ICARO
“Ícaro” nasce da exigência de criar continuidade entre os espaços existentes e as realidades futuras. A integração no tecido urbano por si só não é suficiente, as pessoas são fundamentais no processo. Assim surge o Ícaro, que de forma subtil se vira ao encontro do sol.
CONTEXTO
A área de intervenção localiza-se na Quinta do Pombal, no Monte da Caparica, estabelecendo relação à cota baixa com a Rua Lino Lima e à cota alta com a Rua dos Carlos Reis. A envolvente próxima é constituída maioritariamente por habitação e por um campus universitário e de investigação à cota alta. Na morfologia urbana de Almada é evidente que o crescimento nas periferias está diretamente relacionado com a migração da população e a consequente construção de conjuntos habitacionais e comerciais. Com o objetivo de atenuar/diluir a discrepância entre as periferias e o centro da cidade, a proposta deverá assegurar a criação de programas e espaços alternativos que englobem as comunidades locais, sem as segregar entre si. O programa de arrendamento acessível permite o apoio aos grupos sociais de baixo rendimento, melhorando os padrões de habitação da cidade. Assim, o redesenho solicitado a propósito deste concurso não se deve reduzir apenas a acrescentar um volume construído na área destinada, mas sim, contribuir enquanto gesto que contaminará todo o contexto, quem o ocupa no presente e que o integrará no futuro.
INTEGRAÇÃO E CONDICIONANTES
Quando olhamos o entorno percebemos que esta zona é residencial, e que há uma falta aparente de espaços de permanência e de edifícios que criem o pano de fundo para que essa interrelação social ocorra. Os únicos espaços públicos presentes estão associados ao trabalho académico, não possuindo o carácter necessário para criar contexto social urbano. Como consequência disto este lote surge como ponto chave para este efeito. A topografia onde se insere, e os elementos pre-existentes, sugerem um terreno rígido que terá de mediar duas cotas, considerando as duas escadarias existentes nos topos do lote. Naturalmente será através deste desfasamento que o edifício deve ser colocado. Isto, junto com a densidade habitacional pretendida e o carácter aglomerador do edificado, torna o edifício numa pedra de fecho do local. A proposta mimetiza o desfasamento topográfico do local dividindo o bloco em dois corpos volumétricos distintos, que assumem carácteres diferenciados, relacionados com os contextos urbanos das duas cotas. Sugerem ambientes de permanência, numa zona marcada por eixos viários importantes. Se à cota baixa o acesso viário principal exige uma translacção mais lenta dos usuários, a via principal que ladeia o topo do terreno, pede uma maior dinâmica. Estas duas naturezas sugerem actuações distintas quanto ao desenho das fachadas, separadas pela diferença de cotas, uma estática e contínua, a outra dinâmica e ritmada.
ROTAÇÃO SOLAR | ARTICULAÇÃO DO EDIFICADO
Tal como a personagem mitológica grega, também a proposta Ícaro procura aproximar-se do sol. A envolvente próxima é marcada por edifícios contínuos e monótonos. Face a esta densidade e evidenciando a divisão programática dos interiores no comportamento da fachada. O desenho procura encontrar os enfiamentos visuais desimpedidos e uma melhor orientação solar. A torção dá também lugar a um sistema de varandas que medeiam a relação entre interior e exterior, entre o público e o privado, promovendo ainda o sentido de vizinhança. A racionalidade da solução estrutural ajuda a adoçar a relação do edifício com o espaço público, contribuindo também para o seu redesenho. O edifício pousa subtilmente sobre o espaço verde que o envolve, redesenhando o seu entorno. O próprio volume assume duas cotas volumetricamente. As escadas que ligam as duas ruas conformam o espaço público às duas cotas, e criam espaços próprios informais, com sucessivos plateaus, que permeiam o percurso nos topos do edifício. A entrada é feita pela cota baixa, na Rua Alfredo Cunha, sendo que o edifício se liberta do chão nesta fachada de forma a aumentar a relação com o espaço público. É sob o edifício que se colocam as entradas, caracterizadas por um verde forte como uma chamada à estadia, e que por razões práticas se concentram os serviços necessários, o parque de bicicletas e mobilidade elétrica e a sala de reciclagem e resíduos sólidos urbanos. Cria-se então um pano de fundo onde a vida colectiva ocorre, elemento conector da área, que propõe simultaneamente ligação e estadia. O convívio moderno está cada vez mais dependente do mundo digital. Os edifícios parecem perder a necessidade de acomodar algum tipo de movimento. a proposta propõe contrariar isso. O edifício galvaniza-se transportando a vida privada para a esfera pública deixando de ser algo distante para se juntar ao ambiente de praça.
