Centro Sócio-Cultural da Costa Nova

Categorias: Museus

O terreno de implantação do Centro Sócio-Cultural da Costa Nova localiza-se na frente marítima da Costa Nova, em Ílhavo, sobre as dunas que limitam a praia e a Avenida da Nossa Senhora da Saúde que lhe dá serventia. O lado Nascente desta rua é integralmente construído por edifícios destinados maioritariamente a habitação, com alturas entre dois e três pisos.

À cota da Avenida não é possível ver o mar. Contudo, pressente-se a sua presença para lá da duna. Existe finalmente um extenso conjunto de caminhos em estrados de madeira sobreelevados que percorrem as dunas e fazem a ligação entre o aglomerado urbano e a praia.

O novo edifício propõe, neste contexto, assumir-se como uma peça de remate, com a sua polivalência funcional pública e presença simbólica. Trata-se de acomodar o novo posto de saúde, um centro social, sala de espectáculos e exposições. Procura-se que a intervenção se caracterize por uma abordagem fundamentada em quatro tópicos fundamentais:

1. A tradição construtiva dos palheiros
2. A pedagogia da construção sobre a duna
3. O edifício-paisagem, percurso de acesso visual ao mar.
4. A estrutura fundiária rural como matriz morfológica

A tipologia de construção e de urbanidade original da Costa Nova constitui uma das principais premissas conceptuais do projecto, que procura reinterpretar numa abordagem claramente contemporânea e de carácter público e simbólico, o modo de olhar para o lugar e construir, ancestral e característico da Costa Nova.

Nesse sentido propõe-se que toda a construção seja feita em madeira, assente numa rede semienterrada de fundações em betão armado, de forma a permitir estabilizar o edifício que flutuará sobre a duna, como as construções dos palheiros originais.

O edifício assumirá na sua génese uma atitude relativamente próxima às intervenções denominadas por “land art” (edifício-paisagem), assumindo a sua natureza pública, de imagem referencial e simbólica. Esta estratégia conceptual procura também tirar partido da implantação do edifício numa cova procurando, por contraposição, construir uma ligação fluida à cobertura, a partir da qual podemos ter uma ampla vista sobre o mar quando se subir até ao extremo poente. O passeio prolonga-se ainda pelo coração do edifício, rompendo uma praça pública em madeira, como um adro, que conduz o visitante ao seu interior.

O carácter topográfico do edifício e o facto de toda a cobertura ser percorrível, contribui para reforçar o seu carácter público, pois a sua relação com o terreno e o mar proporcionará uma experiência nova aos habitantes e visitantes da Costa Nova, já que nos dias de hoje a relação visual com a água desde os espaços públicos do aglomerado urbano se faz essencialmente com a ria e não com o mar.

A região envolvente da ria de Aveiro e Ílhavo tem uma estrutura fundiária muito peculiar, pelos lotes estreitos e compridos, fruto da necessidade de acesso através das vias de serventia e de gerações de partilhas. Essa característica confere à localidade um carácter muito particular com visível impacto no património edificado que se veio a tornar notável desta região.

O edifício procura responder a essa característica, apresentando-se separado em 3 corpos longitudinais particularizados no sentido do aglomerado urbano, com diferentes acabamentos na cobertura. Esta condição, para além de limitar as diferentes zonas de acesso pedonal, permite estender a estrutura fundiária da Costa Nova até ao edifício, reforçando a ligação deste ao território pré-existente.

O edifício que agora se propõe pretende contribuir para uma reflexão sobre a evolução da Costa Nova e sobre o carácter das construções do homem neste contexto ao longo do tempo. O Lugar, o Homem e o Tempo.

Sendo um edifício actual, por um lado, e de utilização pública e de grande escala por outro, constata-se que a tipologia morfológica do ancestral palheiro não parece adequada. Mas o material e as técnicas construtivas tradicionais podem seguramente configurar novos usos e tempos.

Adoptou-se assim uma estratégia geral construtiva em madeira, baseada numa estrutura tridimensional de pilares e vigas de madeira lamelada, com um forro exterior monocromático de madeira, pregado na horizontal, protegido com óleos naturais como nos palheiros originais. Todo o interior será igualmente construído em madeira, numa coerência lógica com o sistema construtivo geral, adoptando uma tectónica de teor intemporal que evoca a memória de um fazer familiar e distante.

Pretende-se que toda a estrutura e revestimentos fiquem aparentes, como nos barcos e palheiros originais de madeira, contribuindo para que, como costumava ser, o edifício tenha uma forte identidade plástica e construtiva, e não tanto “decorativa”, que resulta directamente do modo de fazer.

O edifício, que por fora se nos apresentará entre uma forma de “land art” e a construção de um navio invertido, apresentará uma forte dicotomia entre um exterior mais tosco e monolítico e um interior delicado e leve (branco).

As transições entre interior e exterior, quer nas fachadas, quer nas palas que sombreiam as fachadas em vidro, serão os momentos de maior tensão entre a arquitectura e a estrutura, pois é nestas zonas em que o edifício mais se particulariza relativamente a uma lógica estrutural e construtiva essencialmente repetitiva.

Procuramos também que a cobertura deste edifício seja na sua maioria visitável, para que a instalação de uma cafetaria e a rampa do auditório constituam pontos de passagem e de paragem obrigatórios numa qualquer visita pela Costa Nova, permitindo o contacto visual com o mar. A cobertura será pavimentada em madeira e terá também algumas zonas em areão, para que a praia e a duna se fundam com o edifício, na procura de uma construção natural.

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FICHA TÉCNICA

 

Projeto

Centro Sócio-Cultural da Costa Nova

 

Localização

Costa Nova, Aveiro, Portugal

 

Dono de Obra
Câmara Municipal de Ílhavo

 

Arquitetura

ARX Portugal

 

Arquitetos

José Mateus

Nuno Mateus

 

Colaboradores
João Dantas, Ricardo Guerreiro, Sofia RAposo, Emanuel Rebelo, Fábio Cortês, Filipe Cardoso, Bruno Martins, Fábio Rosado, Sara Nieto, Héctor Bajo, Baptiste Fleury, Ana Fontes, Luís Marques, Joana Pedro

Demolições, Fundações, Contenções, Estruturas e Arruamentos
SAFRE, Estudos e Projectos de Engenharia, Lda.

 

Instalações Técnicas e Equipamentos Especiais

PEN, Engenharia

 

Águas e Esgotos
António Paiva Fernandes

 

Área

1420 m2

 

Ano de projecto
2011

 

Ano da Obra
2014 – 2015

 

Fotografias
Fernando Guerra | FG+SG

 

 

FOTOGRAFADO POR
Galeria
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