A casa está construída no Norte de Portugal, numa povoação rural que se estabeleceu no sopé do monte e cresceu em direcção à planície, que é usada para lavradio e se prolonga até ao mar.
O terreno está separado de uma capela por um caminho e encontra-se a uma cota inferior. É comprido (aproximadamente 60 X 18m) e de pendente suave. A capela está assente num embasamento de muros em granito com entrada voltada a poente, e impõe-se no lugar. A sua presença teve influência no projeto, nomeadamente no que se refere ao desenho do volume, à sua implantação no espaço e à definição dos pormenores construtivos. A casa procurou não perturbar a harmonia deste espaço religioso. Ao mesmo tempo não quis ser submissa à sua presença.
Uma segunda intenção do projeto foi respeitar a topografia natural do terreno. Para a cumprir, o edifício adaptou-se às cotas existentes através de meios pisos, o que permitiu uma relação direta com o exterior no lado Sul e Poente da casa. Rentabilizou-se o espaço útil com a colocação da escada ao centro para menorizar as áreas de circulação e promover o percurso que culmina no terraço da cobertura – o quinto alçado – onde transparece o desfasamento dos pisos através da organização volumétrica. Esta associação de elementos espaciais arrasta consigo – analisando à posteriori – reminiscências ‘Loosianas’.
Quando as portadas estão encerradas, a fachada é a negação de si, é uma anti-fachada. Anula um interior, sugerindo apenas matéria. Transformar-se-ia numa escultura abstratas se as duas gárgulas em cobre não denunciassem uma preocupação funcional. O exagero ornamental dessas gárgulas contrasta com a secura da fachada.
Quando se abrem, as portadas revelam um interior com diferentes materialidades que se inspira na arquitetura vernacular. As portadas do alçado Sul (voltado para a capela) invocam a talha dourada e lembram, também de uma forma abstrata, as pinturas religiosas medievais em tríptico. As caixilharias são de madeira, assim como o rodapé́ do piso de entrada, e ambos estão pintados com tonalidades utilizadas em tempos idos. O rodapé́ tem uma liberdade que lhe permite vaguear pelo espaço, assumindo um carácter tão plástico como funcional. Os pavimentos do piso térreo são em marmorite com juntas em latão e os restantes pisos em soalho de madeira com junta aberta. As portas interiores não interrompem o plano da parede, escolhem um dos lados e encostam-se.
Projeto
Casa/House
Localização
Afife – Portugal
Autor
Guilherme Machado Vaz
Equipa
Principais Arquitetos
Guilherme Machado Vaz | arquiteto
Benedita Santos | arquiteto
Filme
Building Pictures
Ano do Projeto
2018
Fotografia
José Campos
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