Com este projeto Margueda AL, procedeu-se à reabilitação de uma moradia unifamiliar, cuja construção datava da década de 1980, convertendo-a em unidade de alojamento local, situada na zona histórica consolidada de Alcains (Castelo Branco).
Procurou-se que o conjunto urbano fosse valorizado com este projeto, através de elementos volumétricos, cromáticos e materiais que pudessem resolver o enquadramento das frentes de rua que a edificação ocupa. Tendo-se também em conta as limitações espaciais e a configuração morfológica existente, houve uma tentativa de se melhorarem as suas condições de habitabilidade, funcionalidade e salubridade.
Mantendo-se a sua ocupação de solo e volumetria, a sua utilização, tipologia arquitetónica e acessos de rua foram integralmente reformulados.
O edifício existente, possuía duas frentes de rua: a Sul, na Rua das Pedras do Sal, situava-se a antiga entrada principal, sendo que a Nascente existia um segundo acesso, pela Travessa da Amoreira. Esta lógica foi alterada, com a concretização do projeto. Com efeito, por motivos funcionais, uma vez que a entrada original da casa era muito estreita e desadequada ao novo uso, decidiu-se converter o acesso Nascente na entrada principal do edifício.
Nos alçados confinantes com as duas frentes de rua, foram, então, criados novos elementos de marcação de fachada. A fachada Sul é rematada por uma gelosia cerâmica, que conferiu privacidade à zona de quarto aqui prevista, o que remete para um carácter tradicional, reinventado de forma contemporânea. A Nascente, foi criado um portão que marca a nova entrada principal, possuindo este, uma materialidade diáfana que, conferindo privacidade ao logradouro, não corta totalmente, ainda assim, a sua comunicação visual com a rua.
O edificado é composto por dois volumes: um com um piso, outro com dois, articulados entre si, por um espaço exterior: um pequeno jardim. A configuração deste foi substancialmente alterada em função do novo uso, apresentando-se agora como espaço de fruição fundamental do complexo e permitindo ainda a entrada pontual de automóveis, através do amplo portão que marca a entrada.
A configuração geométrica da edificação existente no terreno, conferiu um grau de complexidade considerável à distribuição espacial desta unidade de alojamento local. A reconfiguração da escada exterior, que constitui a comunicação vertical entre os dois níveis, foi fundamental para a sua resolução. Procurou-se ainda manter, sempre que possível, a métrica e a posição da estrutura existente, em lajes de vigotas apoiadas em paredes de carga portantes, o que também condicionou bastante a disposição interior dos espaços.
Deste modo, com esta proposta, foram criadas seis unidades independentes de quarto e instalações sanitárias (duas delas com espaços exteriores privativos), distribuídas pelos seus dois níveis, bem como uma lavandaria/arrecadação e uma cozinha/espaço de refeições, associada ao espaço do logradouro. Estes dois últimos, com uma ligação fluida entre eles, têm um caráter de uso comunitário para todos os hóspedes, assumindo-se como espaços de convívio social.
No que diz respeito aos aspetos tectónicos e acabamentos utilizados, privilegiaram-se materiais com um caráter natural, como o tijolo de barro vermelho e a madeira (sob a forma de painéis tricapa de casquinha), conjugados com o mosaico de terrazzo e o azulejo branco, escolhidos pela sua durabilidade e baixo custo, para além da sua neutralidade estética.
Procurou-se também, a nível de imagem exterior das fachadas adjacentes ao pátio, criar diversas gelosias cerâmicas em zonas de galeria exterior coberta, à semelhança da aplicada na fachada Sul, no sentido de se assumir uma coerência visual de todo o complexo, que remete para uma imagética tradicional que alia o rural ao industrial, o que poderá ser lido como uma interpretação do caráter idiossincrático e cultural da vila de Alcains. Estes elementos surgem ainda como filtros de luz, calor e privacidade, num contexto de densificação de uso e de fases de intensa insolação no Verão.
Houve ainda uma preocupação com a sustentabilidade e eficiência energética, sendo que o desempenho do edifício foi melhorado significativamente, através da introdução de isolamento térmico nas paredes e cobertura, da colocação de painéis solares na cobertura e da utilização de dispositivos de ventilação natural.
Além disso, numa zona histórica degradada e com população envelhecida, demonstrou-se a possibilidade de se criarem formas de ocupação e viabilidade económica alternativas para o tecido urbano existente, o que poderá constituir um ponto de partida para um processo de regeneração urbana efetiva do bairro em que o projeto se insere.
Projeto
Margueda AL
Localização
Alcains, Castelo Branco, Portugal
Arquitetura
dbA. arquitectura
Programa
Alojamento Local
Equipa de projeto
Alexandra Belo, Vitor Mingacho, Maria Marques e Matilde Dias
Créditos fotográficos
dbA Arquitectura
Área bruta construída
200m2
Ano de conclusão do projeto
2020
























