Refúgio em Coura

Refúgio em Coura – As novas construções em Paredes de Coura começam por ser um apoio a uma casa existente: um corpo deitado, outro ao alto, de proporções semelhantes. Não pretendem ser uma casa arrumada num canto da paisagem, onde se deixa estar. Contudo, podem satisfazer as necessidades básicas, como descansar e escrever um livro num mirante em forma de torre, e ali ficar. A sua construção é reduzida ao elementar, ao bloco de betão, que é unidade, escala e onde tudo se faz, na sua na paisagem, multiplicação.

As portas são em madeira e o interior fica sem revestimento. Aqui reside a simplicidade que recria o silêncio.
Um tanque de água em betão, rude, é utilizado para funcionar como uma piscina integrada num socalco, onde o transbordo recria a imagem de uma bica de água.

Tudo é reduzido ao essencial para se integrar naturalmente.

O sistema construtivo é o do princípio de alvenaria de pedra maciça, mas neste caso utilizámos o bloco de betão térmico.
A regra do corpo alto foi uma medida, a de 3.5m x3.5m, e a altura definida pelo número de blocos e em proporção marcada no local. O corpo baixo tem a proporção, em planta, do rectângulo de ouro.

A unidade de medida foi a dimensão do bloco.
Para a laje utilizamos o sistema de vigotas com abobadilhas cerâmicas e camada de betão de compressão. A laje de cobertura no mesmo sistema, com isolamento e camada de betão, inclinada, devido á forte pluviosidade da zona.
O exterior não é impermeabilizado para permitir o envelhecimento natural dos blocos que, ao adquirirem uma patine, ficam em pouco tempo diluídos na paisagem.
A janela do corpo vertical é redonda por vários motivos mas também porque quebra a regra. Na piscina, a métrica é dada pela régua de pinho com 11cm de largura, utilizada na cofragem.

Trabalhamos o erro, ou seja, a cedência da régua no seu conjunto, no momento da betonagem, para ter sombras e para imprimir os veios da madeira no betão.
A paisagem estava perfeita aos nossos olhos antes de fazer esta piscina. Simulámos a implantação, abrimos o buraco e ali ficou nos dois anos de pandemia. Quando saímos encontramo-nos lá, em Paredes de Coura, para decidir o porquê daquele tanque ser especial para nós.