PALLADIO (PLOT A)

PALLADIO

“Se a Natureza não lançar as bases, será uma questão de artesanato para procurá-los com a arte.” Andrea Palladio Existe muito pouca escolha: 99% de todas as casas são iguais, mas todas as pessoas são, na verdade, diferentes. Existe um grande potencial se nos predispusermos a re-imaginar este processo como um todo. E se pudéssemos libertar o poder da pré-fabricação e produção na forma como construímos as nossas casas? Podemos abraçar a modularidade como força para maximizar a diversidade, e podemos criar um sistema que se adapte às pessoas e ao ambiente, e não o contrário.

 

ALMADA

Situada na margem sul do Rio Tejo, Almada é uma cidade com uma posição geográfica privilegiada, tendo em conta a relação que estabelece com o território e com os recursos hídricos circundantes. Limitada por rio e mar, funciona como área de charneira entre o rio Tejo/foz (a norte) e o oceano Atlântico (a oeste). A morfologia acidentada eleva a própria cidade a um extenso miradouro sobre a cidade de Lisboa. Entre os anos 40 e 70, associado às indústrias naval, de tecelagem ou moagem, há um aumento da população e um grande fluxo migratório devido à procura de melhores condições de emprego e habitação, tendo-se tornado um dos concelhos mais populosos de Portugal, com cerca de 118 mil habitantes. A proximidade com a cidade de Lisboa e a construção da ponte sobre o Tejo em 1966- que facilitou a mobilidade entre margens- constituiu outro fator relevante para o crescimento de Almada enquanto ‘cidade dormitório’ que oferece outras condições de vida que competem com a capital. Atualmente, no âmbito da habitação, o município de Almada apresenta um leque de estratégias que visam potenciar a reabilitação das habitações municipais, a oferta de habitação de arrendamento acessível e outras medidas urbanísticas de sustentabilidade no acesso à habitação.

 

 

CONTEXTO

A área de intervenção localiza-se na Quinta da Caneira, em Sobreda, inserida entre dois edifícios pre-existentes, numa área maioritariamente residencial, estabelecendo relação à cota baixa, a sul, com a Rua Romeu Correia e à cota alta, a norte, com a Rua Almerinda Correia. A envolvente próxima do terreno usufrui de uma rede de infraestruturas coesa, nomeadamente, acessos rodoviários e ferroviários, transportes públicos como o autocarro, zonas comerciais e zonas de lazer. Na morfologia urbana de Almada é evidente que o crescimento nas periferias está diretamente relacionado com a migração da população e a consequente construção de conjuntos habitacionais e comerciais. Com o objetivo de atenuar/diluir a discrepância entre as periferias e o centro da cidade, a proposta deverá assegurar a criação de programas e espaços alternativos que englobem as comunidades locais, sem as segregar entre si. O programa de arrendamento acessível permite o apoio aos grupos sociais de baixo rendimento, melhorando os padrões de habitação da cidade. Assim, o redesenho solicitado a propósito deste concurso não se deve reduzir apenas a acrescentar um volume construído na área destinada, mas sim, contribuir enquanto gesto que contaminará todo o contexto, quem o ocupa no presente e que o integrará no futuro.

 

 

INTEGRAÇÃO E CONDICIONANTES

A evidente preocupação da intervenção será colmatar o lote vazio do local, mas com a preocupação de reabilitar também a maneira como a envolvente é ocupada. A proposta propõe rematar formalmente o conjunto em que se insere, garantindo uma coesão volumetricamente. O novo bloco surge como transição entre os dois edifícios vizinhos. Estes possuem uma identidade vincada, mas como estão inseridos num contexto expectante, parece ser basilar a preocupação de garantir a estabilidade dos conjuntos urbanos e a viabilidade da ocupação social do espaço público, por via de uma lógica nova de edificado, neutro mas dinamizador. Assim o novo bloco é uma pedra de fecho na visão total do conjunto edificado. O pedido propõe a edificação de três pisos habitados, que por si só não permitem igualar as cérceas vizinhas. A proposta faz uso de um piso adicional por via de uma de uma cobertura inclinada que mimetiza as formas circundantes. Uma vez que as Ruas adjacentes possuem altimetrias distintas, pareceu essencial abordar a natureza diferenciada da escala do edificado às duas cotas, bem como acomodação tipológica à topografia, na relação com o espaço público, compreendendo igualmente, a relação transversal dos acessos no contacto com a envolvente. Percebendo que a abordagem de intervenção pode ser por via da convergência ou da oposição, a proposta procura ser a de aglomerar estas duas visões por meio de uma neutralidade activa, de uma passividade dinâmica. Dá o mote de ocupação, encontrando na rigidez a capacidade de acomodar mudança.

