A encomenda considerava a criação de um Parque Botânico e Fluvial nas margens do rio Paiva – Cinfães, a pouca distância do local onde aquele desagua no rio Douro, com um edifício de apoio capaz de agregar e dinamizar o parque.
O lugar, um terreno bravio povoado por espécies infestantes com declive acentuado e que se estende entre a margem do rio e uma estrada municipal, era já muito procurado para atividades lúdicas, apesar de ser usado para descargas de entulho. Mais do que projetar um parque pretendia-se devolver a dignidade e a beleza natural àquele lugar, em que a utilização voluntariosa da população foi o mote para o município intervir, com o propósito de o valorizar e qualificar.
Antes de qualquer ação ou pensamento construtivo, e em busca da história do lugar, procedeu-se à limpeza do terreno e à desinfestação das espécies invasoras, revelando-se para além das espécies autóctones, muros arruinados, socalcos e ruínas de pequenas construções que demonstram o anterior uso agrícola.
Desta análise molda-se o conceito para toda a intervenção no parque, a utilização de materiais naturais e na convergência dos percursos e das zonas temáticas eleva-se um edifício.
Os materiais naturais selecionados foram o saibro nos percursos e a madeira nas construções. Na madeira recorreu-se ao poste de madeira circular, que remete para o tronco de uma árvore, sendo este o componente elementar que, na sua combinação, formaliza todas as construções no parque, desde o edifício até ao mobiliário urbano que compreende bancos, mesas, papeleiras, sinalizadores, portões e vedações. A opção por estes materiais naturais ambicionava a sua transformação e apropriação pelas forças da natureza e do tempo.
Os percursos foram associados às diferentes zonas temáticas – a ecopista, a fluvial e a botânica. A zona ecopista estende-se ao longo da estrada municipal e contém um percurso alternativo a esta para peões e bicicletas. Por este percurso ligam-se espaços de esplanada, de merendas e de campismo. A zona fluvial acompanha a margem do rio e dispõe de espaços para merendas e momentos de lazer, para pesca e uma plataforma resultante dum muro recuperado que serve de palco para espetáculos e atividades culturais. A zona botânica apresenta espaços de contemplação, fruição e descoberta associados à maior diversidade de flora implementada no parque. Todas as zonas foram complementadas com alargamentos de paragem ao longo dos percursos.
Na convergência dos percursos e das zonas temáticas ergue-se uma construção que num jeito escultural assemelha-se a um tronco serrado tornado habitável. Este edifício, de planta circular e com área de implantação de 40 m2, desenvolve-se em três níveis e concentra todo o programa de apoio ao parque. No nível inferior organizam-se as instalações sanitárias e a área técnica, no nível intermédio define-se um bar em comunicação com a esplanada exterior, e no nível superior coroa-se um espaço exterior de contemplação da natureza.
A intervenção paisagística sobre o parque definiu cinquenta e sete espécies e a plantação de mais de três mil exemplares. Estas espécies, juntamente com as espécies autóctones preservadas, exibem uma amostra da variedade natural regional encontrada desde as zonas montanhosas até às zonas fluviais. A zona botânica apresenta a maior diversidade de espécies e que resulta ao longo do ano numa multiplicidade de comportamentos de floração e senescência da folhagem. Os jogos de luz e sombra entre as folhagens das árvores, as suas matizes e intensidades, o vento que transporta os odores das flores e frutos, a água que flui no rio, e todas as texturas palpáveis destas combinações sensoriais manifestam-se como resultado essencial da intervenção.
Para encaminhar os visitantes nestas experiências sensoriais, optou-se por construir o menos possível, reduzindo-se os painéis informativos ao indispensável. Neste sentido, complementou-se a criação de um website com a informação detalhada sobre a fauna e a flora e jogos de descoberta das espécies ao longo do parque. Este website, para além de permitir a redução da informação física e da pegada ecológica, promove também a expansão do parque para além dos seus limites físicos.
A sustentabilidade da intervenção concretiza-se na seleção fundamental das ações construtivas, no respeito pela morfologia do terreno, na valorização das preexistências, na seleção dos materiais naturais, na utilização dos meios digitais e na preservação e valorização da natureza.
No final, este projeto reflete mais uma tentativa para que a arquitetura não seja reduzida ao ato construtivo, mas seja o esforço de harmonização entre o artifício e o natural, e que desta intimidade se manifestem as experiências sensoriais e um renovado espírito do lugar.
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Projeto
Parque Botânico e Fluvial do Rio Paiva – Cinfães
Localização
Lugar da Alagoa, freguesia de Souselo, município de Cinfães, Portugal
Cliente
Município de Cinfães
Arquitectura
PARADOXO Arquitectura
Arquitectos autores
Diogo Rego, Joaquim Barroso, Pedro Ricardo
Arquitectos colaboradores
Raúl Sousa, Quintino Gonçalves
Paisagismo
Vítor Monteiro
Engenharia
FLEXÃO
Construção Civil
WSE Construction
Fotografias
Alexander Bogorodskiy
Área do terreno
36240 m2
Área de implantação
40 m2
Área de construção
76 m2
Datas de projeto
2018-2021
Datas de construção
2021-2023