Casas de Campo no Trebilhadouro

Categorias: Multifamiliar

A obra apresentada consiste na transformação de 9 casas para Turismo no Espaço Rural, dispersas pela aldeia do Trebilhadouro que, pelo seu tamanho reduzido e pela proximidade das construções, vê assim grande parte do seu património construído ser reabilitado.

A aldeia do Trebilhadouro localiza-se na vertente Poente da serra da Freita, em Vale de Cambra, a cerca de 625m de altitude. A sua posição estratégica permite-lhe uma visão privilegiada do território circundante nomeadamente a Ria de Aveiro.

Trata-se de uma aldeia de pequena dimensão, onde as construções se implantam segundo um percurso central que atravessa toda a povoação. Este percurso, com um acesso a partir da estrada municipal, atravessa uma série de socalcos agrícolas para chegar até à cota estável onde se situa a aldeia. No centro da povoação situa-se a fonte e a represa para rega dos terrenos.

As construções são de pequena dimensão, maioritariamente com dois pisos, em alvenaria de pedra com estrutura da cobertura e pisos intermédios em madeira e cobertura em telha cerâmica. O piso térreo destinava-se sobretudo aos animais e alfaias agrícolas sendo o piso superior reservado à habitação. Trata-se de casas modestas com áreas exíguas e de construção rudimentar salientando-se a qualidade do conjunto arquitetônico, da sua implantação no território e não tanto pela qualidade arquitectónica individual.

A aldeia encontrava-se numa situação frágil, as construções em ruína possuíam poucas memórias do seu passado, tornou-se necessário rescrever um. Com base no existente e com uma análise do edificado na região, chegou-se a um princípio de intervenção onde se procurou recuperar a linguagem arquitectónica característica destas construções. As ampliações pontuais seguiram o princípio construtivo primitivo, tanto a nível material como no seu desenho. Pretendeu-se uma imagem coerente e homogénea para o conjunto das casas intervencionadas.

O tamanho da aldeia não permite uma grande diversidade e contraste de linguagens. A oportunidade de recuperar grande parte das construções ainda restantes revelou-se de uma enorme responsabilidade por poder constituir-se como um corpo construído de referência a futuras recuperações, como veio a verificar-se mais tarde.

O programa moldou-se à compartimentação primitiva, privilegiando-se a leitura do espaço interior na sua totalidade concentrando espaços de de serviço em pequenas “caixas”. Procurou-se preservar a escala reduzida das casas como memória e sempre que necessário, reproduziram-se as proporções destes espaços.

Procurou-se definir uma hierarquia na caracterização dos espaços recorrendo-se a dois sistemas de pormenorização distintos: o primeiro, em construções de pequena dimensão, caracteriza-se pela simplificação dos encontros entre materiais usando-se a betonilha aditivada com óxido de ferro “queimada” à colher nos pavimentos, alvenaria de pedra aparente nas paredes e tectos com os vigamentos aparentes; um segundo, em construções de maior relevância, recorre a remates em madeira como rodapés e guarnições e revestimentos de tecto em madeira tipo “Capa e Camisa”. A hierarquia na pormenorização, presente na Arquitetura Popular Portuguesa, apresenta-se neste caso relacionada com a importância do compartimento.

Para esta obra privilegiou-se a utilização de materiais de proveniência local como as madeiras autóctones como o Pinho e o Eucalipto e outros materiais como o granito amarelo da região. A mão-de-obra, proveniente da região, aplicou técnicas de construção artesanais.

As cantarias utilizadas na ampliação dos volumes em pedra tiveram origem em demolições e foram reaproveitadas neste contexto, resultando no reaproveitamento de um material e numa melhor integração do novo em relação às alvenarias primitivas.

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FICHA TÉCNICA
Projeto
Casas de Campo no Trebilhadouro

Localização
Trebilhadouro, Vale de Cambra, Portugal

Arquitetura
André Tavares Arquiteto
Arquiteto Responsável
André Eduardo Tavares

Especialidades
Ana Rita Moura, Carlos Moura, Fernando Meireles

Construção
Rogério B. Santos Construções Lda.
Colaboração
Mariana Alves e Diogo Ramalho

Área
897.0 m2
Projecto
2009

Realização
2009 – 2014
Fotografias
Arménio Teixeira
Galeria
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