Localizado em São Paulo, o projeto de renovação dos interiores da Casa VJC São Paulo de 800 metros quadrados – com arquitetura original assinada pelo Studio MK27 e concluída em 2005 – tinha como premissa a adaptação da ala social ao novo momento de vida dos moradores.
Os proprietários estabeleceram alguns pontos como a bússola que norteou o desenvolvimento da proposta: respeitar as principais características da casa de valor arquitetônico; realizar adequações no layout para atender o programa de necessidades da família; e sobretudo, espaços que privilegiassem o conforto e bem-estar.
O silêncio assumido pelo desenho e as materialidades que definem a arquitetura da residência, desde as paredes brancas de concreto até a madeira que recobre o piso da sala e se estende ao deck da varanda, ecoava uma tela em branco à recepção do novo mobiliário e coleção de arte dos moradores.
O espaço a priori contemplado por pouquíssimas peças, evocando o caráter minimalista da construção, agora tinha como intenção promover os encontros, narrados pelos momentos compartilhados com os filhos adolescentes, a recepção dos amigos e também, das rodas de conversa.
Na proposta orquestrada pela arquiteta Marina Salles (à frente do escritório Marina Salles Arquitetura e Interiores), a reorganização programática é definida a partir de três espacialidades distribuídas num eixo linear e, por sua vez, integradas: sala de jantar, de estar e lounge de apoio à lareira original que demarca a arquitetura. O layout se volta ao centro do espaço, impulsionando a interação entre os membros familiares.
Na decoração, a conexão transatlântica Brasil-Itália coexiste em fina sintonia, através da curadoria de peças de mobiliário que conjuga ícones do design moderno das duas nacionalidades.
A partir da entrada, vislumbra-se a convidativa sala de jantar, ambientada por mesa Guanabara (1959) – do designer polonês naturalizado no Brasil Jorge Zalszupin, em reedição pela Etel –, com tampo em Jacarandá e pés de cimento revestidos em couro, composta por conjunto de cadeiras Cantu Alta (1958), por Sérgio Rodrigues e, existentes do casal. Ao fundo, destaque para a tela do artista brasileiro Daniel Senise, acompanhada de pinturas instaladas sobre os painéis de madeira que identificam os interiores.
No estar, as peças categoricamente escolhidas buscam expressar aquilo que acreditamos: espaços para escrever histórias, promover conexões, e construir memórias.
O par de sofás da linha Groundpiece, por Antonio Citterio para Flexform, figura ao lado da dupla de poltronas Paulistano, desenhada por Paulo Mendes da Rocha (do acervo dos clientes), e mesa de centro Adi retangular, pela Herança Cultural, decorada com vasos Núcleo – em vidro soprado e design de Jacqueline Terpins. Na lateral dos estofados, o trio de mesas de encaixe vintage recebe luminária Buds 3, criação do designer milanês Rodolfo Dordoni para Foscarini; enquanto a mesa em Jacarandá, que leva assinatura de Giuseppe Scapinelli, é ornamentada com abajur Moragas em base de carvalho (1957), do espanhol Antoni de Moragas Gallissà por Santa & Cole. Tudo distribuído sobre tapete da Phenicia Concept.
Sugerindo agradáveis conversas acompanhadas de uma taça de vinho, o lounge estabelece um espaço acolhedor em torno da lareira. No arranjo, a dupla de poltronas ZC1, com traço original de Zanine Caldas (1948) em reedição pela Etel (2019), soma-se às mesas de apoio Tempo, por Isabelle de Mari para Olho Móveis; além de par de poltronas estofadas em camurça verde – desenhadas por Marina Salles e confeccionadas pela tapeçaria Jocal – em composição com carrinho de chá, mesa de centro por Giuseppe Scapinelli (existente), e pufes Pietra, de Isabelle de Mari. Dedicada à leitura, a poltrona com pufe para os pés Lousiana, do italiano Vico Magistretti por De Padova, é acompanhada por cesto de couro para o armazenamento de mantas, traduzindo a atmosfera requerida desde o início do projeto. Acima da lareira, a superfície dá lugar às obras do acervo particular.
A paleta cromática dos objetos decorativos se inspira nas nuances encontradas nos tecidos das poltronas e na beleza do jardim que surge emoldurado através dos amplos caixilhos de vidro – salpicando o ambiente com vasos, esculturas e almofadas em tons de verde, ocre e caramelo.
Em destaque na parede de maior dimensão, a sofisticada estrutura do aparador de 11 metros de comprimento, desenhado originalmente por Márcio Kogan, é repaginada com portas em palha de seda (Nani Chinellato) e moldura de madeira – encimado por telas da coleção do casal. Para trazer uma luz homogênea e pensada especialmente à iluminação das obras, o projeto luminotécnico original foi substituído por um discreto monolito de perfil triangular com difusor, sem lâmpadas aparentes, garantindo um sistema eficiente – projetado por Airton Pimenta da Lightworks.
Idealizada como uma extensão do estar, e de onde os moradores contemplam a riqueza do verde, na varanda, a escultura A Arte Salva, do artista visual Eduardo Srur, é inspiração para a paleta assumida pelo mobiliário: sofá Senja com almofadas em tons terrosos (Studio Segers para Tribù), poltrona Cove com design de Paola Lenti em tecido impermeável vermelho, e mesa de centro Mineral (Wooding). No lado oposto, mesa Plano (Paola Lenti) rodeada por cadeiras Kilt em corda e Teca (Ethimo).
Projeto
Casa VJC São Paulo
Localização
São Paulo, SP, Brasil
Projeto original de arquitetura
Studio MK27
Design de Interiores
Marina Salles Arquitetura e Interiores
Equipe de Design de Interiores
Marina Salles, Marina Campidelli, Juliana Fonseca
Iluminação
Lightworks (Airton Pimenta)
Reforma
Mareô
Fotografias
Fran Parente
Fornecedores
Flexform, Etel, De Padova, Herança Cultural, Olho Móveis, Paola Lenti, Ethimo, Tribù, Wooding, Jocal, Jacqueline Terpins, Foscarini, Santa & Cole, Nani Chinellato, Phenicia Concept
Área de intervenção
140 m²
Ano de projeto
2023