Um Centro Regional de Sangue é essencialmente um edifício laboratorial de grande complexidade, onde o sangue doado é dividido nos seus três componentes e transformado para fins medicinais.
Sendo o 2º Centro que desenhámos (o 1º foi no Porto), reflecte uma maior tranquilidade e acerto no tratamento da complexa parafernálea técnica própria destes edifícios. Esse entendimento trouxe-nos, nesta segunda oportunidade, um maior sentimento de liberdade.
O terreno da sua implantação é de uma beleza que lembra paisagens mais comuns no norte da Europa. É um bosque cerrado onde os pinheiros distam entre si dois a três metros apenas e atingem alturas próximas dos 25 metros. No interior desta mata domina a penumbra. O céu descobre-se pontualmente, através dos poucos buracos existentes na “tela“ verde formada pela sobreposição das copas das árvores.
Apesar de existirem áreas urbanizadas relativamente perto, há uma forte sensação de isolamento, como se tivéssemos atravessado uma espécie de filtro. Este terreno situa-se sobre a linha ondulante de festo de um monte, para subitamente se precipitar numa encosta de pendente muito acentuada.
Um edifício neste local parece sempre “estar a mais“. É uma perturbação no equilíbrio desta paisagem.
A concepção do edifício reflecte uma clara vontade de assumir o carácter “deslocado“, estranho e inesperado. Trata-se de um grande corpo cinzento, integralmente forrado a zinco, que, do local, regista apenas uma reacção à ondulação do terreno, acompanhando com a forma a sinuosidade da topografia.
As entradas no edifício, bem como todas as aberturas, janelas ou clarabóias, são como sulcos ou saliências que sublinham a tensão resultante do volume dobrado: no lado convexo projectam-se para fora; no lado côncavo são complanares com o corpo do edifício. Em ambos os casos revelam o interior, quente e luminoso.
No desenho dos espaços interiores, assumiu-se o fascínio pela necessidade de espaços lisos e anti-sépticos, mas onde se trata de uma interpretação estética radicalizada, de obsessões meramente funcionais, que encontrámos em laboratórios que visitámos ao longo do projecto.
Projeto
Centro Regional de Sangue de Coimbra
Dono de Obra
Instituto Português do Sangue
Localização
Covões, Coimbra
Concurso
2001 – 1º Prémio
Arquitetura
ARX Portugal
Arquitetos
José Mateus, Nuno Mateus
Colaboradores
Paulo Rocha, Stefano Riva,Marco Roque Antunes, Nuno Grancho, Tiago Santos, Andreia Tomé, Tânia Pedro, Clara Martins, Pedro Sousa, Alain Gameiro
Assistência Técnica de Obra
Gonçalo Azevedo
Arquitetura Paisagista
PROAP, Estudos e Projectos de Arquitectura Paisagista Lda.
Fundações e Estruturas
TAL PROJECTO, Projectos, Estudos e Serviços de Engenharia Lda.
Instalações e Equipamentos Eléctricos e de Telecomunicações
AT, Serviços de Engenharia Electrontécnica e Electrónica Lda.
Instalações e Equipamentos de Águas e Esgotos
AQUADOMUS, Consultores Lda.
Instalações e Equipamentos Mecânicos
PEN, Projectos de Engenharia Lda.
Segurança Integrada
AT, Serviços de Engenharia Electrotécnica e Electrónica Lda
Ano do Projecto
2002 – 2003
Ano da Obra
2005 – 2007
Área
4.100 m2
Fotografias
Fernando Guerra | FG+SG