Pátio em Arronches

Pátio em Arronches – No coração de uma pequena vila fortificada na região do Alentejo, uma casa com origens que remontam ao séc. XVI surge como alvo de intervenção. Por este edifício passam inúmeras e distintas ocupações e histórias, tornando-o numa promenade de herança rural, num arquivo de momentos de tradição arquitetónica forçosa e devidamente preservados.

No entanto, é no espaço negativo que resulta de uma colaboração entre a casa e os seus vizinhos que a intervenção se focaliza, no pátio. Neste espaço, a arquitetura desmaterializa-se e funde-se com o lugar. O chão relata as humildes utilizações precedentes, as paredes materializam-se nas oliveiras e telhas degradadas dos vizinhos e o teto torna-se no céu azul característico do Alentejo.

É esta a premissa que se pretende transpor para a proposta, a enfatização do vazio pelo desenho dos limites. Assim, cada parede pretende gerar uma função que contribua para o usufruto deste espaço enquanto um lugar privado de tranquilidade.

A barreira com maior impacto no pátio, pela sua dimensão e consequente criação de sombra, alberga uma bancada que desenha um espaço familiar de estar, refeição e repouso. Quase como numa transição radial, o extremo contíguo a esta bancada traça um canteiro em brita de pedras locais, um momento de relação com água, pela presença de um duche bem como pela função simultânea de recolha das águas de todo o espaço.

No extremo oposto, no topo mais soalheiro do pátio, o uso adaptado das pré-existências gera um tanque de água e um local para os serviços. Este instante revela, por um lado, uma total relação e exposição para com o céu e a envolvente urbana modesta do Alentejo e, por outro, uma intimidade que contribui para a sensação do que é privado e nosso. Nos restantes limites, pontos de contacto direto com a fachada da casa, dois canteiros em relva e plantações típicas da região participam na definição do desenho do vazio. Pretende-se que cada limite acomode uma contribuição a fim de se atingir, neste espaço, uma plena e singular relação com os elementos.

Assim, num verdadeiro apreço por toda a herança que é característica desta construção, a proposta pretende participar num novo uso, um lugar de congregação em que o tempo não existe, apenas a serenidade, o campo e a família.