia o caracter inclusivo relacionado com o equipamento público proposto. A opção por mobiliário individual com o fim de acolher 60 utentes sentados possibilita diferentes ocupações do espaço e o sistema de abertura de portas proposto torna possível a união das duas capelas e/ou a realização de distintas cerimónias em simultâneo, caso exista essa necessidade.