Uma casa sem sala, com muitos quartos e compartimentos, alguns corredores, anexos de anexos, mas sem um espaço de estar.
Entre os espaços sobrantes desta soma de volumes, o pátio – única implantação possível-, chegou-se à frente para ser sacrificado.
Um plano horizontal e dois volumes negros.
A construção deveria ser faseada para não interromper a vida quotidiana da casa, dando-se início aos trabalhos pelo exterior. Deste modo, o projecto surge com a ideia de posicionar uma laje de betão aparente a sustentar a cobertura existente, em tensão com a galeria de circulação à cota superior. Para solucionar o problema de ventilação e iluminação, um grande lanternim revestido a soletos de ardosia tradicionais, segue a referência da velha cozinha vernacular que se implanta na extremidade oposta do terreno.
Apos a execução da laje em betão e consequentes paredes estruturais, a parede que antes confinava o estreito espaço de estar foi demolida, atingindo-se toda a amplitude da relação entre o novo espaço e o outrora corredor.
Espacialmente, entramos com um pé direito de 2m, transitando para um outro ligeiramente mais alto – apenas o suficiente para acomodar o dono de obra, alto! – e passamos pelo vazio do lanternim a 4 m de altura, iluminando o espaço interior e libertando visualmente o núcleo.
O pavimento existente manteve-se, tal como a viga estrutural que sustentava a cobertura inclinada do telhado.
No exterior, o ladrilho de ardósia recupera o tom negro do lanternim e do trabalho da pedra negra existente nas construções da região, anulando a diferença de cota entre interior e exterior, ao nivelar o pavimento pela estante baixa que compõe o remate inferior da caixilharia de ferro forjado.
No interior, o cinza do betão contrasta com o negro da pedra e o laranja do pavimento cerâmico; o plano branco é o alçado que contêm a boca do recuperador de calor, sendo joelho de viragem entre o novo e o existente.
Onde um dia existiram corredores, um espaço intimista apareceu.
Arquitetos