FLUÍDA RIGIDEZ
Modos de vida diferentes resultam em tipologias com graus de flexibilidade variadas. A fachada do edifício pretende reflectir esta dualidade através do uso de dois tipos de placagem pré-fabricada de rugosidade contrastante. Esta solução permite uma construção com maior rapidez e uma manutenção mais eficaz, menos interventiva e menos dispendiosa. A esta fachada estão associadas varandas que contribuem para a permeabilidade do edificado, reduzem o nível de poluentes no solo uma vez que elevadas, que se orientam de modo a permitir a correcta insolação dos apartamentos . A clareza da actuação construtiva, pretende evidenciar uma racionalidade técnica materializada numa estrutura principal racional colmatada por um conjunto de elementos pré-fabricados e modulares, cuja manufacturação é feita em ambientes controlados e planeada para uma rápida aplicação, promovendo uma eficiente utilização dos materiais, da mão-de-obra e do tempo despendido. A proposta faz uso de três texturas distintas. Se por um lado os elementos corrugados definem os paramentos da zonas sociais, que limitam a visibilidade do exterior para o interior, os elementos lisos aparecem como pano de fundo dos momentos de transição nas escadas dos topos dos edfícios, sugerindo algo em contínuo, fluído e tranquilo. Dois momentos são evidenciados: um que procura olhar e dar o que ver, através do jogo entre textura opaca e panos de vidro, e um liso que serve de cena para que a vida social. O edifício encontra-se dividido entre um elemento estático e outro dinâmico, que sugere o carácter dos espaços a que eles correspondem. s, faz delas um contínuo, que no seu extremo formalismo e rigidez cria o espaço para o indivíduo. Pautando estes espaços comuns, os módulos de cozinha servem de charneira, remetendo à concepção da habitação como um fogo. As áreas sociais avançam sobre a Rua Carlos Reis, vêem e são vistas. Os espaços nocturnos organizam-se no volume regular, circunscritos a uma estrutura rígida. O volume assume-se como um contínuo, abrindo os vãos estritamente necessários.
SISTEMATIZAR
A utilização de painéis pré-fabricados, para além dos benefícios económicos de produção, permite ainda um maior controlo da qualidade do acabamento final. Estes tipos de fachadas são ainda bastante resilientes permitindo otimizar os custos de manutenção ao longo da vida útil do edifício. A opção pela textura prende-se com o facto de esta permitir ocultar as juntas entre painéis, garantindo a continuidade da fachada. Desta forma, é possível conciliar os benefícios da pré-fabricação com a estratégia de fachada pretendida. De forma a otimizar custos de construção, optou-se por ter apenas dois tipos de vãos sem variação de dimensão. Assim, nas zonas sociais foram introduzidos vãos de duas folhas de abrir (por terem um comportamento térmico e acústico superior às de correr), cada uma de 75 cm, com um vão total de 1.50m. Nos quartos, a opção foi por um vão de abrir único e mais reduzido, de 80 cm. Todos os vãos ocupam a totalidade da altura do piso. A. As cozinhas e Lavandarias são as infraestruturas mais complicadas e que consomem mais tempo e recursos durante a construção. Constituem por isso o espaço mais caro de toda a habitação.Existem, portanto, benefícios em repensar a forma como desenhamos e criamos estes módulos. A produção em fábrica destas estruturas permite tirar partido da sua repetição, otimizando os seus custos, bem como garantindo a qualidade dos acabamentos finais. B. No Ícaro, propomos a elaboração dos módulos de cozinha e lavandaria por pré-fabricação, permitindo que a sua produção se inicie logo no início de obra e a sua montagem seja feita logo após a conclusão da estrutura. Desta forma, para além dos benefícios diretos de qualidade e preço, esta estratégia contrinui ainda para uma obra global mais rápida. C. Os WC’s, a par das cozinhas são também das zonas mais sobrecarregas de infraestruturas nas habitações e, consequentemente, também as zonas mais dispendiosas. De forma a otimizar o custo destas estruturas a sua localização é contígua uma à outra, de forma a diminuir o impacto de coretes dentro da habitação. Estes módulos serão revestidos a materiais cerâmicos de origem portuguesa, garantido a sua durabilidade e higiene.