 

 

DE UM MÓDULO, UM MÚLTIPLO

A lógica do edifício desenvolve-se através do uso de uma única unidade mínima volumétrica(3,20×3,20m) que se replica, e desdobra de maneira a conformar espaço e multiplicar usos. O espaço entre as duas construções existentes é então ocupado por uma estrutura prefabricada que racionaliza esse vazio. Um ritmo de dez unidades é articulado para a envolvente. Este vazio que resulta deste ritmo conforma o módulo básico do habitar. O quadrado, que se repete também na fachada, é simultaneamente janela, varanda e porta. Dentro da aparente repetição, é alcançado um sentido de variação e familiaridade, dando espaço à identidade dentro da rigidez. Este “esqueleto” é então envolvido por um invólucro que garante o conforto das habitações. Esta compreensão de algo que estabelece estrutura e algo que envolve, cria a possibilidade de definir os espaços internos e a relação de continuidade com a envolvente próxima abrindo vãos ou vazios no edifício. À cota superior cada hall de entrada ocupa um módulo, anexo a uma via de carácter mais formal, com uma relação de meio piso para o primeiro hall de apartamentos, enquanto que à cota inferior é feito o uso de 4 módulos acomodando também um espaço para armazenar bicicletas, onde o carácter urbano está menos formalizado. Se à cota alta estabelecemos uma relação franca com a Rua Almerinda Correia, no piso inferior a percepção exterior é ditada pela fachada. Nesta, por via de um cobogó, é falseada a verdadeira escala dos arrumos interiores, controlando a passagem da luz, propondo uma textura translúcida intermédia entre cheio e vazio. Acima do embasamento começam a contrapor-se os diversos mecanismos de fachada. Estes fazem transparecer o uso, como resposta à caracterização interna e ocupação, por parte dos utilizadores.

 

 

A CAIXA MILAGROSA

Le Corbusier definia a Bôite à Miracle como uma caixa que contém tudo aquilo que conseguimos imaginar. O uso da prefabricação permite, mais do que uma economia de meios, uma racionalização de montagem e uma relação estruturada entre cada momento. A semelhança volumétrica entre os ambientes permite que essa clareza seja transposta para a fachada, facilitando a adaptação dos espaços e dos vãos ao uso específico exigido pelos moradores de cada habitação. Cada vazio entre a estrutura passa a fazer parte de um espaço em contínuo. A nossa percepção de prefabricação é de ferramenta de unifomidade e paridade. Empresas como a IKEA moldam a nossa sociedade fornecendo e desenhando a nossa estrutura social. 98% das pessoas retratadas no catálogo do IKEA são jovens. 92% deles são loiros. Ou são crianças, ou estão ocupados a construir famílias. Tudo o que o IKEA fabrica tende a transformar a esfera da domesticidade num espaço ensolarado, feliz e apolítico, habitado por jovens satisfeitos, saudáveis. “Welcome, to the Independent Republic of your Home” como dizem nos seus anúncios – criando o sentido de lar ou de uma vida familiar. No entanto, isto também pode ser construído no dia a dia de forma bem diferente. Nem todos somos saudáveis. Nem todos somos jovens. Nem todos nós ambicionamos de ter filhos. Existe, portanto, espaço para conceber a vida de uma forma diferente. Desobedecer à injunção do IKEA de conter as interações sociais dentro dos ensolarados enclaves domésticos apolíticos é o que propomos como uma noção urbana do doméstico: não espaços neutros e enclausurados, mas espaços flexíveis que permitam acomodar a diversidade e heterogeneidade dos modos de vida contemporâneos e onde os afetos também possam surgir.

 

 

PROJECTO DE PAISAGISMO

O aumento da temperatura nas cidades e a presença de corredores de vento criados devido à grande dimensão dos edifícios, a baixa taxa de humidade provocada pela insuficiente quantidade de árvores e de superfícies verdes permeáveis indicam-nos a importância, de introduzir a vegetação no meio urbano.A plantação de árvores nos arruamentos é uma estratégia de requalificação urbana, sendo que ecologicamente o efeito mais evidente sobre o microclima é a sombra. As árvores absorvem e refletem as radiações solares de tal maneira que as variações de temperatura diurnas e noturnas são significativas comparado com arruamentos sem arborização. Desta forma, durante o dias as temperaturas, serão menos quentes, enquanto que as noites serão menos frias. No meio urbano os espaços degradam-se mais rapidamente quando existe uma ausência de cobertura vegetal. Essa condição torna a superfície do solo mais sensível ao impacto das chuvas e a força do vento. A presença de coberto vegetal contribui também para a redução de poluentes químicos, poeiras, entre outros. A folhagem permite uma “filtragem” das poeiras, que serão depois levadas para o solo por meio da água das chuvas. Ao preservar os espaços verdes e havendo arruamentos arborizados é possível reduzir o volume de água destas chuvas, à superfície, reduzindo o risco de inundações. Esteticamente o estrato arbóreo também tem um papel fundamental nos arruamentos, adicionando cor através das flores, folhas e troncos aumentando a biodiversidade e dando mais vida ao local anulando a monotonia de pavimentos e estruturas construídas.

