Este apartamento faz parte do plano base para os Olivais Sul desenvolvido na década de 60 do século passado por vários arquitectos integrados no Gabinete Técnico de Habitação. Esta década ficou marcada pela reflexão acerca da arquitectura doméstica – a habitação aliada a preocupações sociais no que diz respeito a condições de habitabilidade – desenvolveram-se alterações ao nível da estrutura familiar potenciadas pelo avanço social e pela conquista da mulher fora do espaço da casa. Este apartamento reflectia, portanto, a simplificação e racionalização dos espaços da casa, a sua assimilação e a redução ao mínimo das zonas de transição, a relação de proximidade entre a cozinha e a sala, e a separação clara entre a zona social e a zona mais privada da habitação.
A habitação encontrava-se em mau estado de conservação, com materiais muito pobres de uma intervenção mais recente que cobriu a pré-existência. Foi necessário remover essa casca para descobrir os materiais originais que se escondiam sob as camadas adicionadas ao longo dos anos cujo aproveitamento foi totalmente inviabilizado pela má qualidade das intervenções levadas a cabo.
O programa da habitação manteve-se, na sua generalidade, optando-se pela abertura total da cozinha para a sala sem que se perdesse uma diferenciação marcada dos dois espaços, repensou-se a instalação sanitária, desenharam-se os quartos, introduziu-se um grande roupeiro desenhado à medida das necessidades do cliente e uma zona pet friendly que se fundisse visualmente com o restante ambiente e não entrasse em conflito com as soluções espaciais encontradas – dedicada a receber uma zona de refeição e uma caixa de areia para a gata da casa.
Era do nosso maior interesse potenciar a relação interior-exterior e tirar partido dos jardins verdes típicos desta zona da cidade, através da substituição das caixilharias por outras com mais área de vidro intensificou-se essa relação.
No que diz respeito à materialidade concentrámo-nos em recuperar a memória da habitação através da aplicação de taco em espinha – conforme as evidências encontradas aquando do processo de demolição. Optou-se igualmente pela aplicação de pedra lioz, a pedra utilizada nas zonas comuns do prédio, na zona da cozinha, instalação sanitária e cantarias dos vãos exteriores.
O grande foco deste projecto passou, não só, por potenciar a funcionalidade dos espaços da habitação, como intensificar o diálogo entre o novo e o que antigo, a busca pela memória do espaço e do lugar directamente integrado com as necessidades da vivência actual e com o espaço envolvente.
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Projecto
Praça de Bilene
Localização
Lisboa, Portugal
Arquitetura
Fotografia
Nuno Almendra
Área total construída
55m²
Ano de conclusão da obra
2019