TEXTURA
A clareza da actuação construtiva, pretende evidenciar uma racionalidade técnica materializada numa estrutura principal racional colmatada por um conjunto de elementos pré-fabricados e modulares, cuja manufacturação é feita em ambientes controlados e planeada para uma rápida aplicação, promovendo uma eficiente utilização dos materiais, da mão-de-obra e do tempo despendido. Com efeito, as opções construtivas contribuem grandemente para a durabilidade e sustentabilidade da solução, sendo reflexo de uma procura de soluções que permitam uma elevada economia e que garantam a exequibilidade financeira da proposta.
PROJETO DE ARQUITETURA PAISAGISTA
A proposta de integração paisagística privilegia a vivência quotidiana e proporciona uma maior relação com os espaços exteriores, através da acessibilidade, coesão social, segurança e o valor paisagístico. Os benefícios dos espaços verdes em ambientes residenciais são amplamente reconhecidos e progressivamente mais documentados, como não só proporcionam um ambiente agradável e natural, mas também melhoram a qualidade de vida nas áreas urbanas enquanto satisfazem funções ecológicas. Ao nível de acessibilidade, a definição da circulação do espaço teve como base uma análise dos percursos já existentes, nomeadamente das duas escadarias laterais ao edifícios. A proposta propõem especial atenção à integração das escadarias com uma relação natural com vegetação, no sentido dede amenizar o caráter construído da paisagem, aumentando a permeabilidade geral dos espaços exteriores. Isto permite enquadrar espaços de plantação com árvores sub-árvores e arbustos de grande porte e maciços de plantação de carácter arbustivo-herbáceo, que vão potenciar a amenidade climática de toda esta área, promovendo o uso social. Ambas as escadarias são desenhadas com base na organicidade dos percursos, inspirada nos movimentos naturais das pessoas nos espaços abertos, e na forma como interagem com o ambiente envolvente e umas com as outras. No alargamento do passeio na fachada do edifício, formam-se as áreas de estadia formais, ou pequenas praças, que convidam à permanência, com o recurso a bancos e a sombras, que permitem também o convívio e a contemplação da paisagem. Os percursos entre os espaços de estadia refletem uma perspetiva de desenho focada no utilizador, uma vez que se inspira nos movimentos naturais das pessoas circularem nos espaços abertos, e na forma como interagem com o ambiente envolvente e umas com as outras. Estes percursos propostos são exclusivamente pedonais e cicláveis e estabelecem uma circulação continua em anel, promovendo a deambulação, o andar e a prática desportiva.
O MEIO AMBIENTE E A SUSTENTABILIDADE
A SOLUÇÃO ESTRUTURAL: A durabilidade é o factor principal de sustentabilidade. A qualidade, o respeito escrupuloso das recomendações mais recentes dos eurocodigos quanto às disposições construtivas e controlo de fendilhação são a melhor garantia de dilatação da vida útil e da redução de consumos desnecessários ao longo do tempo em manutenção, reduzindo assim a pegada de carbono associada. O recurso, quando possível, à pré-fabricação, a utilização de materiais reciclados, como armaduras ordinárias de aço reciclado ou agregados reciclados na produção do betão são factores fundamentais que contribuem significativamente para a redução do consumo de carbono.
AS FACHADAS: As fachadas preveem-se pré-fabricadas em betão armado garantindo assim a uniformidade do aspecto. Todo o perímetro exterior será dotado de uma malha (vertical e horizontal) de pilaretes pré-fabricados em betão garantindo compatibilização de deformações entre pisos. Num segundo plano, os painéis de fachada preveem-se também préfabricados em betão utilizando uma mistura de agregados leves reciclados e cortiça de forma a reduzir o peso, o consumo de cimento e melhorar a pegada ecológica, melhorando consideravelmente o isolamento térmico conferido.
