Tendo como ponto de partida uma sapataria construída no final dos anos 90, esta nova loja -que serve um mercado-alvo muito específico (e exigente) com uma gama alargada de produtos- implicou um desenho capaz de resultar numa grande flexibilidade na apresentação, gerar um espaço com uma imagem forte, reconhecível e reproduzível, e fazendo-o com custos muito controlados.
Demoliram-se os tectos falsos pré-existentes em gesso cartonado, removeu-se o papel de parede e, levantando o degradado pavimento flutuante, revelou-se um piso de betão afagado em óptimo estado. Uma coluna em betão aparente escondia-se detrás de quatro espelhos de chão a tecto.
Reverter o espaço ao seu estado mais elementar expôs as suas características mais fortes: um redescoberto pé-direito e uma transparência notável para a rua.
Para que se atingissem os seus objectivos, a aproximação ao projecto foi pragmática, baseada num gesto simples capaz de organizar o espaço na sua totalidade e recorrendo a soluções económicas e eficientes, dispensando acabamentos ou manutenção dispendiosos.
O desenho resultante constitui um tributo ao valor dos materiais tal como eles são: à sua franqueza, à sua imagem natural e às suas qualidades intrínsecas.
As paredes periféricas, infraestruturas expostas e tectos foram pintados em preto, remetendo a sua presença para um segundo plano.
Uma grande superfície em forma de “U” acolhe os visitantes, servindo como expositor para os produtos e, através da sua desconstrução, desenhando o balcão da loja.
As placas de aglomerado de madeira e cimento são perfuradas num padrão que permite que a área de exposição de produtos seja infinitamente reconfigurada por pinos de madeira -servindo tanto como prateleiras como cabides. Os cortes feitos às placas são mínimos e foram planeados para eliminar desperdícios.
Estas placas são suportadas por uma estrutura de aço galvanizado que reforça a forma em “U”, retirando ênfase ao perímetro irregular da loja que emerge detrás.
A geometria deste plano relaciona-se com as paredes periféricas de forma a permitir desenhar um vestiário, arrumos e espaços de trabalho nos espaços sobrantes entre plano e paredes.
Os quatro expositores suspensos, pendurados por cabos de aço ao longo de uma das frentes de vidro da loja, são construídos com os mesmos perfis de aço galvanizado e placas de aglomerado de madeira e cimento utilizados antes.
Toda a loja se compõe de quatro materiais no seu estado puro: o betão pré-existente, as placas de aglomerado de madeira e cimento, aço galvanizado e madeira.
Com um desenho de grande simplicidade produziu-se um espaço de grande riqueza e complexidade. Embora cada parte possa parecer austera quando encarada individualmente, o seu conjunto resulta num lugar extremamente convidativo, acolhedor e acabado, definido pelas qualidades generosas dos materiais expostos, pelos detalhes cuidadosamente construídos, pela sua magnífica transparência e por uma iluminação extremamente criteriosa.
NOME DO PROJETO
The Caveman
ARQUITETURA
Tiago do Vale Arquitectos
EQUIPA DE PROJETO
Tiago do Vale, Maria João Araújo, com Adele Pinna, Camille Martin
ANO DE PROJETO
2016-2017
PROGRAMA
Comercial
LOCALIZAÇÃO
Ponte de Lima, Portugal
CLIENTE
The Caveman
CONSTRUÇÃO
ARU, Arquitectura e Reabilitação Urbana
ANO DE CONSTRUÇÃO
2017
ÁREA DE CONSTRUÇÃO
62 m2
MOBILIÁRIO RETRO
Vintage Alternative Store
FOTOGRAFIA
João Morgado