O novo complexo habitacional surge no local do antigo Hotel Estoril-Sol, um edifício dos anos 1960 com 20 pisos que foi demolido para dar lugar à nova construção.
Pela sua grande volumetria e visibilidade na frente marítima, o complexo estabelece novas relações com a sua envolvente territorial, reformulando e qualificando esta importante entrada da Vila de Cascais.
Os edifícios de 15 pisos assentam sobre uma plataforma comum que alberga acessos, serviços e zonas de lazer. Os seus 110 apartamentos destacam-se pela grande variação tipológica e cuidadosa pormenorização.
“O projecto surgiu-me, desde logo, como muito complexo. Inserido na boca do Vale da Ribeira da Castelhana, que é um local muito curioso, porque gera um microclima. A relação do mar com o vale era o grande desafio, mesmo numa perspectiva histórica. Na segunda metade do século XIX, a Casa de Palmela comprou aqueles terrenos, com cerca de um quilómetro de profundidade. Aí se mandou construir uma casa, um palácio muito interessante sob o ponto de vista arquitectónico, desenhado por um arquitecto inglês da escola de William Morris. A partir daquela casa, pegam no terreno por ali acima e dão origem ao Parque Palmela, uma unidade de grande riqueza natural, perpendicular à costa, que subsiste até à chegada do caminho-de-ferro. É este que vem cortar a relação entre o palácio e o Vale. Esta ruptura é reforçada mais tarde com a avenida Marginal, já no tempo do Estado Novo. A relação entre o mar e a Falésia foi progressivamente cortada, a clivagem aumentada.
Devido ao processo galopante de urbanização, o Parque vai ficando confinado ao vale. É neste contexto que surge o Hotel Estoril-Sol, um edifício historicamente com algum interesse, mas com grandes problemas de implantação, por causa da sua relação com a Falésia. No fundo, acabou por criar uma espécie de tampão compacto visual. A minha questão era como gerir aquela área sem criar um tampão. Perguntei-me: o que acontece quando eu tirar o Hotel? A comparação é semelhante à extracção de um dente. O cenário é atemorizador. Fica a Falésia em desequilíbrio, completamente betonada.
O nosso projecto passou por duas condições fundamentais. A primeira pode descrever-se deste modo: tratar a cicatriz, dar uma inclinação mais suave à Falésia, girando-a para o Vale. Ao mesmo tempo replantar toda esta frente de verde, duplicando a frente de coberto vegetal para o mar.
A segunda questão: trabalhar o conjunto do Estoril-Sol Residence como uma espécie de grande escultura urbana à escala da topografia do vale. É um todo edificado que assume claramente a diferença entre a cota do mar e a cota alta do Vale, e que é modelado com movimento e aberturas suficientemente grandes para se interpenetrarem com aquela superfície verde do Parque, que se pode ver desde Cascais, desde o mar, como aumenta. Procurei terminar com a ideia de tampão, de torre. Regenerando o tecido da Falésia, o projecto tem quase mais uma dimensão paisagística, geográfica, que arquitectural. Dialogar com esta grande unidade entre a Falésia, o Vale e a Natureza, articulando-a como uma Escultura frente ao mar foi o desafio que encarei.
No contexto da minha obra trata-se de um projecto apaixonante, com o factor aliciante de se inserir no contexto urbano de Cascais, com toda a sua riqueza histórica e patrimonial, no âmbito de uma linha costeira de grande projecção internacional. Um desafio ao qual não resisti.”
Estoril-Sol Residence
por Gonçalo Byrne
Dono de obra
Estoril-Sol, Investimentos hoteleiros, S.A.
Localização
Portugal
Datas
2004
Início e Conclusão da Empreitada
Março 2007 a Agosto 2010
Área de Construção
28.800m2 acima do solo
26.000 m2 abaixo do solo
Projeto de Arquitetura
Gonçalo Byrne Arquitectos, Lda. – Arqt. Gonçalo Byrne
Coordenação do Projeto
Rolf Heinemann
2004-2005 Estudo Prévio
Rolf Heinemann
Angela Sabatelli
André Rodrigues
Eduardo Marvão
Gaia Patti
Marco Buinhas
2005-2006 Projeto Base
Coordenação
Rolf Heinemann
Colaboradores
Angela Sabatelli
André Rodrigues
Eduardo Marvão
Gaia Patti
Marco Buinhas
2006-2007 Projeto de Execução
Coordenação
Rolf Heinemann
Colaboradores
Ana Conceição
Carla Vieira
Catarina Viegas de Sousa
Jaime Vilalta y Nogueira
Joana Moraes Sarmento
Joana Varela Almeida Correia
Jone Moragues Olabarria
Kattalin Aurtenetxe
Leonor RaposoMiguel Lira Fernandes
Nuno Birne
Nuno Fideles
Nuno Marques
Patrícia Chorão Ramalho
Patrícia Caldeira
Pedro Soares
Rita Mendes da Graça
Rodrigo Germano
Telmo Cruz
Sandra Furtado
Sara Godinho
Sofia Torres Perreira
Susana Villares López
2007-2010 Assistência Técnica
Coordenação
Rolf Heinemann
Colaboradores
Ana Martins
Gilta Koch
Hugo Monica
Mário Freire
Tiago Girão
2004-2006 Modelos Tridimensionais – Maquetas
Coordenação
João Pedro Bicho
Colaboradores
Mónica Mendonça
Nuno Pimenta
Roberto Sampaio
2010 Elementos para Publicação
Coordenação
Rita Mendes da Graça
Colaboradores
Inês Nunes
Tiago Girão
Medições e Orçamento
Porfírio Ferreira
Projeto de Arquitetura Paisagística
GAP – GABINETE DE ARQUITECTURA PAISAGISTA
Francisco Caldeira Cabral
Elsa Matos Severino
Projeto de Especialidades
AFACONSULT – Porto
Coordenação do Projeto
Engº Rui Furtado
Engº Filipe Arteiro
Engª Joana Neves Silva
Projeto de Fundações e Estruturas
AFACONSULT
Eng. Rui Furtado
Engº Tiago Alves
Projeto de Instalações e Infraestruturas Hidráulicas
AFACONSULT
Eng. Paulo Silva
Projeto de Instalações e Infraestruturas de Gás
AFACONSULT
Eng. Paulo Silva
Projeto de Instalações e Infraestruturas Elétricas
AFACONSULT
Eng. Raul Serafim
Projeto Luminotécnico
AFACONSULT
Eng. Raul Serafim
Projeto de Instalações Mecânicas
AFACONSULT
Eng. Isabel Sarmento
Projeto de Arruamentos
AFACONSULT
Eng. João Burmester
Projeto de Acústica
AFACONSULT
Eng. Joana Neves da Silva
Projeto de Geotecnia
AFACONSULT
Eng. Filipe Afonso
Projeto de Projeto de Demolições do Hotel Estoril-Sol
AFACONSULT
Eng. Tiago Alves
Empreiteiro
SOMAGUE – Engenharia
EDIFER – Construções
Fiscalização
ENGEXPOR – Consultores de Engenharia S.A.
Fotografia
João Morgado – Fotografia de Arquitectura