PROJECTIO DE ESPECIALIDADES
Com a entrada em vigor do REH (Regulamento de Desempenho Energético dos Edifícios de Habitação, DL 101-D/2020, de 7 de Dezembro) e com o arranque do funcionamento do SCE (Sistema Nacional de Certificação Energética e de Qualidade do Ar Interior nos Edifícios, DL 78/2006), pretende-se impor regras de eficiência aos sistemas de climatização que permitam melhorar o seu desempenho energético efectivo e garantir os meios para a manutenção de uma boa qualidade do ar interior, quer a nível do projecto, quer a nível da sua instalação, quer durante o seu funcionamento, através de uma manutenção adequada. O projecto de AVAC proposto procura favorecer sistemas centralizados como forma de tirar partido de economias de escala, e soluções energeticamente mais eficientes, incluindo as que recorram a sistemas baseados em energias renováveis, sempre que economicamente viável. O edifício será certificado pelo Sistema Nacional de Certificação Energética e de Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE), pretendendo-se obter uma classificação energética, de boa qualidade, pelo que serão ser efectuados todos os esforços no sentido de optimizar o funcionamento dos sistemas e minimizar quaisquer perdas de energia, quer ao nível do projecto quer através da execução cuidada da instalação e na montagem dos seus equipamentos.
SOLUÇÕES BIO-CLIMÁTICAS ADOPTADAS
A inércia térmica – Os edifícios em questão são caracterizados por uma inércia térmica pesada. A atenuação dos ganhos de calor depende da massa térmica do edifício, ou seja, da capacidade que um edifício tem, na sua envolvente, de armazenar energia térmica, “calor” o que dá origem a uma diminuição dos valores de pico das cargas de arrefecimento e um desfasamento entre as temperaturas exteriores e interiores. Um edifício com uma inércia térmica forte permite que na estação Verão os picos de calor, provenientes da envolvente exterior, possam ser desfasados dos picos de ocupação do edifício, ficando estes retidos na própria envolvente e sendo apenas libertados para o interior do edifício no final do dia. Deste modo uma inércia térmica elevada, conjugada com uma ventilação natural nocturna, permite remover toda a carga existente no edifício durante a noite. A circulação de ar contribui para a diminuição da temperatura interior e ainda para a remoção do calor sensível armazenado na massa térmica. As aberturas deverão ser colocadas no quadrante sul e em locais opostos de forma a permitir a ventilação transversal de forma a conciliar as estratégias de aquecimento e de arrefecimento. Este tipo de solução permite uma elevada redução dos consumos de energia para arrefecimento, uma vez que, impede que grande parte dos ganhos solares possam resultar no imediato num aumento da temperatura dos espaços interiores, reduzindo deste modo os consumos de climatização.
PROTECÇÕES SOLARES/ VÃOS ENVIDRAÇADOS
O edifício proposto será igualmente dotado de um sistema de protecções solares exteriores, nos vãos envidraçados, com a uma tela de sombreamento exterior, de modo a reduzir a radiação directa para o interior do edifício, evitando deste modo um excessivo aumento de energia para arrefecimento. A conjugação dos vãos envidraçados com protecções solares exteriores permite ainda assim uma boa iluminação natural dos espaços interiores, reduzindo drasticamente os consumos de electricidade com a iluminação, e por outro lado evita ganhos solares e internos desnecessários na estação de arrefecimento. Os vãos envidraçados estrategicamente localizados permitem na estação de aquecimento uma boa captação dos ganhos solares, resultando deste modo num aquecimento passivo do edifício bastante interessante.
ENERGIAS RENOVÁVEIS
Para o aquecimento das águas quentes sanitárias, serão previstos painéis solares térmicos associados a bombas de calor do tipo monobloco. Será instalado um sistemas deste tipo por fracção autónoma. Em complemento ao sistema de energias renováveis será também proposta a instalação de painéis solares fotovoltaicos, para produção de energia eléctrica para melhoria da classificação energética e redução de consumos eléctricos.
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Projeto
ICARO (PLOT C)
Localização
Almada, Portugal
Cliente
Câmara Municipal de Almada
Arquitetura
Paisagismo
Engenharia
Adão da Fonseca – Engenheiros Consultores 🔗
3D Images (exterior)
Área
Variável
Tipo
Concurso de concepção
Programa
Habitação
Assessoria Técnica
Ordem dos Arquitetos (SRLVT)
Ano
2022