 

 

PROJECTIO DE ESPECIALIDADES

Com a entrada em vigor do REH (Regulamento de Desempenho Energético dos Edifícios de Habitação, DL 101-D/2020, de 7 de Dezembro) e com o arranque do funcionamento do SCE (Sistema Nacional de Certificação Energética e de Qualidade do Ar Interior nos Edifícios, DL 78/2006), pretende-se impor regras de eficiência aos sistemas de climatização que permitam melhorar o seu desempenho energético efectivo e garantir os meios para a manutenção de uma boa qualidade do ar interior, quer a nível do projecto, quer a nível da sua instalação, quer durante o seu funcionamento, através de uma manutenção adequada. O projecto de AVAC proposto procura favorecer sistemas centralizados como forma de tirar partido de economias de escala, e soluções energeticamente mais eficientes, incluindo as que recorram a sistemas baseados em energias renováveis, sempre que economicamente viável. O edifício será certificado pelo Sistema Nacional de Certificação Energética e de Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE), pretendendo-se obter uma classificação energética, de boa qualidade, pelo que serão ser efectuados todos os esforços no sentido de optimizar o funcionamento dos sistemas e minimizar quaisquer perdas de energia, quer ao nível do projecto quer através da execução cuidada da instalação e na montagem dos seus equipamentos.

 

 

SOLUÇÕES BIO-CLIMÁTICAS ADOPTADAS

A inércia térmica Os edifícios em questão são caracterizados por uma inércia térmica pesada. A atenuação dos ganhos de calor depende da massa térmica do edifício, ou seja, da capacidade que um edifício tem, na sua envolvente, de armazenar energia térmica, “calor” o que dá origem a uma diminuição dos valores de pico das cargas de arrefecimento e um desfasamento entre as temperaturas exteriores e interiores. Um edifício com uma inércia térmica forte permite que na estação Verão os picos de calor, provenientes da envolvente exterior, possam ser desfasados dos picos de ocupação do edifício, ficando estes 5.TÉRMICA E AVAC retidos na própria envolvente e sendo apenas libertados para o interior do edifício no final do dia. Deste modo uma inércia térmica elevada, conjugada com uma ventilação natural nocturna, permite remover toda a carga existente no edifício durante a noite.

 

A circulação de ar contribui para a diminuição da temperatura interior e ainda para a remoção do calor sensível armazenado na massa térmica, As aberturas deverão ser colocadas no quadrante sul e em locais opostos de forma a permitir a ventilação transversal de forma a conciliar as estratégias de aquecimento e de arrefecimento. Este tipo de solução permite uma elevada redução dos consumos de energia para arrefecimento, uma vez que, impede que grande parte dos ganhos solares possam resultar no imediato num aumento da temperatura dos espaços interiores, reduzindo deste modo os consumos de climatização.

 

 

PROTECÇÕES SOLARES/ VÃOS ENVIDRAÇADOS

O edifício proposto será igualmente dotado de um sistema de protecções solares exteriores, nos vãos envidraçados, com a uma tela de sombreamento exterior, de modo a reduzir a radiação directa para o interior do edifício, evitando deste modo um excessivo aumento de energia para arrefecimento. A conjugação dos vãos envidraçados com protecções solares exteriores permite ainda assim uma boa iluminação natural dos espaços interiores, reduzindo drasticamente os consumos de electricidade com a iluminação, e por outro lado evita ganhos solares e internos desnecessários na estação de arrefecimento. Os vãos envidraçados estrategicamente localizados permitem na estação de aquecimento uma boa captação dos ganhos solares, resultando deste modo num aquecimento passivo do edifício bastante interessante.

 

 

ENERGIAS RENOVÁVEIS

Para o aquecimento das águas quentes sanitárias, serão previstos painéis solares térmicos associados a bombas de calor do tipo monobloco. Será instalado um sistemas deste tipo por fracção autónoma. Em complemento ao sistema de energias renováveis será também proposta a instalação de painéis solares fotovoltaicos, para produção de energia eléctrica para melhoria da classificação energética e redução de consumos eléctricos.

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FICHA TÉCNICA

Projeto

PALLADIO (PLOT A)

 

Localização

Almada, Portugal

 

Cliente

Câmara Municipal de Almada

 

Arquitetura

MASSLAB ?

 

Paisagismo

OH!Land Studio ?

 

Engenharia

Adão da Fonseca – Engenheiros Consultores ?

 

3D Images (exterior)

Framax ?

 

3D Images (interior)

Bisto  ?

 

Área

Variável

 

Tipo

Concurso de concepção

 

Programa

Habitação

 

Assessoria Técnica

Ordem dos Arquitetos (SRLVT)

 

Ano 

2022

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